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domingo, 5 de junho de 2016

O Legado de Muhammad Ali no Cinema


Foi com uma imensa tristeza que o mundo recebeu a notícia da morte por problemas respiratórios do boxeador estadunidense Muhammad Ali, considerado por muitos especialistas e fãs de boxe como o maior pugilista de todos os tempos.

Nascido em 17 de janeiro de 1942 na cidade de Louisville, estado de Kentucky, nos EUA, com nome de Cassius Marcellus Clay Jr., Ali começou a lutar desde cedo e, em 1960, com apenas 18 anos de idade, conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Roma. Em 1964 sagrou-se campeão mundial dos pesos-pesados pela primeira vez ao derrotar Sonny Liston e, logo em seguida, anunciou publicamente sua conversão ao Islamismo (por influência do líder negro Malcolm X) e a mudança de seu nome para Muhammad Ali.

Ali recusou-se a servir o exército estadunidense durante a Guerra do Vietnã e, em 1967, foi proibido de lutar. Em protesto, o pugilista atirou sua medalha de ouro no rio. Voltou a lutar somente em 1970, quando recuperou seu título, mas, em seguida, o perdeu para o pugilista Joe Frazier naquela que foi chamada "A Luta do Século".

Após vencer a revanche contra Frazier, lutou contra Ken Norton e foi novamente derrotado, mas, assim como ocorreu contra Frazier, também venceu a revanche contra Norton que, um pouco antes havia perdido seu título para o fenômeno George Foreman. A luta pelo título entre Ali e Foreman realizada em 1974, no Zaire (atual República Democrática do Congo), na qual Ali conquistou pela segunda vez o título mundial entrou para a história tanto do boxe quanto do esporte mundial.

Em 1978, o boxeador Leon Spinks tirou o cinturão de campeão de Ali. Nesse mesmo ano, em nova revanche, Ali derrotou Spinks e conquistou o título mundial pela terceira vez. Muhammad Ali encerrou sua carrira profissional em 1981 com um cartel de 61 lutas, sendo 56 vitórias (37 por nocaute) e apenas 5 derrotas. 

Ali foi o primeiro esportista a fazer largo uso de marketing pessoal, uma novidade na época. Frases como "voar como uma borboleta e picar como uma abelha" e "Eu sou o lutador mais forte e mais bonito" e, principalmente, "Eu sou o maior" foram usadas para autopromoção e lhe renderam tantos admiradores quanto críticos. Ali sempre usou a polêmica a seu favor.

Antes mesmo de se tornar campeão mundial, Ali já chamava a atenção de Hollywood e convites para o cinema logo vieram. Em 1962, participou do filme Réquiem Para Um Lutador, dirigido por Ralph Nelson (de Charly) e com roteiro de Rod Serling (seriado Além da Imaginação), no qual atuou junto com Anthony Quinn (Zorba, o Grego), Jackie Gleason (Desafio à Corrupção) e Mickey Rooney (O Corcel Negro). Neste filme ainda usava o nome de Cassius Clay.

Poster do filme The Greatest (1977)

Em 1977, Ali atuou no filme The Greatest, película autobiográfica com roteiro de sua própria autoria que retrata sua vida desde o início de sua carreira até a luta contra Foreman, dirigido a quatro mãos por Tom Gries (100 Rifles) e Monte Hellman (Caminho Para o Nada) e que tinha em seu elenco nomes como Ernest Borgnine (Marty), Robert Duvall (saga O Poderoso Chefão), Ben Johnson (Louca Escapada), James Earl Jones (A Grande Esperança Branca) e Paul Winfield (Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan). A canção-tema do filme, The Greatest Love of All, seria regravada anos depois pela cantora Whitney Houston com grande sucesso. A crítica recebeu o filme friamente, mas o fãs de Ali garantiram a bilheteria.

Na televisão, Ali teve participação em séries como Vegas e O Toque de Um Anjo. Em 1977, teve sua própria série de desenho animado chamado I Am The Greatest: The Adventures of Muhammad Ali com 13 episódios feitos. No Brasil, o desenho foi exibido pela Rede Globo e chamou-se apenas Muhammad Ali.

