sexta-feira, 27 de abril de 2018

Crítica: Tudo Que Quero | Audaciosamente Indo Onde Nenhuma Autista Jamais Esteve



Wendy (Dakota Fanning, de A Vida Secreta das Abelhas) é uma jovem com Síndrome de Asperger que vive em uma instituição na cidade de San Francisco dirigida pela médica Scottie (Toni Collette, de A Hora do Espanto). Apesar do autismo, Wendy tem um emprego e consegue ser independente em vários aspectos de sua vida. Grande fã do seriado de TV Jornada nas Estrelas (1966-1969, série clássica), está a escrever um roteiro para um concurso da série organizado pelo estúdio Paramount Pictures.

Wendy tem esperanças de poder voltar a morar com sua irmã, Audrey (Alice Eve, de O Corvo), mas esta reluta porque teme que Wendy, mesmo sem intenção, possa machucar a filha recém-nascida.

Por descuido, o roteiro de Wendy não é postado no correio e ela decide ir por conta própria até Los Angeles para entregar seu roteiro pessoalmente. Ao saberem do ocorrido, Audrey, Scottie e seu filho, Sam (River Alexander, de Coquetéis e Adolescentes), vão em busca da jovem.

Em entrevista concedida ao Dr. Drauzio Varella, o respeitado neurologista Dr. José Salomão Schwartzman diz que o autismo “(...) nada mais é do que um tipo de comportamento que se caracteriza por três aspectos fundamentais. Primeiro: são crianças que parecem não tomar consciência da presença do outro como pessoa. Segundo: apresentam muita dificuldade de comunicação. (...) Terceiro: tem um padrão de comportamento muito restrito e repetitivo” (veja aqui).

O Dr. Schwartzman classifica o autismo em três graus: “Há o indivíduo portador das características citadas em grande proporção e com deficiência mental grave; o grupo com o tipo de autismo (...) com comprometimento moderado e os indivíduos com Síndrome de Asperger (...), que são autistas com linguagem e intelecto preservados”.

Deste último grupo, o Dr. Schwartzman define como os “(...) que apresentam as mesmas dificuldades que os outros, mas numa medida bem reduzida. São verbais e inteligentes. Tão inteligentes que chegam a ser confundidos com gênios, porque são imbatíveis na área do conhecimento em que se especializam. (...) Entretanto, se lhe fizermos uma pergunta simples - Quantas pessoas vivem na sua casa? -, ele se comporta como estivéssemos falando grego". 

A premissa que guia Tudo Que Quero - pessoas com problemas mentais e/ou emocionais - é bastante recorrente no cinema com filmes como Os Dois Mundos de Charly (1968), O Homem Terminal (1974), Sentimentos Que Curam (2015. Veja a crítica aqui) e, talvez o mais famoso de todos, Rain Man (1988) que, de todos essas produções listadas, é a mais semelhante ao objeto desta crítica*.

Do mesmo modo, Tudo que Quero é filme que retoma um gênero bastante popular pelos espectadores de cinema em geral: os "Road Movies" ("filmes de estrada"), no qual os protagonistas literalmente põem o pé na estrada em uma viagem que torna-se um evento transformador em suas vidas como, por exemplo, em Diários de Motocicleta (2004).

Há também uma terna e sincera homenagem ao seriado de TV e saga do cinema Jornada nas Estrelas/ Star Trek. O que começou como um programa semanal de ficção-científica, tornou-se um culto nerd e geek e transformou-se em um fenômeno cultural sem fronteiras. 

De posse dessa premissa, da retomada do gênero "Road Movie" e da homenagem a Star Trek, o veterano cineasta e roteirista Ben Lewin (O Favor, o Relógio e o Peixe Muito Grande) faz um trabalho de direção um tanto convencional, mas, ainda assim, correto e seguro, usando bem os recursos de que dispõe e sem apelar para demagogia, pieguice e sentimentalismo no sentido "veja-como-ela-sofre", embora eu ache que poderia ter sido um pouco mais incisivo ao abordar o transtorno neurológico de Wendy. Entretanto, consegue arrancar boas performances de seu elenco.

Dakota Fanning atua desde os cinco anos de idade - começou fazendo comerciais de TV. Tornou-se internacionalmente conhecida
na película Guerra dos Mundos (2005), dirigido por Steven Spielberg (The Post: A Guerra Secreta) e conseguiu fazer o mais difícil para uma atriz-mirim: continuar atuando na idade adulta. E, o melhor de tudo, atuando bem. 

Sua performance como uma portadora de Síndrome de Asperge é bastante sensível e realista e consegue reproduzir de modo convincente o comportamento típico de um portador dessa mesma síndrome - olhar parado, rotina rígida, memória fotográfica, dificuldade em expressar e lidar com os sentimentos, etc. - gerando cenas inesquecíveis como, por exemplo, quando ela demonstra aos nerds o seu conhecimento de Star Trek de modo incrível, infalível e imbatível tal como descrito pelo Dr. Schartzman.

Faço aqui um parênteses para falar um pouco sobre o seriado que tanto fascina os portadores da Síndrome de Asperger quanto os  nerds e os "normalóides".

Em sua autobiografia Eu Sou Spock (veja aqui), o ator e cineasta Leonard Nimoy (1931-2015), o eterno intérprete do vulcano mais amado do universo, disse não saber o motivo do sucesso do seriado-saga que o tornou famoso, mas especulava:

"Primeiro, Star Trek oferecia segurança para uma geração que crescera assustada com o fantasma da guerra nuclear. (...) Ao mesmo tempo, a nossa paranóia em relação à União Soviética estava em seu clímax (...).

E em meio a toda essa paranoia e terror, havia uma mensagem clara de esperança na forma de Star Trek, uma mensagem que parecia dizer 'Sim, vamos sobreviver à era atômica. Vamos fazer contato com vidas inteligentes em outros planetas e eles serão nossos amigos, e não nossos inimigos. Juntos, vamos trabalhar pelo bem comum'.

(...) A sociedade estava vivendo uma mudança muito rápida (...). E, em meio a esses tempos de incerteza, havia a tripulação de Star Trek, totalmente confiável e incorruptível; pessoas que diziam a verdade e, acima de tudo, comportavam-se eticamente, com dignidade, compaixão e inteligência".

