Artigos

Críticas

sábado, 3 de dezembro de 2016

Homenagem à Chapecoense | Filmes de Futebol


O trágico acidente aéreo do voo 2933 da companhia aérea Lamia ocorrido em Medellin, Colômbia, que vitimou os jogadores e comissão técnica da Associação Chapecoense de Futebol chocou o mundo e, particularmente, o Brasil. Infelizmente, não foi a primeira vez que algo assim ocorreu: em 1949, a equipe italiana Torino faleceu em um acidente aéreo que matou todos os seus atletas. Em homenagem às vítimas, o clube mais popular de São Paulo, o Corinthians, disputou uma partida vestindo uma camisa da cor grená, a mesma do clube do norte da Itália. Em 1958, a equipe inglesa Manchester United também sofreu uma queda de avião na qual quase todos os seus atletas morreram (um dos sobreviventes foi o supercraque Bobby Charlton que se tornaria campeão mundial pela Inglaterra na Copa do Mundo de 1966). Há outros casos semelhantes que são igualmente tristes.
A Chapecoense – ou Chape, como é carinhosamente chamada por seus torcedores e adeptos – é uma equipe fundada em 10 de maio de 1973 na pequena cidade de Chapecó, localizada no estado de Santa Catarina, no Brasil. Seus principais títulos são cinco Campeonatos Catarinenses (em 1977, 1996, 2007, 2011, 2016) e um vice-campeonato no Campeonato Brasileiro da Série B (2013). Foi o primeiro time catarinense a se classificar para disputar uma final de uma competição internacional – a Copa Sul-Americana de 2016. Até ocorrer o acidente, era considerado um time “emergente”, com boas perspectivas de crescimento (se alguém pensou no filme Quero Ser Grande, tenha certeza que não é mera coincidência).
A tragédia provocou comoção planetária. No Brasil, foi decretado luto oficial de três dias. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) paralisou e adiou a final da Copa do Brasil e a última rodada do Campeonato Brasileiro. Em um ato de solidariedade, equipes do Brasil, Argentina e Paraguai ofereceram-se para emprestar jogadores à Chapecoense sem nenhum custo. Os times brasileiros pediram à CBF que, devido ao ocorrido, que a equipe catarinense não seja rebaixada para divisões inferiores pelos próximos três anos. E, em um ato de grande generosidade, o adversário da Chapecoense na final da Copa Sul-Americana, o time colombiano Atlético Nacional, fez um pedido oficial à Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) para que o time de Chapecó seja declarado o campeão da competição deste ano.
Panorama do Cinema envia seus mais sinceros pêsames aos familiares de todas as vítimas e fez uma seleção de filmes de vários países sobre futebol a qual é dedicada, como uma singela homenagem, aos jogadores e comissão técnica da Chapecoense e demais passageiros que pereceram no acidente. Que descansem em Paz.
Antes de ver a seleção de filmes, assista aqui um vídeo com os gols de uma das últimas partidas da Chapecoense: o primeiro jogo da semifinal da Copa Sul-Americana de 2016 na qual enfrentou a equipe do San Lorenzo, da Argentina (resultado final em 1x1. Narrado em português - HD):

Fuga Para a Vitória (EUA - 1981)