Em 1979, atuou na minissérie Road to Freedom, dirigida pelo húngaro Ján Kádar (A Pequena Loja da Rua Principal) e baseada no livro do escritor Howard Fast, na qual interpretou o papel de Gideon Jackson, um ex-escravo que lutou na Guerra Civil Americana e que se tornou senador apesar da oposição de latifundiários e do odioso grupo racista Ku-Klux Klan. No elenco, destacavam-se os nomes do ator, cantor e ativista Kris Kristorffeson (franquia Blade) e da atriz Gracie Zabriskie (série Twin Peaks).

Muhammad Ali também estrelou os elogiados documentários Um Fenômeno Chamado Cassius Clay (1970), feito durante o exílio do campeão no período em que estava proibido de lutar; Facing Ali (2009), um curioso documentário sobre dez adversários de Ali (incluindo Frazier, Foreman, Norton e Spinks); When Ali Came to Ireland (2012), que conta a primeira vez em que Ali esteve na Irlanda quando lutou contra o pugilista estadunidense Alvin Lewis; The Trials of Muhammad Ali (2013), que retrata o período da conversão de Ali ao Islamismo e a sua recusa em lutar na Guerra do Vietnã; Eu Sou Ali: A História de Muhammad Ali (2014), que conta a história d' "O Maior" com imagens inéditas de seu acervo pessoal.

Poster do filme Quando Éramos Reis (1996)

De todos os documentários o que mais se destaca, sem dúvida, é Quando Éramos Reis, que fala da histórica e legendária luta de Muhammad Ali contra George Foreman no Zaire e que conquistou o Oscar de Melhor Documentário, em 1996 e o prêmio de Melhor Direção do Festival de Sundance (dedicado ao cinema independente) nesse mesmo ano. 
 
Dentre os atores que interpretaram Muhammad Ali no cinema, o grande destaque é para Will Smith (Homens de Preto), que interpretou o campeão no filme Ali (2001), dirigido por Michael Mann (Miami Vice). Por sua atuação, Smith foi indicado ao Oscar de Melhor Ator.

Para 2016, está previsto o lançamento de mais um filme sobre um episódio da vida de Muhammad Ali: The Bleeder (ainda sem título em português), que conta a vida do boxeador Chuck Wepner (interpretado pelo ator estadunidense Liev Schreiber, de Spotlight - Segredos Revelados) que, em 1975, desafiou Ali pela disputa do título mundial. A direção é do canadense Philippe Falardeau (Uma Boa Mentira) e o papel de Muhammad Ali será interpretado pelo ator e rapper Pooch Hall (da série The Game).

Entre as outras formas de mídia e cultura popular que Ali participou estão livros (que inclui sua autobiografia The Greatest: My Own Story, de 2015), músicas (com destaque para a canção The Black Superman (Muhammad Ali), de Johnny Wakelin), video games e histórias em quadrinhos, em que se destaca Superman vs Muhammad Ali (1978), na qual "O Maior" faz o Homem de Aço beijar a lona!

Para a geração atual deve ser um pouco difícil entender a importância de uma personalidade como Muhammad Ali, visto que seus membros nasceram já depois do campeão ter encerrado sua carreira. Apesar da fama de arrogante, Ali não lutou somente contra seus adversários no ringue, mas também contra o racismo, a intolerância religiosa, a guerra, a violência, a hipocrisia da sociedade, a pobreza e, nos últimos anos de sua vida, contra a doença do Mal Parkinson. Tanto nas vitórias quanto na derrotas sempre permaneceu em pé, sem nunca perder sua dignidade e seu orgulho.

Muhammad Ali podia ser um fanfarrão, mas em uma coisa estava certo: nunca houve um lutador - tanto no boxe como na vida - igual a ele. E, provavelmente, nunca mais haverá. Que Alá receba Seu filho Muhammad Ali em Seus braços.

Veja aqui o trailer oficial do filme The Greatest (original em inglês):



Veja aqui um episódio do desenho animado I Am The Greatest: The Adventures of Muhammad Ali (original em inglês):



Veja aqui o trailer oficial do documentário Quando Éramos Reis (original em inglês):



Publicado no LinkedIn em 05/06/2016.

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