A paixão de Wendy pela série criada pelo produtor Gene Rondenberry (1921-1991) reflete-se no seu relacionamento com a sua médica e terapeuta Scottie - com eficiente atuação de Toni Collette. Uma boa sacada do filme é deixar o espectador na dúvida sobre o verdadeiro nome da terapeuta, pois, como todo "Trekkie" (fã de Star Trek) sabe, Scottie é o apelido do engenheiro-chefe da nave estelar Enterprise, Montgomery Scott - vivido nas telas pelos atores James Doohan (1920-2005) e Simon Pegg (franquia Missão Impossível).

Curiosamente, Alice Eve trabalhou em um filme da saga: Além da Escuridão - Star Trek (2013), no qual interpretou a Dra. Carol Marcus. Sua atuação como Audrey, irmã de Wendy, é boa, mostrando que ela vai além de um rosto bonito. Já a presença de River Alexander justifica-se apenas na cena em que seu personagem explica para a mãe um dado de Star Trek. Fora isso, é perfeitamente dispensável, embora o jovem ator demonstre talento.

O roteiro de Michael Golamco (série Grim: Contos de Terror), baseado em peça de sua própria autoria, consegue ir além do mero teatro filmado e faz com que entremos na imaginação de Wendy na qual ela e pessoas ao seu redor sejam transfiguradas nos personagens de Star Trek.

Não poderia escrever este texto sem falar da bela e suave trilha sonora do brasileiro Heitor Pereira (Se Eu Ficar), que acaba por se encaixar bem à trama. Por fim, se a fotografia de Geoffrey Simpson (Menino Satélite) não é excepcional, ainda assim consegue mostrar as belezas da Califórnia, especialmente de San Francisco.

Tudo Que Quero é um filme enternecedor, com uma mensagem edificante, afirmativa e de empoderamento pois, ao contrário do que muitos pensam, pessoas com autismo ou transtornos semelhantes podem muito bem conviver em sociedade, serem trabalhadoras, úteis aos seus semelhantes, imaginativas e criativas a ponto de produzirem obras de arte que não ficam nada a dever às dos "normalóides". Como Wendy demonstra, estão audaciosamente indo onde ninguém jamais esteve.



*O personagem Raymond Babbitt de Rain Man, protagonizado por Dustin Hoffman (Kramer vs Kramer) - em uma performance que lhe valeu o Oscar de Melhor Ator -, é portador da Síndrome de Savant, também conhecida como "síndrome do sábio" ou "síndrome do idiota-prodígio". Embora tenha pontos em comum, é diferente da Síndrome de Asperger (n. do a.). 


FICHA TÉCNICA
  • Título Original: Please, Stand By
  • Direção: Ben Lewin
  • Elenco: Dakota Fanning (Wendy), Toni Collette (Scottie), ALice Eve (Audrey), River Alexander (Sam)
  • RoteiroMichael Golamco (baseado em sua peça)
  • Música: Heitor Pereira
  • Fotografia: Geoffrey Simpson
  • Duração: 93 minutos
  • Ano: 2017
  • Lançamento comercial no Brasil: 26/04/2018


          RESUMO DO FILME
A autista Wendy viaja sozinha de San Francisco a Los Angeles a fim de entregar um roteiro para um concurso sobre a série de TV Jornada nas Estrelas.

         COTAÇÃO
         ✪✪✪½

Veja aqui o trailer oficial de Tudo o Que Quero (legendado - HD):


Publicado no LinkedIn e em AdoroCinema em 27/04/2018.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Crítica: De Encontro Com a Vida | Superação a Olhos Vistos


Salia Kahawatte (Kotja Ullmann, de O Homem Mais Procurado), chamado carinhosamente de Sali por sua família e amigos, é um jovem alemão filho de um imigrante cingalês que tem um sonho para depois de tornar-se no ensino secundário: trabalhar no ramo hoteleiro. Tudo seguia de acordo com seus planos quando algo inesperado acontece: ele começa a perder a visão. 

Um exame oftalmológico revela que houve um descolamento de retina e uma cirurgia é necessária, mas o médico desengana Sali: mesmo com a cirurgia ficará com apenas 5% da visão.

Apesar deste trágico acontecimento, Sali está disposto a ir atrás de seu sonho e, sem revelar o seu problema de vista, consegue um estágio no hotel mais luxuoso de Munique. Lá, conhece e torna-se amigo do paquerador Max (Jacob Matschenz, de A Onda) e apaixona-se pela entregadora de verduras e legumes, Laura (Ana Maria Mühe, de A Condessa). 

Sali agora terá de esforçar-se para ser aprovado no estágio sem que percebam a sua vista quase inexistente. Mas, para isso, terá que enfrentar o rigoroso e arrogante gerente responsável pelo bar, Kleinschmidt (Johan von Bulow, de 13 Minutos).

Segundo o site oficial do Dr. Drauzio Varela, "Descolamento de retina é uma alteração que se carateriza pelo desprendimento dessa estrutura da superfície interna do globo ocular. (...) Os sintomas  são outros: visão turva e embaçada, sombra central ou periférica (...), flashes luminosos, "moscas volantes" (...) e, nos casos mais graves, perda total da visão" (veja aqui).

No Brasil, o caso mais famoso de descolamento da retina é o do futebolista Tostão que, devido a esse infortúnio, foi obrigado a encerrar prematuramente sua carreira com apenas 27 anos de idade.

Esse esclarecimento foi necessário para uma melhor compreensão da análise que se segue.

De alguns anos para cá, o cinema alemão passa por boa fase, com ótimas produções tais como o thriller As Mentiras dos Vencedores (2014), que questiona o papel da mídia na vida das pessoas; Ele Está de Volta (2015), comédia política que imagina como seria a volta de Adolf Hitler aos dias atuais; e o drama indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro Toni Erdmann (2016), que conta a história de um homem bem humorado que tenta aproximar-se de sua filha carrancuda e viciada em trabalho.

Baseado em uma história real, De Encontro Com a Vida confirma e dá continuidade a essa boa fase do cinema da Alemanha com esta produção recente, que, embora seja de tons românticos e cômicos, ainda assim levanta vários assuntos e questionamentos importantes.