Em um campo de prisioneiros de guerra durante a Segunda Guerra Mundial, o ex-futebolista e general das forças alemãs, Karl Von Steiner (o sueco Max Von Sidow, de Star Wars: O Despertar da Força), propõe a um prisioneiro, o capitão britânico John Colby (o inglês Michael Caine, de Kingsman – Serviço Secreto), também ele um ex-jogador, realizar uma partida de futebol entre seus soldados e os outros prisioneiros. De modo relutante, Colby aceita e começa a formar a sua equipe que conta, entre outros, com o cabo Luiz Hernandez (o ex-futebolista brasileiro Pelé). O alto comando nazista que usar a partida para fazer propaganda do regime. O capitão e agente secreto dos EUA, Robert Hatch (o estadunidense Sylvester Stallone, das franquias Rocky e Rambo) quer entrar no time e aproveitar a oportunidade para ajudar os prisioneiros a fugirem.
Fuga Para a Vitória foi inspirado em um fato real: o jogo de futebol que ficou conhecido como “A Partida da Morte”. No ano de 1942, em plena guerra, os nazistas organizaram um jogo de futebol entre a equipe da Luftwaffe (a aviação militar da época), um dos melhores times das forças armadas alemãs, e o Dínamo de Kiev, principal equipe da Ucrânia que, naquele tempo, fazia parte da União Soviética (URSS). O juiz da partida era um oficial da Gestapo, a temida polícia secreta nazista.
Os jogadores do Dínamo sabiam que, se vencessem, os nazistas não os perdoariam e ajustariam as contas. Mas, decidiram, assim mesmo, jogar para ganhar. No início, os alemães, com melhor preparação física e mais bem nutridos, levaram a melhor e abriram uma vantagem de 2x0. Porém, com muita garra, raça e técnica, os valentes futebolistas soviéticos conseguiram virar o placar e vencer a partida por 3x2! A reação nazista não se fez esperar: a equipe do Dínamo de Kiev foi executada. Esses valorosos jogadores perderam a vida (com exceção de uns poucos que se salvaram por milagre), mas entraram para a história.
Além do elenco de astros, o diretor John Houston (A Honra do Poderoso Prizzi) contou também com grandes craques para a realização do filme. Além de Pelé, estavam presentes o inglês Bobby Moore (campeão mundial em 1966), o polonês Kazimierz Deyna (campeão olímpico em 1972) e o argentino Osvaldo Ardiles (campeão mundial em 1978), que ajudaram nas filmagens das cenas da bola em jogo. Embora seja considerado um trabalho menor de Houston e tenha recebido críticas mornas, Fuga Para a Vitória teve uma boa recepção por parte do público e foi indicado ao prêmio de Melhor Filme no Festival de Moscou daquele ano.
Para encerrar, uma historinha de bastidores: durante um intervalo das filmagens, o elenco decidiu disputar uma pelada. Sylvester Stallone jogava como goleiro (tal como seu personagem no filme). Pelé mandou uma “bomba” em direção ao gol. Sly defendeu, mas o chute foi tão forte que o ator teve um dos dedos deslocado!
Veja aqui o trailer de Fuga Para a Vitória (original em inglês):

Boleiros: Era Uma Vez o Futebol (Brasil - 1998)

Um grupo de amigos (composta por Adriano Stuart, Flávio Migliaccio, Rogério Cardoso, João Acaibe, Oswaldo Campozana, e César Negro) – quase todos ex-futebolistas – se reúne regularmente em um bar para beber umas cervejinhas e fazer aquilo que mais gostam: contarem, uns para os outros, histórias de futebol.
O diretor Ugo Giorgetti (de Sábado) se utilizou desse hábito muito comum em países – particularmente o Brasil - onde o futebol é um esporte popular para realizar esta produção e acertou na mosca, pois o filme é bastante divertido. Todo o mundo do futebol é mostrado: do juiz ladrão (Otávio Augusto, hilário), passando pelo pai-de-santo (André Abujamra, igualmente hilário) para curar lesões, a “Maria Chuteira” (Marisa Orth, sexy) sempre a correr atrás de jogadores, até os programas de mesa redonda nos quais os jornalistas (Claudio Curi e Serginho Leite) querem aparecer mais que os craques convidados.
Embora tenha sido considerado “paulista demais” (principalmente pelos cariocas) ao retratar equipes de São Paulo, Boleiros conquistou o Prêmio Especial do Júri no Festival de D’Amiens (França) e o prêmio de Melhor Roteiro da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). O filme teve uma sequência em 2006 chamada Boleiros 2: Vencedores e Vencidos.
Veja aqui o trailer de Boleiros: Era Uma Vez o Futebol (original em português):

A Copa (Butão - 1999)

Em um mosteiro budista na Índia, onde vivem monges tibetanos refugiados, um pequeno noviço fanático por futebol convence seus colegas a alugarem uma televisão para assistirem a final da Copa do Mundo de 1998.
Por esta ninguém esperava: um filme vindo do Butão, pequeno país asiático que, até então, nunca havia produzido uma película sequer. E surpreendeu a todo o mundo do cinema com um filme original, de qualidade, muito bem dirigido por Khyentse Norbu (que também é um Lama, isto é, um guia espiritual do Budismo tibetano), com boas atuações de seu elenco e roteiro bem estruturado com humor, mas sem esquecer a crítica social e política (a invasão do Tibete pela China). A Copa foi, merecidamente, um grande sucesso e, como recompensa, foi indicado para o Prêmio do Cinema Europeu de Melhor Filme Estrangeiro.
Veja aqui o trailer de A Copa (narrado e legendado em inglês):

O Milagre de Berna (Alemanha - 2003)

