domingo, 12 de setembro de 2021

A saga do menino Fidel e seu cavalo, Che


Fidel Canteros é um menino paraguaio de 12 anos que imigrou para a Argentina, na província de Misiones, junto com seu irmão mais velho para ganhar dinheiro e enviá-lo para ajudar sua mãe e irmã que vivem no Paraguai

Fidel Canteros trabalha no campo como peão e participa de corridas de cavalos vestido com uma camiseta de futebol com o nome do futebolista argentino Diego Maradona (1960-2020) e conduz um veloz alazão que é chamado de Che.

É nessa premissa simples, mas com elementos impactantes, que baseia-se o documentário Fidel, Niño Valiente (literalmente Fidel, Menino Valente), dirigido pelo estreante Mario Verón

Verón conta que, ao ouvir falar sobre a dupla Fidel Canteros e Che, viajou ao nordeste da Argentina - onde está localizada a província de Misiones - para ver de perto o menino e seu cavalo correrem em hipódromos (pistas de corridas para cavalos) improvisados e, segundo o cineasta, viu a ambos transformados em "cavaleiro e cavalo do povo".

Verón também conta que, além de sentir-se atráido por Fidel Canteros e Che, viu em Fidel, Niño Valiente a oportunidade de "falar da feroz desigualdade entre as condições de vida dos camponeses e o poder das grandes empresas multinacionais na provícia". 

O cineasta refere-se principalmente à multinacional Alto Paraná S. A., que, além de possuir 10% do território da província de Misiones (o equivalente a dez vezes a área da capital Buenos Aires), causa constantes desmatamentos (cujas cenas são mostradas em Fidel, Niño Valiente), o que desaloja os camponeses e as comunidades indígenas de seus lares e aldeias.

Para filmar Fidel, Niño Valiente, Mario Verón passou quatro meses na região - tendo, inclusive, passado o Natal e Ano Novo - para, segundo ele, "aproximar-se da sua dor para poder filmar. Algo que não tem nada a ver com heroísmo cinematográfico, mas que foi indispensável para contar esta história". Verón garante que escapou da espetacularização da miséria e da pena.

Quando perguntado se Fidel Canteros vestido com a camiseta de Maradona e o cavalo chamado Che são símbolos da luta dos humildes contra a opressão, Mario Verón responde que ambos representam a luta face ao injusto. 

E Verón acrescenta: "O que sabemos de Guevara (Ernesto "Che" Guevara, médico e guerrilheiro argentino e herói da Revolução Cubana. - N. do A.) juntamente com o sentido de classe de Maradona, é o de não esquecer sua origem e estar sempre ao lado dos mais fracos".

Fidel, Niño Valiente faz sua estreia comercial em 16 de novembro próximo em Buenos Aires. Ainda não há previsão para a sua estreia no Brasil.


Veja aqui o trailer oficial de Fidel, Niño Valiente (em espanhol e guarani com legendas em espanhol):



#PanoramaDoCinema

#ForaBolsonaro

#BolsonaroGenocida

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Wim Wenders é homenageado em Sarajevo


O cineasta alemão Wim Wenders foi homenageado no Festival de Sarajevo, capital da Bósnia e Herzegovina, com o prêmio Coração de Honra por sua contribuição ao cinema.

Afastado das salas de exibição e do público há um ano e meio devido à pandemia do Covid-19, Wim Wenders disse que "Esta noite parece-me um sonho tornado realidade depois de um ano e meio sem sair de casa nem assistir um filme com outras pessoas. Custo a acreditar na sorte que finalmente tenho". 

Na cerimônia, Wim Wenders compareceu vestido de terno e uma camiseta com o desenho de um coração, que é o formato dos prêmios distribuídos no festival. Sobre esse mesmo formato, Wim Wenders comentou: "É assim que faço filmes, com o meu coração. Por isto que isto é especial para mim".

Wim Wenders ainda realizou uma masterclass no festival e houve exibição de vários de seus filmes tais como Paris, Texas (1984) e Buena Vista Social Club (1999).


Veja aqui o trailer oficial de Buena Vista Social Club dirigido por Wim Wenders (legendado - HD):



#PanoramaDoCinema

#ForaBolsonaro

#BolsonaroGenocida

#MarioFriasNaCadeia

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Ken Loach é expulso do Partido Trabalhista Britânico

O cineasta inglês Ken Loach, 85 anos, conhecido por sua ideologia marxista, seus filmes politicamente e socialmente engajados, duas vezes vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes por Ventos da Liberdade (2006) e Eu, Daniel Blake (2016. Veja aqui uma matéria a respeito), foi expulso do Partido Trabalhista Britânico no qual era filiado desde a década de 1960. 