O primeiro, obviamente, é a questão de pessoas com algum tipo de deficiência. Desde o início podemos acompanhar Sali com seus recém-adquiridos problemas de visão, as dificuldades que os mesmos trazem e a superação deles usando de recursos criativos como por exemplo, a dica de estender a mão para uma entrevista de trabalho sem que alguém perceba o seu problema.

Um dos méritos de De Encontro Com a Vida é mostrar sem melodramas ou pieguices que, se uma deficiência física e/ou mental pode trazer transtornos, não significa que pode ser um impedimento para levar-se uma vida normal, sadia e produtiva, tal como é mostrado no filme Sentimentos Que Curam (2015. Veja a crítica aqui). 

De Encontro Com a Vida, também mostra uma questão que vem sendo abordada em muitos filmes europeus, em particular no cinema francês: a vida de imigrantes, refugiados e seus descendentes como no recente Uma Temporada na França (2017. Veja aqui). Entretanto, como a premissa principal não é essa, o assunto é mostrado de modo bem menos incisivo, mas, ainda assim, podemos constatar a situação desses mesmos imigrantes e/ou refugiados desde aqueles que já estão perfeitamente estabelecidos na Alemanha como os que lutam contra as adversidades para permanecer no país, mesmo tendo qualificações para isso.

Assim como nos filmes franceses, este filme alemão tem em seu elenco atores e atrizes que são, justamente, imigrantes ou ascendentes destes e que, por isso, entendem bem essa situação. O próprio Kotja Ullmann é um deles (seu pai é da Alemanha e sua mãe da Índia). Uma cena interessante é aquela na qual Sali e Max vão a uma danceteria e, uma garota que gostou de Sali diz para a amiga que vai ficar com "o indiano" (embora o personagem seja descente de cingalês).

O cineasta Marc Rothemud tem um trabalho de direção muito bom no filme fazendo a história fluir bem, sem momentos de tédio, e tratando de modo leve, mas com seriedade, a deficiência visual, no que é ajudado pelo ótimo roteiro de Oliver Ziegenbald (Amizade) e Ruth Toma (3096 Dias de Cativeiro). Do tenso Uma Mulher contra Hitler (2005) ao suave De Encontro Com a Vida, Rothemud mostra a mesma excelência. 

Mas o ponto forte de De Encontro Com a Vida é, sem dúvida, o seu elenco. Todos os intérpretes tem experiência internacional, o que já garante a qualidade de seu trabalho. 

Apesar de jovem - 34 anos - Kotja Ullmann é um veterano nas telas grandes e pequenas, com quase 70 filmes em seu currículo e usa toda a sua experiência em sua atuação, que é muito competente, honesta e sincera, indo do dramático ao cômico e vice-versa com muita naturalidade. 

Em pé de igualdade está Jacob Matschenz. Quem o viu como um fanático fascista em A Onda e o vê agora como o engraçado "galinha" em De Encontro Com a Vida fica agradavelmente surpreso com a mesma convicção com que atua em ambos os filmes.

Ana Maria Mühe é igualmente talentosa, dá para ver isso de cara, e também é simpática. Porém, em uma das poucas falhas do filme é o de terem limitado a sua personagem, Laura, a interesse romântico de Sali. Com o talento que tem, poderia ser melhor aproveitada.

Uma outra falha para mim foi com respeito ao motivo que o pai de Sali ficou tão aborrecido com o filho após o seu infortúnio. Não ficou muito clara a razão disso e tampouco o motivo que o fez divorciar-se de sua esposa de modo tão abrupto e repentino.

É claro que não podia faltar o antipático que ninguém suporta e quase estraga tudo para os heróis do filme. E Joham von Bulow não desaponta com o seu Kleinschmidt, daqueles personagens que dá vontade de esganar (embora se redima no final).

De Encontro Com a Vida é um filme leve, descontraído, divertido, despretensioso, romântico e muito inspirador,  com uma mensagem extremamente positiva ao dizer que, apesar de obstáculos que parecem ser monumentais e até mesmo intransponíveis, vale a pena acreditar e ir atrás de seus sonhos e seguir as direções mostradas por seu coração. Quem for ao cinema não irá se arrepender e ainda irá querer rever esta maravilhosa comédia romântica da Alemanha.

FICHA TÉCNICA
  • Título Original: Mein Blind Date Mit Dem Leben
  • Direção: Marc Rothemund
  • Elenco: Kostja Ullmann (Salia Kahawatte), Jacob Matschenz (Max), Ana Maria Mühe (Laura), Johan von Bulow (Kleinschmidt)
  • RoteiroOliver Ziegenbalg, Ruth Toma
  • Música: Michael Geldreich, Jean-Christof Ritter
  • Fotografia: Bernhard Jasper
  • Duração: 111 minutos
  • Ano: 2017
  • Lançamento comercial no Brasil: 19/04/2018


RESUMO DO FILME

Em um infortúnio, Salia Kahawatte perde quase toda a sua visão, mas, ainda assim, está disposto a realizar seu sonho de trabalhar no ramo hoteleiro.

  COTAÇÃO
   ✪✪✪✪

Veja aqui o trailer oficial de De Encontro Com a Vida (legendado - HD):


Publicado no AdoroCinema e LinkedIn em 20/04/2018.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Crítica: Exorcismos e demônios | Mais suspense que horror, mas com bom sustos


Anna Elisabeth Michel, chamada carinhosamente de Anneliese (pronuncia-se “Anelise”) por familiares e amigos, era uma alemã jovem e cheia de vida como tantas outras entre o final da década de 1960 e início da de 1970. Quando tinha cerca de 16 anos, teve uma convulsão diagnosticada pelos médicos como epilepsia. Em seguida, começou a ter alucinações enquanto rezava, a andar nua e fazer as necessidades pela casa inteira e a sofrer de depressão a ponto de considerar seriamente o suicídio.

Anneliese foi internada em um hospital psiquiátrico e lá começou a tomar vários medicamentos tais como anticonvulsivantes, anti-epiléticos e antidepressivos, mas sem resultados efetivos. A depressão aumentou, assim como as alucinações – que Anneliese chamava de “faces do diabo”. Ela começou a ter aversões a cruzes e outros objetos tidos como sagrados e a ouvir vozes que diziam que ela estava condenada e iria para o inferno.

