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terça-feira, 17 de março de 2020

O fusquinha Herbie em SP!


Atualizado em 06/11/2020.

Quem não conhece o fusca, um dos carros mais populares e amados do mundo? O nome "fusca" (em Portugal é chamado de "carocha") é derivado da palavra alemã Volkswagen, cuja sigla é VW, que significa literalmente "carro do povo". Criado pelo projetista e engenheiro automobilístico alemão Ferdinand Porsche, desde o início de sua produção, em 1938, o fusca conquistou corações, mentes e almas do público por seu preço acessível à classe trabalhadora, sua mecânica ao mesmo tempo robusta, simples e inovadora (o seu famoso motor refrigerado a ar marcou época) e seu design único.

A II Guerra Mundial interrompeu a produção do fusca, que foi retomada em 1948. No ano seguinte, começou a ser exportado para os EUA, onde tornou-se uma febre entre os consumidores. Os primeiros fuscas chegaram no Brasil em 1950, importados da Alemanha. A produção oficial do fusca em nosso país começou em 1959, foi interrompida em 1986, retomada em 1993 e encerrada novamente em 1996. O México continuou fabricando  o fusca até 2003, quando a produção do amado carro foi encerrada definitivamente. O fusca vendeu em todo mundo mais de 21 milhões de cópias e é, até hoje, o carro mais vendido de sempre.

O cinema, mais especificamente a Walt Disney Pictures, percebeu o potencial do simpático carinho e, em 1968, lançou o filme Se Meu Fusca Falasse (The Love Bug) com o ator Dean Jones (franquia Beethoven). Voltado para o público familiar, a crítica torceu o nariz para a premissa simples do filme, mas o público amou, principalmente seu grande astro, o fusquinha Herbie. Se Meu Fusca Falasse foi a terceira maior bilheteria do ano, perdendo apenas para o clássico 2001, Uma Odisseia no Espaço e Funny Girl - A Garota Genial.

Herbie fez tanto sucesso que apareceu em mais quatro filmes para o cinema; As Novas Aventuras do Fusca (1974), O Fusca Enamorado (1977), As Novas Diabruras do Fusca (1980) e, Herbie, Meu Fusca Turbinado (2005), com Lindsay Lohan (Meninas Malvadas) à frente do elenco. Apesar do intervalo de 25 anos entre os filmes, Herbie mostrou estar em plena forma, o que fez o filme ser um novo sucesso. 

Herbie também apareceu na televisão com a minissérie Herbie, The Love Bug (1982), novamente com Dean Jones no papel principal. Em 1997, houve um reboot de Se Meu Fusca Falasse feito para a TV, cuja história era narrada por Jones e, no papel principal, nada mais nada menos que o rei dos canastrões, Bruce Campbell (veja sua biografia aqui). Além disso, apareceu em dois games.

Neste ano da graça de 2020, Herbie pode ser visto no Brasil, mais especificamente em São Paulo. O Shopping Frei Caneca, na capital  paulista, em parceria com o Fusca Clube Brasil, iniciou em 6 de março último, a Exposição do Fusca, na qual são expostos vários modelos do fusca das décadas de 1960, 70, 80, 90, até o chamado New Beetle ou "o novo fusca".

Entre os fuscas expostos há uma réplica fiel de nosso querido Herbie, como vocês podem checar nas fotos abaixo. Quem quiser ver a Exposição do Fusca, cuja entrada é gratuita, o Shopping Frei Caneca fica Rua Frei Caneca 569, Consolação, São Paulo-SP, e funciona de segunda à sábado das 10hrs até as 22hrs e, domingos e feriados, das 14hrs até às 20 hrs. A exposição vai até o próximo dia 5 de abril.

Veja abaixo as fotos da réplica de Herbie:  











Veja aqui o trailer do filme Se Meu Fusca Falasse (original em inglês):



Veja aqui um trecho de Herbie, Meu Fusca Turbinado ao som de "Born to Be Wild" (original em inglês):





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terça-feira, 10 de março de 2020

Crítica: O Oficial e O Espião | A busca pela Verdade e pela Justiça


Alfred Dreyfus (Louis Garrel, de Adoráveis Mulheres) é capitão do exército francês e um dos poucos judeus alistados. No final de 1894, é acusado de alta traição por ter fornecido informações secretas para a Alemanha, condenado à prisão perpétua, exílio na colônia penal da Ilha do Diabo e expulso das forças armadas em uma cerimônia humilhante.