Depois de um tempo afastado da militância, Ken Loach voltou a ter participação ativa quando Jeremy Corbyn tornou-se líder do partido. Ambos, além de muitos outros militantes, dedicaram-se ao apoio à Palestina contra as agressões do Estado de Israel. Isso provocou um "racha" no partido e iniciou uma onda de difamação por membros da ala conservadora, que tem relações próximas com o estado judeu.

Dezenas de militantes do Partido Trabalhista foram suspensos ou expulsos. Em contrapartida, milhares de outros saíram do partido em um gesto de solidariedade e como resposta às perseguições lideradas pelo atual líder Trabalhista, Keir Starmer, a figuras do movimento sindical e de boicote a Israel.

Em sua página no Twitter Ken Loach disse sobre a sua expulsão que "(...) o quartel-general do Partido Trabalhista finalmente decidiu que não sou digno de ser membro do seu partido, já que me recusei a renegar aqueles que têm vindo a ser expulsos. Tenho orgulho de encontrar-me ao lado de bons amigos e camaradas, vítimas deste expurgo. É, sem dúvida, uma caça às bruxas... O Starmer e a sua turma nunca dirigirão um partido do povo. Somos muitos, eles são poucos. Solidariedade!".

Podemos ter certeza de uma coisa: além de solidário, Ken Loach é um homem fiel aos seus princípios. 


Veja aqui o trailer oficial de Eu, Daniel Blake, dirigido por Ken Loach e vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes (legendado - HD):



Veja aqui o trailer oficial de Você Não Estava Aqui, o mais recente filme dirigido por Ken Loach (legendado):



#PanoramaDoCinema


#ForaBolsonaro


#MarioFriasNaCadeia

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

ULTRAPASSAMOS AS 110.000 VISUALIZAÇÕES!!!


De qual modo Panorama do Cinema pode, mais uma vez, agradecer às cinéfilas e cinéfilos que nos honram com suas visitas e nos fizeram ultrapassar as 110.000 visualizações? A resposta é: independente de que maneira seja, nunca será suficiente. Por isso será aumentada a dedicação ao trabalho, trabalho esse dedicado a todos vocês, que compartilham o amor ao cinema conosco.

E como não poderia deixar de ser, vamos abrir nossa tradional champagne para celebrar:



#PanoramaDoCinema

#ForaBolsonaro

#BolsonaroGenocida

#MarioFriasNaCadeia



 

sábado, 7 de agosto de 2021

terça-feira, 3 de agosto de 2021

DC Super Hero Girls | Cuidado, vilania! As heroínas são demais no cinema!


DC Super Hero Girls é uma série em desenho animado de curta-metragem da DC Comics criada em 2019 (que dá sequência a uma série de mesmo nome lançada em 2015) o qual apresenta super-heroínas tais quais a Mulher-Maravilha, Supergirl, Batgirl e Abelha - assim como vilãs como Mulher-Gato, Giganta e Arlequina - como adolescentes que dividem seus deveres escolares e vida social com as tarefas de super-heroínas.

E como todas adolescentes que se prezem, as DC Super Hero Girls curtem roupas da moda, milk shakes, baladas, os gatinhos lindos da escola e, como não podia deixar de ser, cinema! Panorama do Cinema selecionou dois divertidos desenhos das DC Super Hero Girls que passam-se no escurinho da sala de projeção. E elas descobrem que ir ao cinema pode ser um desafio tão duro quanto enfrentar um supervilão!


DC Super Hero Girls - A Chata do Cinema 



DC Super Hero Girls - Confusão no Cinema



#PanoramaDoCinema

#ForaBolsonaro

#MarioFriasNaCadeia


domingo, 1 de agosto de 2021

Manifesto dos trabalhadores da Cinemateca Brasileira sobre o incêndio na unidade da Vila Leopoldina

CRIME ANUNCIADO! - O incêndio que acometeu o edifício da Cinemateca Brasileira na Vila Leopoldina na noite de 29 de julho de 2021 foi um crime anunciado, que culminou na perda irreparável de inúmeras obras e documentos da história do cinema brasileiro. Essas instalações são parte fundamental e complementar em relação ao espaço da Vila Clementino, onde se encontra armazenada a maior parte do acervo da Cinemateca Brasileira. Recentemente, em fevereiro de 2020, uma enchente já havia afetado grande parte do acervo documental e audiovisual lá depositado.

Há mais de um ano denunciamos publicamente a possibilidade de incêndio nas dependências da Cinemateca pela ausência de quaisquer trabalhadores de documentação, preservação e difusão. Houve o alerta sobre a chance de o sinistro ocorrer nos acervos de nitrato da Vila Clementino, pois trata-se de material inflamável que pode entrar em autocombustão sem revisão periódica. Não foi o caso deste, o quinto incêndio na instituição. No entanto, as causas são as mesmas. Seguramente, muitas perdas poderiam ter sido evitadas se os trabalhadores estivessem contratados e participando do dia a dia da instituição.