Vinda de uma família católica e muito religiosa, Anneliese solicitou à paroquia da pequena cidade de Klingenberg, onde vivia, que realizasse o ritual de exorcismo. A igreja, a príncipio, recusou o pedido, mas depois aceitou ao ver que o caso era sério. Dois padres foram designados para realizar o ritual. Durante dez meses, Anneliese foi submetida a várias sessões de exorcismo. Durante esse tempo, recusava-se a comer e, a seu pedido, os médicos foram dispensados.

Em  1 de julho de 1976, Anneliese Michel faleceu durante o sono. A autópsia revelou que a causa da morte foram desnutrição e desidratação causadas por semi-inanição ocorrida durante as sessões de exorcismo. 

Logo após o falecimento de Anneliese, os padres comunicaram o óbito às autoridades locais que abriram inquérito em seguida. Os sacerdotes, assim como os pais de Anneliese foram a julgamento acusados de homicídio por negligência médica. O caso despertou grande interesse na opinião pública alemã.

Os acusados estavam convictos que Anneliese estava realmente possuída e apresentaram fitas de áudio gravadas durante os rituais - algumas dessa gravações eram mesmo perturbadoras. Porém, a corte não as aceitou como prova e todos foram considerados culpados, mas cumpriram a pena em liberdade.

O caso de Anneliese Michel foi a inspiração para o filme O Exorcismo de Emily Rose (2005), dirigido por Scott Derrickson (Doutor Estranho) com Jennifer Carpenter (série de TV Dexter) no papel principal. O filme pegou a crítica de surpresa, que elogiou os trabalhos de Derrickson e Carpenter, fez sucesso e inaugurou um novo gênero de filme: "Terror e Tribunal".

A partir daí, começou uma "exorcismomania", com uma série de filmes nessa linha, de qualidade variada, que iam desde o ótimo Réquiem (2006, também baseado na história de Anneliese, mas com uma visão cética), até o fraco Exorcistas do Vaticano (2015), passando pela franquia O Último Exorcismo (2010), chegando até o filme brasileiro Diário de Um Exorcista - Zero (2017), surpreendente sucesso no canal Netflix.

É seguindo esse gênero de filme que Exorcismos e demônios apresenta-se ao público.

Em uma igreja da pequena cidade de Tanacu, no interior da Romênia, uma jovem gritando deitada e presa em uma cruz é levada para uma sala pelo padre Dimitru (Catalin Babliuc, de A Última Bala) e quatro freiras onde é realizado um exorcismo. Durante o ritual, a jovem morre. 

Em Nova York, a jornalista Nicole Rawlins (Sophie Cookson, da franquia Kingsman) fica a saber da história do padre e das freiras da Romênia que estão presos acusados de assassinato e pede ao editor do jornal, Philip (Jeff Rawle, de Harry Potter e o Cálice de Fogo), que também é seu tio, para ir ao local para investigar e fazer sua matéria. Philip reluta, mas acaba por concordar.

Ao chegar na Romênia, Nicole entrevists o padre Dimitru na prisão e, em seguida, o bispo Gornik (Matthew Zajac, de Um Lugar Solitário Para Morrer), que, quando soube o que acontecia em Tanacu, proibiu o padre Dimitru de continuar com o exorcismo da irmã Adelina Marinescu (Ada Lupu, de Eastern Bussiness).

Nicole vai até Tanacu para investigar o ocorrido e lá conhece o jovem padre Anton (Cornelius Ulici, de Escorpião Rei 4: Em Busca do Poder) a quem confessa que está em uma crise de fé após a morte de sua mãe. Nicole também entrevista a também freira e amiga de Adelina, irmã Vaduva (Brittany Ashworth, de A Revolução da Sra. Ratcliffe) e o irmão da falecida, Stefan (Iván González, de Perseguição Virtual). Enquanto faz estranha descobertas, é constantemente observada pelo sinistro menino Tavian (o estreante Florian Voicu).

Assim como O Exorcismo de Emily Rose, Exorcismos e Demônios também foi baseado em uma história real de um exorcismo ocorrido na cidade romena de Tanacu, mas não foi a primeira produção a abordar o assunto. Em 2012, o filme romeno Além das Montanhas, dirigido por Cristian Mungiu (4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias), também tratava do tema tendo recebido os prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Atriz - dividido entre as atrizes do filme, Cosmina Stratan (Shelley) e Cristina Flutur (Grain) - no Festival de Cannes, além de ser o candidato ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro naquele mesmo ano.

Obviamente que não há como comparar os filmes. Enquanto Além das Montanhas é um drama sério e um filme de arte, Exorcismos e demônios pretende ser um filme comercial de terror voltado para um público mais amplo - principalmente os adolescentes fãs do gênero. E é aí que derrapa na chicane.

O roteiro escrito por Chad Hayes (A Casa de Cera) e Carey W. Hayes (Terror na Antártida) está muito indeciso entre terror e suspense, pendendo mais para este. O filme até começa bem, com as investigações jornalísticas de Nicole, passando pela atração dela pelo padre Anton (estilo "quero, mas não devo"), mas não dá a devida importância ao julgamento do padre Dimitru e das freiras, o que poderia aumentar o interesse da trama ligando-o às investigações, e acaba por descambar na fantasia.

Uma outra falha do roteiro é a de mostrar a Romênia como um país agrícola, atrasado, semi-analfabeto e supersticioso, tendo apenas um pouco de civilização na capital, Bucareste. É verdade que em qualquer país, inclusive os do chamado "Primeiro Mundo", há regiões mais atrasadas em relação a outras, mas essa visão da Romênia mostrada em Exorcismos e demônios além de errada, é preconceituosa.

Um esclarecimento sobre a Romênia: devido à forte influência da então União Soviética durante o período do comunismo no país, muitas pessoas - inclusive no Brasil - acham que os romenos são um povo eslavo assim como os russos, ucranianos e poloneses. Mas, na verdade, os romenos são um povo de língua e cultura latinas, tal como aqui. O nome Romênia deriva de Roma, pois fazia parte do antigo Império Romano.