O recém-promovido e nomeado chefe do serviço de inteligência do exército, Coronel Georges Picquart (Jean Dujardin, de O Lobo de Wall Street), durante uma investigação de um outro caso de traição, descobre provas que mostram que o Capitão Dreyfus é inocente e inicia sua luta para inocentar o colega oficial. Obtém o apoio e ajuda do grande escritor Émile Zola (André Marcon, de O Melhor Está por Vir), que publica uma carta aberta em um jornal ao presidente da França na qual afirma a inocência de Dreyfus e acusa o alto escalão do exército de serem os verdadeiros responsáveis. A carta tem o título de “J’ Accuse” (“Eu Acuso”).

O final do século XIX é turbulento para França com um amontoado de acontecimentos tais como a derrota na Guerra Franco-Prussiana, a Comuna de Paris, a ascensão da Terceira República, o escândalo de corrupção na construção do Canal do Panamá e conflito de separação entre Estado e Igreja, que levaram o país ao caos político e social. OAffaire Dreyfus” (“Caso Dreyfus”, em francês), serviu tanto como válvula de escape quanto como desculpa para os problemas que ocorriam – a famosa e manjada “conspiração judaica” junto com a “invasão de estrangeiros” que “deturpavam a cultura, a moral e os bons costumes”.

Mais de 120 anos depois, oAffaire Dreyfus” continua a ser um assunto quente na França. É um daqueles episódios que uma nação acaba por sentir vergonha de si mesma, pois, além de ser um exemplo de injustiça, com erros jurídicos grosseiros, também mostra o antissemitismo e a xenofobia, dois problemas que, em século XXI, persistem em permanecer entre nós, particularmente na Europa onde, devido a volta de partidos e/ou movimentos de extrema-direita, episódios preconceituosos, principalmente contra imigrantes, refugiados e outras minorias ocorrem com frequência cada vez maior.

Apesar da história ser verdadeira, a principal fonte de O Oficial e O Espião é o romance homônimo do escritor britânico Robert Harris, que também foi o autor do roteiro junto com o diretor do filme, o cineasta franco-polonês Roman Polanski (A Pele de Vênus). Ambos já haviam trabalhado juntos no filme O Escritor Fantasma (2010), outra adaptação de uma obra de Harris. Antes disso, quando conheceram um ao outro, o escritor sugeriu a Polanski adaptar outro romance seu, Pompéia, obra inspirada, segundo o próprio Harris, no clássico Chinatown (1974). Embora o diretor tenha interessado-se, o projeto não avançou.

Em O Oficial e O Espião, Polanski, já com 86 anos de idade, mostra estar em plena forma. Seu trabalho na direção é seguro, preciso, pondo as doses certas de emoções sem apelar para o drama barato. O filme é uma denúncia contra o racismo, antissemitismo e xenofobia, mas também é um thriller político, policial além de filme de tribunal. É uma verdadeira salada, mas Polanski faz a película fluir tão bem na tela que essa mistura acaba por ser perfeitamente harmoniosa.

A mão de Roman Polanski também pode ser vista na direção do elenco. Jean Dujardin, após sua consagração no Oscar e no Festival de Cannes com a conquista dos prêmios de Melhor Ator com o filme O Artista (2011), tem outra performance digna de premiação. Com atuação discreta, mas moderna e impactante, Dujardin transforma Georges Picquart no tipo de herói que deve-se aplaudir: com coragem – sem ser um Brucutu truculento - e consciência de dever e justiça. Ele não superpoderes como os super-heróis da Marvel e da DC. O seu poder reside no seu alto senso de moral e de busca pela verdade. Mesmo o caso que tem com uma mulher casada, que, para alguns, pode ser algo reprovável, é mostrado mais como uma imperfeição de um ser humano (imperfeição essa a qual todos estamos sujeitos) do que de um herói.