No próximo dia 8 de agosto completará um ano do abandono da Cinemateca Brasileira pelo Governo Federal e a demissão de todo seu corpo técnico, que sequer recebeu os salários não pagos e as rescisões pela anterior gestora, Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto - Acerp. Ainda assim foi noticiada a contratação de equipes de manutenção, bombeiros e limpeza. Apesar de serem fundamentais para o funcionamento do arquivo de filmes, não são suficientes para suas demandas específicas, como evidenciado neste dia fatídico.

A situação se torna mais crítica se pensarmos que essa ausência de equipe técnica especializada por um ano possivelmente teve consequências irreversíveis para o estado de conservação dos materiais. Certos danos são silenciosos, porém tão trágicos quanto um incêndio, e igualmente irrecuperáveis. Trata-se do tempo de vida dos diversos materiais, diminuindo drasticamente, e da perigosa deterioração dos filmes de nitrato e de acetato. Apenas com o retorno da equipe especializada será possível avaliar as extensões das perdas e danos para que então as atividades de conservação sejam retomadas.

O acervo que estava armazenado na Vila Leopoldina, apesar de em menor número, possuía igual relevância e importância ao da Vila Clementino. Abaixo listamos alguns dos materiais possivelmente perdidos ou afetados no incêndio de 29 de julho de 2021:

- Do acervo documental: grande parte dos arquivos de órgãos extintos do audiovisual como parte do Arquivo Embrafilme - Empresa Brasileira de Filmes S.A. (1969 - 1990), parte do Arquivo do Instituto Nacional do Cinema - INC (1966 - 1975) e Concine - Conselho Nacional de Cinema (1976 - 1990), além de documentos de arquivo ainda em processo de incorporação. Para evitar que novas enchentes atingissem o acervo, parte desses materiais foi transferida do térreo para os depósitos climatizados no primeiro andar, principal área atingida pelo incêndio. Tal medida ocorreu após uma grave enchente em fevereiro de 2020. Parte do acervo de documentos oriundos do arquivo Tempo Glauber, do Rio de Janeiro, inclusive duplicatas da biblioteca de Glauber Rocha e documentos da própria instituição.

- Do acervo audiovisual: parte do acervo da distribuidora Pandora Filmes, de cópias de filmes brasileiros e estrangeiros em 35mm. Matrizes e cópias de cinejornais únicos, trailers, publicidade, filmes documentais, filmes de ficção, filmes domésticos, além de elementos complementares de matrizes de longas-metragens, todos estes potencialmente únicos. Essa parcela do acervo já havia sido parcialmente afetada pela enchente recente. Parte do acervo da ECA/USP - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo da produção discente em 16mm e 35mm. Parte do acervo de vídeo do jornalista Goulart de Andrade.

- Do acervo de equipamentos e mobiliário de cinema, fotografia e processamento laboratorial: além do seu valor museológico, muitos desses objetos eram fundamentais para consertos de equipamentos em uso corrente, pois, para exibir ou mesmo duplicar materiais em película ou vídeo, é necessário maquinário já obsoleto e sem reposição no mercado.

O incêndio da noite de ontem é mais um motivo pelo qual não podemos esperar para dar um basta à política de terra arrasada e de apagamento da memória nacional! Estamos em luto, pela perda de mais de meio milhão de brasileiros, e agora pela perda de parte da nossa história. Incêndio na Cinemateca Brasileira em 2016, no Museu Nacional em 2018 e, novamente, na Cinemateca em 2021. Além de todas as mortes evitáveis, nossa história vem sendo continuamente 2/3 extirpada – como um projeto. Infelizmente, perdemos mais uma parte do patrimônio histórico-cultural brasileiro.

A Cinemateca Brasileira não pode ficar à mercê de novas intempéries. A gestão da instituição por meio de terceirização via Organização Social, da forma como foi realizada, mostrou como pode ser frágil essa relação, e que tal modelo não dá conta da complexidade de um órgão cultural desse porte. O edital prometido pelo Governo Federal, sem debate, ferramentas de transparência, a participação da população, de pessoas da área de patrimônio cultural e, principalmente, do coletivo dos ex-trabalhadores da instituição, não será a solução. Alerta-se ainda que o orçamento anunciado é significativamente inferior ao necessário. É preciso estabilidade e garantia de equipe técnica a longo prazo, oferecendo à instituição um orçamento compatível com os necessários serviços de preservação e difusão do audiovisual brasileiro.

Sem trabalhadores não se preservam acervos!


Trabalhadores da Cinemateca Brasileira


São Paulo, 30 de julho de 2021


#ForaBolsonaro


#MarioFriasNaCadeia