O cineasta Xavier Gens (Hitman: Assassino 47) tenta consertar as derrapadas de seus roteiristas. E até que consegue. Além de conseguir manter o interesse da platéia durante as cenas de investigação e suspense graças a um bom trabalho de direção, ainda consegue dar uns bons sustos, daqueles que mesmo quem já viu o filme sempre vai pular da cadeira ao rever as cenas. Só não consegue melhorar o final xoxo e clichê graças à genialidade do roteiro...

O elenco também ajuda a melhorar um filme que podia ter se transformado em um desastre total.

Sophie Cookson faz parte da nova geração de atores britânicos surgida nos últimos anos como seu colega em Kingsman, Taron Egerton (de Voando Alto. Veja a crítica aqui), Lily James (Orgulho e Preconceito e Zumbis. Veja aqui) e Luke Treadaway (Um Gato de Rua Chamado Bob. Veja aqui). E não é à toa que é considerada uma revelação, pois consegue dar veracidade e endireitar uma história torta com uma interpretação bastante profissional e convincente.

Britanny Ashworth está bem como a irmã Vaduva, assim como Iván González no papel de Stefan. Os demais coadjuvantes não comprometem.

Reservei este parágrafo para falar da parte romena do elenco, que se tornou uma boa surpresa. Aliás, uma coisa boa do filme é ter a oportunidade de conhecer profissionais do ainda pouco conhecido (entre nós) cinema romeno. Corneliu Ulici, Catalin Babliuc, Ada Lupu e o menino novato Florian Voicu mostraram serem muito competentes e com boas perspectivas para uma carreira internacional - que Corneliu  e Catalin já seguem. 

Curiosamente, Corneliu fez, em 2012, um filme de tema semelhante chamado Filha do Mal, no qual também interpreta um padre e que é estrelado pela brasileira Fernanda Andrade (Why Am I Doing This?). 

A fotografia de Daniel Aranyó (High School Musical 3: Ano da Formatura) é boa tanto nas cenas noturnas, sinistras e de tensão quanto ao mostrar as belas paisagens da Romênia e a não menos bela Bucareste. A música de David Julyan (A Cabana na Floresta), se não é excepcional, consegue dar o clima que o filme pede.

Exorcismos e demônios funciona mais como suspense do que como terror e perde a oportunidade de fazer um bom trabalho no gênero Terror e Tribunal, pois tem uma premissa interessante e um diretor e elenco competentes. Porém, tem bons sustos e faz a platéia ficar atenta à história.  Em resumo, entre mortos e feridos salvam-se quase todos. Eu digo "quase" porque, se os roteiristas, da próxima vez, não fizerem um roteiro melhor, correm o sério risco de serem exorcizados...


FICHA TÉCNICA
  • Título Original: The Crucifixion
  • Direção: Xavier Gens
  • Elenco: Sophie Cookson (Nicole Rawlins), Corneliu Ulici (Padre Anton), Ada Lupu (Irmã Adelina Marinescu), Brittany Ashworth (Irmã Vaduva), Catalin Babliuc (Padre Dimitru), Matthew Zajac (Bispo Gornik), Iván González (Stefan Marinescu), Jeff Rawle (Philip), Florian Voicu (Tavian)
  • RoteiroChad Hayes, Carey W. Hayes
  • Música: David Julian
  • Fotografia: Daniel Aranyó
  • Duração: 90 minutos
  • Ano: 2017
  • Lançamento comercial no Brasil: 19/04/2018

          RESUMO DO FILME

Em uma pequena comunidade no interior da Romênia, uma freira morre ao ser submetida a um ritual de exorcismo. Uma repórter em crise de fé vai até o local investigar o caso e faz espantosas descobertas.
 
COTAÇÃO
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Veja aqui o trailer oficial de Exorcismos e Demônios (legendado - HD):



Publicado no AdoroCinema e no LinkedIn em 20/04/2018.

sábado, 14 de abril de 2018

Desejo de Matar | Remake traz Bruce Willis no papel que consagrou Charles Bronson


Bruce Willis (franquia Duro de Matar) está à frente do elenco de Desejo de Matar, remake do filme de mesmo nome de 1974 dirigido por Michael Winner (Assassino a Preço Fixo) que, por sua vez, é a versão do polêmico romance Death Wish, do escritor Brian Garfield. O filme original tinha Charles Bronson (Sete Homens e Um Destino) como ator principal no papel que o consagrou.   

Paul Kersey (Willis) é um médico que vive em Chicago com a esposa, Lucy (Elisabeth Shue, de Despedida em Las Vegas), e a filha Jordan (Camila Morrone, de Never Goin' Back). Uma noite, quando Paul ainda está no trabalho, assaltantes invadem a sua residência, atiram em Jordan e Lucy, deixando a filha em coma e causando a morte da esposa. Inconformado com a morosidade e incompetência da polícia, Paul torna-se um vigilante matador e passa a caçar e executar todo bandido que cruza a sua frente.

Desejo de Matar tem a direção de Eli Roth (Bata Antes de Entrar) e a participação de Vincent D'Onofrio (Jurassic World) e Dean Norris (Tropas Estelares) no elenco.

A estreia está prevista para o próximo dia 10 de maio.

Veja aqui o trailer oficial de Desejo de Matar (dublado - HD):


sexta-feira, 13 de abril de 2018

Filmes de "Terrir" para rachar o bico na Sexta-Feira 13!


Para muitas pessoas comédia e terror são gêneros de filmes tão opostos quanto água e óleo. Porém, eles se juntaram por diversas vezes e, não raro, deram ótimos resultados. Panorama do Cinema fez uma seleção dos melhores filmes de "Terrir" (mistura de terror com rir) para você assistir e rachar o bico tanto na sexta-feira 13 quanto nos outros dias do ano.