Louis Garrel aparece pouco em O Oficial e O Espião, mas quando aparece, sua performance dá tamanha dignidade ao personagem que interpreta, o Capitão Alfred Dreyfus, (como, por exemplo, na cena da humilhante expulsão do oficial), a ponto de sentirmos sua presença nas partes em que não aparece. Aliás, para mim, uma pequena falha de O Oficial e O Espião, é justamente essas poucas vezes que Garrel aparece, embora o personagem principal seja Picquart e não Dreyfus.

A esposa de Polanski, a atriz e cantora Emmanuelle Seigner (No Portal da Eternidade), interpreta Pauline Monnier, a mulher casada que tem um caso de Georges Picquart. Aos 53 anos, Emmanuelle continua muito bonita e uma atriz cada vez mais segura. Embora sua personagem não tenha grande interferência no “Caso Dreyfus”, ela mostra ser não apenas o interesse amoroso do herói, mas igualmente uma mulher de personalidade independente, à frente de seu tempo.

O Oficial e o Espião vem colecionando prêmios desde a sua prèmiére, em 2019. No Festival de Veneza, conquistou o Grande Prêmio do Júri, além do Prêmio FIPRESCI para Polanski e o prêmio de Melhor Filme de Língua Estrangeira. Já no Prêmio César (versão francesa do Oscar) deste ano, foi indicado a 12 prêmios, tendo conquistado os de Melhor Figurino, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Diretor para Polanski.

Embora O Oficial e O Espião seja um campeão de bilheteria na França, à frente de arrasa-quarteirões como Frozen II e Star Wars: A Ascensão Skywalker, as polêmicas insistem em acompanhar Roman Polanski devido ao já mais do que conhecido escândalo das relações sexuais que teve com uma menina de 13 anos até a mais recente, um suposto caso de estupro que teria ocorrido em 1975. As manifestações das feministas desde a estreia do filme são constantes.

Por tudo isso, Polanski está a tornar-se um recluso, raramente aparece em público, tanto que não foi receber os prêmios que conquistou em Veneza e Paris. Emmanuelle Seigner foi em seu lugar. Em Veneza, ela comentou as polêmicas que envolvem seu marido e sua relação com O Oficial e O Espião:

Para mim é difícil falar pelo Roman. O que posso dizer é que o sentimento de perseguição patente no filme é algo que ele conhece bem. Basta olhar para a sua vida” (veja aqui).

Com ou sem polêmicas de Roman Polanski, O Oficial e O Espião é um filme que chega em um momento oportuno. Na era das trevas em que vivemos atualmente em nosso país tendo como mandatário um demente à frente de uma equipe de governo formada por verdadeiros lunáticos com um “guru” que não passa de um astrólogo boca-suja, as mensagens que o filme transmite de anti-racismo, anti-preconceito, a busca pela verdade e uma justiça que faça jus ao nome, são mais do que necessárias. São cruciais.


FICHA TÉCNICA
  • Título Original: J' Accuse
  • Direção: Roman Polanski
  • Elenco: Jean Dujardin (Tenente-Coronel Georges Picquart), Louis Garrel (Capitão Alfred Dreyfus), Emmanuelle Seigner (Pauline Monnier), André Marcon (Émile Zola)
  • RoteiroRobert Harris, Roman Polanski (baseado no romance "An Officer and A Spy")
  • Música: Alexandre Desplat
  • Fotografia: Pawel Edelman
  • Duração: 132 minutos
  • País: França
  • Ano: 2019
  • Lançamento comercial no Brasil: 12/03/2020


          RESUMO DO FILME


O Capitão do exército francês, Alfred Dreyfus, é acusado de alta traição e condenado à prisão perpétua. Porém, o Tenente-Coronel Georges Picquart desconfia de uma injustiça e começa a investigar o Caso Dreyfus. 


COTAÇÃO
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Veja aqui o trailer oficial de O Oficial e O Espião (legendado - HD):



Publicado no AdoroCinema em 11/03/2020.


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