Alemanha, 1954. Nove anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, o país está dividido e em reconstrução. Esse também é o ano da Copa do Mundo de Futebol, a ser realizada na Suíça. O pequeno Matthias Lubanski (Louis Klamroth) vive com sua família na cidade industrial de Essen e, como todo menino de sua idade, ama o futebol. Ele é amigo do futebolista Helmut Rahn (Sacha Gopel, de Aceleração Máxima), que foi convocado pelo técnico da seleção alemã, Josef “Sepp” Herberger (Peter Franke, de Prisioneiro do Amor) para disputar o campeonato mundial. A grande favorita para conquistar o título é a seleção da Hungria. Nesse meio tempo, o pai de Matthias, Richard (Peter Lohmeyer, de A Jovem Rainha), um ex-soldado que ficou muitos anos como prisioneiro de guerra na URSS, retorna para casa, mas tem muitas dificuldades de readaptação à vida civil. Paralelamente, Paul Ackermann (Lucas Gregorowicz, da minissérie Os Filhos da Guerra), um jornalista esportivo recém-casado com Annete (Katharina Wackernagel, de O Grupo Baader Meinhoff), é forçado a adiar sua lua-de-mel para fazer a cobertura da Copa. Annete, que nunca foi entusiasta de futebol, decide ir com ele.
Após viver o pesadelo nazista, os alemães tinham que reconstruir mais do que uma nação arrasada pela guerra, tinham também que reconstruir seu orgulho e amor-próprio. Embora já estivessem em plena recuperação econômica, foi a épica vitória na Copa do Mundo sobre os Magiares Mágicos (alcunha da seleção húngara, uma equipe que, além de ter sido campeã olímpica em 1952, não perdia uma partida há quatro anos e meio e que, na primeira fase da Copa, havia vencido a mesma Alemanha por 8x3!) que trouxe de volta esses sentimentos ao país, mostrando que não havia nada de errado em ser alemão e amar a Alemanha - mesmo estando separada em um lado capitalista e outro comunista - e foi também o pontapé inicial ao período do país conhecido como “Milagre Econômico”.
O diretor Sönke Wortmann (de A Papisa Joana) reproduziu com precisão esse momento decisivo da história alemã mostrando tanto o reerguimento das cidades (que inclui o surgimento de usinas nucleares) quanto do povo com a aparição de líderes muito diferentes dos nazistas como o capitão da seleção, Fritz Walter (interpretado por Knut Hartwig, em sua estreia no cinema), que comandava pelo exemplo ao invés da força. As cenas de jogo são muito bem filmadas e bastante emocionantes, provavelmente, as melhores do tipo já feitas pelo cinema.
O Milagre de Berna conquistou o Deutscher Filmpreis (principal premiação de cinema da Alemanha) de Filme Alemão do Ano, entre outros prêmios, e mostrou que o milagre do futebol também pode ser o milagre da vida.
Veja aqui o trailer de O Milagre de Berna (original em alemão):

Um Time Show de Bola (Argentina - 2013)

Amadeo é um menino que mora em uma pequena cidade do interior e gosta de sua amiga Laura. Amadeo é “fera” no pebolim e vence, de virada, uma partida contra seu rival, Ezequiel, que é um bom futebolista. Furioso, Ezequiel deixa a cidade e retorna anos depois, já como um craque consagrado, para construir um mega-estádio de futebol no local e, para isso, terá que demolir todas as construções. Amadeo tenta impedir e é desafiado por Ezequiel para um jogo de futebol no qual o vencedor ganha tudo. Para vencer seu adversário, Amadeo terá ajuda dos bonequinhos de pebolim, que ganharam vida.
O diretor Juan José Campanella (de O Segredo de Seus Olhos) se inspirou no conto Memorias de Un Wing Derecho (Memórias de Um Ponta-Direita, em tradução livre), do escritor Roberto Fontanarrosa e se utilizou de duas paixões populares neste desenho animado argentino produzido junto com a Espanha: o futebol e sua versão de mesa, o pebolim (Metegol, em espanhol, que também é o nome original do filme). Os Hermanos fizeram uma animação competente e divertida com os bonecos de pebolim caracterizados como jogadores de verdade, cada um com sua respectiva personalidade (o capitão mandão, o vaidoso, etc.).
Um Time Show de Bola foi um grande sucesso de bilheteria na Argentina – também foi bem no Brasil – e conquistou o Prêmio Goya (o Oscar espanhol) de Melhor Filme de Animação e o Prêmio Sur (o Oscar argentino) de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Canção e Melhor Som.
Veja aqui o trailer de Um Time Show de Bola (dublado):


ESTE TEXTO É DEDICADO AOS JOGADORES E COMISSÃO TÉCNICA DA ASSOCIAÇÃO CHAPECOENSE DE FUTEBOL E DEMAIS PASSAGEIROS DO VOO 2933 DA LAMIA PARA MEDELLIN, COLÔMBIA, FALECIDOS EM 29/11/2016.

Nenhum comentário:

Postar um comentário