Abbott e Costello às Voltas com Fantasmas (1948)


Chick e Wilbur (a dupla cômica Bud Abbott e Lou Costello) são funcionários de um transportadora que entregam duas caixas grandes em um museu sem saber que dentro estão os corpos do Conde Drácula (Bela Lugosi, de O Gato Preto) e do monstro de Frankenstein (Gleen Strange, de A Casa de Frankenstein). Drácula quer encontrar um cérebro para colocar na cabeça do monstro e acha que Costello é o "voluntário" ideal. Porém, um lobisomem (Lon Chaney Jr., de O Lobisomem) descobre o plano de Drácula e vai ajudar os dois amigos trapalhões.

Abbott e Costello começaram sua carreira no rádio, caracterizando-se por seus diálogos rápidos, e logo foram para o cinema tendo, inclusive, atuado com a nossa eterna Pequena Notável Carmen Miranda (de Uma Noite no Rio). Costello, a princípio, não gostou do roteiro e chegou a dizer que a sua filhinha de cinco anos escreveria algo melhor. Porém, a medida que as filmagens decorriam, ele foi entusiasmando-se e mudou de opinião.

Com a presença dos Grandes Mestres do Terror Bela Lugosi e Lon Chaney Jr. a reprisarem - ainda que de uma forma cômica - os papéis que os consagraram, Abbott e Costello às Voltas com Fantasmas foi um grande sucesso de bilheteria, e, em 2001, foi escolhido para preservação pela Biblioteca do Congresso dos EUA por ser considerado um filme culturalmente, esteticamente e historicamente significante.

Veja aqui o trecho do filme Abbott e Costello às Voltas com Fantasmas (dublado - HD):



O Corvo (1963)


No século XV o mago Dr. Erasmus Craven (Vincent Price, de Edward Mãos de Tesoura) está recluso em seu castelo há dois anos devido a morte de sua esposa, Eleonore (Hazel Court, de A Profecia III: O Conflito Final), o que deixa a sua filha, Estelle (Olive Sturgess, da série de TV Bonanza), muito triste. Um dia, aparece um corvo que, na realidade, é o Dr. Adolphus Bedlo (Peter Lorre, de 20.000 Léguas Submarinas), que foi transformado nessa ave pelo Dr. Scarabus (Boris Karloff, de Na Mira da Morte) durante um duelo de magia, quer a revanche e pede ajuda a Craven. Este recusa, mas quando Bedlo lhe diz que viu o fantasma de Eleonore no castelo de Scarabus, aceita ir. Estelle os acompanha juntamente com o filho de Bedlo, Rexford (Jack Nicholson, de As Bruxas de Eastwick).

Dirigido e produzido pelo Mestre dos Filmes B, Roger Corman (Massacre em Chicago), O Corvo faz parte de um ciclo de filmes para o cinema baseados e/ou inspirados na obra do escritor estadunidense Edgar Allan Poe (1809-1849). O roteiro d' O Corvo, de autoria de Richard Matheson (A Casa de Noite Eterna, veja matéria aqui), foi inspirado no poema homônimo de Poe que, diga-se de passagem, pouco ou nada tem a ver com a história.

O filme foi feito em apenas 15 dias e Corman conta que, apesar de terem seguido fielmente o script, haviam muitas improvisações durante as filmagens, principalmente por parte de Peter Lorre, o que deixava Boris Karloff, que tinha o hábito de preparar-se intensamente antes de iniciar um trabalho, completamente doido. Também ficaram famosas as brigas de Lorre e Jack Nicholson nos bastidores.

A presença de dois dos Grandes Mestres do Terror, Boris Karloff e Vincent Price, além de Peter Lorre (que não fazia parte do grupo, mas, pode-se dizer, tinha ligações muito próximas com este) já era uma garantia de sucesso. E não deixa de ser curioso ver o então jovem Jack Nicholson em início de carreira. O Corvo tem momentos impagáveis tais como as pomposas frases em latim ditas por Bedlo, o divertido duelo de magia entre Craven e Scarabus e a declamação do poema que dá o título ao filme feita por Price, que aliás, ficou muito famosa nos países de língua inglesa.

Para aqueles que ficaram interessados em ler O Corvo, há duas magníficas traduções em língua portuguesa dessa obra de Poe: uma feita pelo poeta português Fernando Pessoa (1888-1995) e outra pelo romancista brasileiro Machado de Assis (1839-1908).

Veja aqui o trailer original de O Corvo (original em inglês):



A Dança dos Vampiros (1967)


No coração profundo da Transilvânia, o desajeitado Professor Abronsius (Jack MacGowran, de O Exorcista) e seu assistente, o tímido Alfred (Roman Polanski, de Que?), estão à caça de vampiros.  Ao chegarem em uma estalagem, Alfred apaixona-se pela linda filha do estalajadeiro, Sarah (Sharon Tate, de O Vale das Bonecas). Uma noite, o vampiro Conde von Krolock (Ferdy Mayne, de Conan, o Destruidor) rapta Sarah e Alfred e o professor vão ao seu resgate.

O cineasta franco-polonês Roman Polanski vinha dos sucessos dos filmes Repulsa ao Sexo (1965) e Armadilha do Destino (1966) quando recebeu o convite para fazer A Dança dos Vampiros. Pela primeira vez  em sua carreira, Polanski contou com um grande orçamento, um grande estúdio, locações nos Alpes, figurino elaborado e uma coreografia própria para o filme. E não desapontou aqueles que depositaram sua confiança nele. 

A Dança dos Vampiros foi um sucesso de público e crítica. Polanski fez uma grande comédia com um visual ao mesmo tempo sinistro e estiloso e com figuras hilárias tais como o vampiro gay (Iain Quarrier, de O Muro das Maravilhas) - uma novidade para a época - e o vampiro judeu (Alfie Bass, de A Vingança da Pantera Cor-de-Rosa) contra quem as cruzes não fazem efeito.

Roman Polanski tinha pensado em Jill St. John (007 - Os Diamantes são Eternos) para o papel de Sarah. Por sugestão de um dos produtores, contratou Sharon Tate. No começo, os dois não se davam, mas, como em um conto de fadas, apaixonarem-se um pelo outro e, ao término das filmagens, casaram-se.

O sucesso d' A Dança dos Vampiros abriu as portas de Hollywood para Polanski. Seu primeiro trabalho de direção nos EUA foi o sério e um dos mais assustadores filmes de terror de sempre, O Bebê de Rosemary, em 1968, que ganhou fama de amaldiçoado quando, no ano seguinte, Sharon Tate foi brutalmente assassinada por fanáticos da seita liderada pelo tresloucado Charles Manson (1934-2017). 

Veja aqui o trailer original de A Dança dos Vampiros (original em inglês):



O Jovem Frankenstein (1974)


Frederick Frankenstein (Gene Wilder, de A Fantástica Fábrica de Chocolates), que insiste que seu sobrenome seja pronunciado como "Fronkensteen", é um médico e professor de medicina em uma universidade dos EUA e que rejeita o passado de seu avô, o Dr. Victor Frankenstein. Um dia, recebe a notícia que herdou um castelo localizado na Transilvânia e vai até lá para conhecer a propriedade. Ao chegar, é recebido pelo corcunda de olhos esbugalhados Igor (Marty Feldman, de O Pirata da Barba Amarela), que insiste que seu nome seja pronunciado como "Aigor"; conhece a sua nova assistente, Inga (Teri Garr, de Tootsie); e a governanta, Frau Blucher (Cloris Leachman, de A Última Sessão de Cinema). No castelo, Frederick encontra o diário de seu avô e decide por continuar a sua obra criando um novo monstro (Peter Boyle, de Scooby-Doo 2: Monstros a Solta).

O cineasta Mel Brooks (Que Droga de Vida) e Gene Wilder eram velhos amigos e já haviam trabalhado juntos em outros filmes tais como Primavera Para Hitler (1967) e Banzé no Oeste (1974). Quando Wilder mostrou o roteiro a Brooks, este mostrou pouco interesse. Porém, Gene tanto insistiu, que o diretor acabou por concorda em fazer, além de colaborar no roteiro.

Filmado em preto e branco e tendo utilizado os mesmos equipamentos elétricos do filme clássico de 1931, O Jovem Frankenstein é hilário do começo ao fim, misturando desde piadas ingênuas com piadas sexuais como na cena na qual o monstro preparar-se para transar com a noiva de Frederick, Elizabeth (Madeline Kahn, de Lua de Papel, engraçadíssima), e ela confere o tamanho da "ferramenta" dele.

O Jovem Frankenstein surpreendeu a crítica e foi um inesperado e enorme sucesso de público. O filme foi indicado para os Oscars de Melhor Roteiro Adaptado (Wilder e Brooks) e Melhor Som; e para os Globos de Ouro de Melhor Atriz em Comédia ou Musical (Cloris Leachman) e Atriz Coadjuvante (Madeline Kahn).

Em 2003, O Jovem Frankenstein foi escolhido para ser preservado pela Biblioteca do Congresso dos EUA por ser ter sido considerado um filme culturalmente, esteticamente e historicamente significante.

Veja o trailer original de O Jovem Frankenstein (original em inglês):





O Segredo da Múmia (1982)


Expedito Vitus (Wilson Grey, de Os Fantasmas Trapalhões) é um cientista louco que vive recluso junto com sua esposa, Gilda (Clarice Piovesan, da série de TV Kika e Xuxu); seu assistente, Rodolfo (o maestro Julio Medaglia); e seus criados Igor (Felipe Falcão, de O Escorpião Escarlate) e Regina (Regina Casé, de Que Horas Ela Volta?). Anos atrás, Expedito foi ridicularizado por seus colegas cientistas ao afirmar que havia criado o Elixir da Vida e quer provar que está certo ao utilizar-se de uma múmia do faraó Runamb (Anselmo Vasconcelos, de O Homem Nu) para seus intentos. O repórter investigador Everton Soares (Evandro Mesquita, de Menino do Rio) e a radialista Miriam (Tânia Bôscoli, de Um Trem Para as Estrelas) podem atrapalhar os planos do insano cientista.

Tendo como suas principais influências Boris Karloff e José Mojica Marins, o nosso Zé do Caixão (Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver), além de histórias em quadrinhos, filmes B e séries de TV de terror, ficção-científica e policiais, o cineasta Ivan Cardoso (Os Bons Tempos Voltaram: Vamos Gozar Outra Vez) fez de O Segredo da Múmia ao mesmo tempo uma paródia e uma singela homenagens aos seus velhos ídolos.

O Segredo da Múmia usa elementos de uma típica produção de Roger Corman tais como o horror, a fantasia, a nudez e a violência acrescentados de uma característica bem brasileira: o humor. Uma mistura que fez surgir o gênero de filme que ficou conhecido como Terrir, do qual Ivan Cardoso, além de ser o seu criador, também é mestre.

O filme também paga o devido tributo a Wilson Grey que, apesar de uma longa e prestigiosa carreira, nunca tinha sido, até então, o ator principal de um filme.

O Segredo da Múmia conquistou, merecidamente, vários prêmios: no Festival de Gramado, ganhou nas categorias de Melhor Roteiro (para Rubens Luchetti), Ator Coadjuvante (Felipe Falcão), Trilha Sonora (Júlio Medaglia e Gilberto Santeiro) e um Prêmio Especial para Wilson Grey.

No Festival de Brasília, ganhou os prêmios de Melhor Diretor, Ator e Montagem. A Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) entregou os prêmios de Melhor Ator, Cenografia e Figurino.

No exterior, foi indicado ao prêmio de Melhor Filme no Fantasporto (Portugal).

Veja aqui o trailer original de O Segredo da Múmia (original em português - HD):



A Repossuída (1990)


Há muitos anos atrás, o padre Jedediah Mayii (Leslie Nielsen, da franquia Corra, Que a Polícia Vem Aí) realizou um exorcismo para expulsar o demônio que possuía a jovem Nancy Aglet (Linda Blair, de Inocência Ultrajada). O tempo passou e um dia, enquanto assistia um programa evangélico protagonizado pelo casal Ernest (Ned Beatty, de Superman, o Filme) e Fay (Lana Schwab, de No Limite da Realidade), Nancy tem uma estranha e familiar sensação e vai para o hospital. Ao ser examinada pelo padre Luke Brophy (Anthony Starke, de A Volta dos Tomates Assassinos), este conclui que Nancy foi repossuida pelo demônio e vai pedir auxílio ao padre Jedediah, que recusa-se a ajudar. Ernest e Fay oferecem-se para realizar o ritual de expulsão espiritual com transmissão via satélite. O demônio vê a oportunidade para possuir mais almas e também para obter a revanche contra o padre Jedediah, que aceita o desafio.

Na época de seu lançamento, a crítica torceu o nariz para esta paródia - talvez um pouco tardia - do clássico O Exorcista (1973). Porém, com o passar do tempo, as críticas vem sendo revistas. A Repossuida é um filme bastante divertido com a presença do sempre engraçado Leslie Nielsen e satirizando não apenas a película que o inspirou, mas também o comercialismo excessivo de seitas evangélicas que seguem a Teologia da Prosperidade.

Sem querer fazer um jogo de palavras, mas já fazendo-o, em A Repossuida Linda Blair tem a chance de exorcizar o demônio que a atormenta desde que fez o filme que a lançou para a fama. Dá para perceber que ela está bem a vontade e curtindo pacas o trabalho. Seu entrosamento com Leslie Nielsen é simplesmente ótimo.

E para aumentar o escracho, A Repossuida teve a "honra" de ganhar o prêmio Framboesa de Ouro de Pior Canção. Diabólico, não é?

Veja aqui o trailer original de A Repossuída (original em inglês):




Todo Mundo em Pânico (2000)


Em uma pequena e tranquila cidade no interior dos EUA, a jovem Drew Decker (Carmen Electra, de Doze é Demais 2) recebe um telefonema agressivo quando, de repente, aparece um mascarado que a ataca com uma facada no seu seio cheio de silicone. A partir daí, o mascarado começa a atacar os jovens da cidade tais como o casal de namorados Cindy (Anna Faris, de Emoji: O Filme) e Bobby (Jon Abrahams, de Terapia do Amor) e o sempre chapado maconheiro Shorty (Marlon Wayans, de Nu).  

No segunda metade da década de 1990, houve um "boom" de filmes de terror inspirados principalmente pelas franquias Halloween e Sexta-Feira 13, com assassinos mascarados armados de facas e outras armas pontiagudas. Destes novos filmes destacaram-se Pânico (1996), dirigido por Wes Craven (Shocker); e Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (1997), com direção de Jim Gillespie (Venom), que geraram franquias lucrativas e de sucesso.

Essas franquias, além de filmes como O Sexto Sentido (1999) e A Bruxa de Blair (1999) foram a base desta comédia repleta de besteirol, produzida, dirigida e interpretada pelos irmãos Wayans - Keenen (direção), Marlon e Shawn (atuação e produção). No Brasil, é bastante conhecido outro dos irmãos, Damon, devido ao sucesso da série de TV Eu, a Patroa e as Crianças (2001-2005).

A crítica recebeu o filme de maneira morna, mas o público amou. Todo Mundo em Pânico fez tanto sucesso que gerou mais quatro filmes - aliás, mais do que as franquias que o inspirou.

Veja aqui o trailer original de Todo Mundo em Pânico (original em inglês):



Orgulho e Preconceito e Zumbis (2016)


Elizabeth Bennet (a inglesa Lily James, de Cinderela) e suas quatro irmãs: a doce Jane (a australiana Bella Heathcote, de Sombras da Noite), a frívola Lydia (Ellie Bamber, da série de TV Os Mosqueteiros), a infantil Kitty (Suki Waterhouse, de A Série Divergente: Insurgente) e a estudiosa Mary (Millie Brady, de Lendas do Crime), vivem com seus pais, o Sr. e a Sra. Bennet na propriedade chamada Longbourn. As irmãs Bennet são exímias praticantes de artes marciais e no manejo das armas, especialmente Elizabeth, que teve seu treinamento realizado em um templo Shao Lin, na China. Esse treinamento em lutas e armas se deve ao fato da Inglaterra estar sendo assolada por uma praga que transforma as pessoas em zumbis, de modo que as famílias britânicas, principalmente as que moram no interior como os Bennet, devem estar sempre preparadas para enfrentar os mortos-vivos.

Como toda a mãe que se preze, a Sra. Bennet deseja muito ver as suas filhas bem casadas, mesmo porque, pelas leis da época, as mulheres não tinham direito a herança, de modo que os bens do patriarca iam para o parente masculino mais próximo que, no caso dos Bennet, era o seu primo pastor, o pedante, afetado e pomposo Sr. Collins (Matt Smith, da série Doctor Who), que não se cansa de bajular sua matrona, a riquíssima e excepcional espadachim Lady Catherine de Bourgh (Lena Headey, de 300).


Um dia, a propriedade de Netherfield, próxima à dos Bennet, é adquirida pelo jovem cavalheiro Charles Bingley (Douglas Booth, da minissérie Grandes Esperanças), que logo se apaixona por Jane. Junto com ele estão a sua irmã, Caroline (a estadunidense Emma Greenwell, da série de TV Lei & Ordem: Unidade de Vítimas Especiais) e seu amigo Fitzwilliam Darcy (Sam Riley, de Control – A História de Ian Curtis), um coronel do exército inglês especializado em exterminar zumbis. Tido como orgulhoso, não é bem visto pela sociedade local, principalmente Elizabeth. Essa antipatia aumenta quando ela conhece o oficial George Wickham (Jack Houston, de Trem Noturno Para Lisboa), que acusa Darcy de prejudicá-lo em sua vida. Ele ganha a simpatia de Elizabeth e conta a ela que tem um plano para que humanos e zumbis possam viver harmoniosamente e em paz.

É claro que um filme de zumbis não poderia faltar nesta seleção. O diretor Burr Steer (17 Outra Vez) fez uma divertida adaptação do livro homônimo de Seth Grahame-Smith que, por sua vez, é uma surpreendente releitura do romance clássico Orgulho e Preconceito da escritora Jane Austen (1775-1817).

A premissa do livro de Grahame-Smith é a mesma de Austen, com a diferença dos zumbis. E quem lê o livro e depois vê o filme, chega a pensar que a história foi criada por ela ao invés dele.

Quem quiser saber mais sobre o filme pode ler a crítica que fiz quando do lançamento de Orgulho e Preconceito e Zumbis.

Veja aqui o trailer original de Orgulho e Preconceito e Zumbis (legendado - HD):