O
trágico acidente aéreo do voo 2933 da companhia aérea Lamia
ocorrido em Medellin, Colômbia, que vitimou os jogadores e comissão
técnica da Associação
Chapecoense de Futebol
chocou o mundo e, particularmente, o Brasil. Infelizmente, não foi a
primeira vez que algo assim ocorreu: em 1949, a equipe italiana
Torino
faleceu em um acidente aéreo que matou todos os seus atletas. Em
homenagem às vítimas, o clube mais popular de São Paulo, o
Corinthians,
disputou uma partida vestindo uma camisa da cor grená, a mesma do
clube do norte da Itália. Em 1958, a equipe inglesa Manchester
United
também sofreu uma queda de avião na qual quase todos os seus
atletas morreram (um dos sobreviventes foi o supercraque Bobby
Charlton
que se tornaria campeão mundial pela Inglaterra na Copa
do Mundo de 1966).
Há outros casos semelhantes que são igualmente tristes.
A
Chapecoense
– ou Chape,
como é carinhosamente chamada por seus torcedores e adeptos – é
uma equipe fundada em 10 de maio de 1973 na pequena cidade de
Chapecó, localizada no estado de Santa Catarina, no Brasil. Seus
principais títulos são cinco Campeonatos
Catarinenses
(em 1977, 1996, 2007, 2011, 2016) e um vice-campeonato no Campeonato
Brasileiro da Série B
(2013). Foi o primeiro time catarinense a se classificar para
disputar uma final de uma competição internacional – a Copa
Sul-Americana de 2016.
Até ocorrer o acidente, era considerado um time “emergente”, com
boas perspectivas de crescimento (se alguém pensou no filme Quero
Ser Grande,
tenha certeza que não é mera coincidência).
A
tragédia provocou comoção planetária. No Brasil, foi decretado
luto oficial de três dias. A Confederação Brasileira de Futebol
(CBF) paralisou e adiou a final da Copa
do Brasil
e a última rodada do Campeonato
Brasileiro.
Em um ato de solidariedade, equipes do Brasil, Argentina e Paraguai
ofereceram-se para emprestar jogadores à Chapecoense
sem nenhum custo. Os times brasileiros pediram à CBF que, devido ao
ocorrido, que a equipe catarinense não seja rebaixada para divisões
inferiores pelos próximos três anos. E, em um ato de grande
generosidade, o adversário da Chapecoense
na final da Copa Sul-Americana, o time colombiano Atlético
Nacional,
fez um pedido oficial à Confederação Sul-Americana de Futebol
(CONMEBOL) para que o time de Chapecó seja declarado o campeão da
competição deste ano.
Panorama
do Cinema
envia seus mais sinceros pêsames aos familiares de todas as vítimas
e fez uma seleção de filmes de vários países sobre futebol a qual
é dedicada, como uma singela homenagem, aos jogadores e comissão
técnica da Chapecoense
e demais passageiros que pereceram no acidente. Que descansem em Paz.
Antes
de ver a seleção de filmes, assista aqui um vídeo com os gols de
uma das últimas partidas da Chapecoense:
o primeiro jogo da semifinal da Copa
Sul-Americana de 2016
na qual enfrentou a equipe do San
Lorenzo,
da Argentina (resultado final em 1x1. Narrado em português - HD):
Fuga
Para a Vitória (EUA - 1981)
Em
um campo de prisioneiros de guerra durante a Segunda Guerra Mundial,
o ex-futebolista e general das forças alemãs, Karl Von Steiner (o
sueco Max
Von Sidow,
de Star
Wars: O Despertar da Força),
propõe a um prisioneiro, o capitão britânico John Colby (o inglês
Michael
Caine,
de Kingsman
– Serviço Secreto),
também ele um ex-jogador, realizar uma partida de futebol entre seus
soldados e os outros prisioneiros. De modo relutante, Colby aceita e
começa a formar a sua equipe que conta, entre outros, com o cabo
Luiz Hernandez (o ex-futebolista brasileiro Pelé).
O alto comando nazista que usar a partida para fazer propaganda do
regime. O capitão e agente secreto dos EUA, Robert Hatch (o
estadunidense Sylvester
Stallone,
das franquias Rocky
e Rambo)
quer entrar no time e aproveitar a oportunidade para ajudar os
prisioneiros a fugirem.
Fuga
Para a Vitória
foi inspirado em um fato real: o jogo de futebol que ficou conhecido
como “A Partida da Morte”. No ano de 1942, em plena guerra, os
nazistas organizaram um jogo de futebol entre a equipe da Luftwaffe
(a aviação militar da época), um dos melhores times das forças
armadas alemãs, e o Dínamo
de Kiev,
principal equipe da Ucrânia que, naquele tempo, fazia parte da União
Soviética (URSS). O juiz da partida era um oficial da Gestapo,
a temida polícia secreta nazista.
Os
jogadores do Dínamo sabiam que, se vencessem, os nazistas não os
perdoariam e ajustariam as contas. Mas, decidiram, assim mesmo, jogar
para ganhar. No início, os alemães, com melhor preparação física
e mais bem nutridos, levaram a melhor e abriram uma vantagem de 2x0.
Porém, com muita garra, raça e técnica, os valentes futebolistas
soviéticos conseguiram virar o placar e vencer a partida por 3x2! A
reação nazista não se fez esperar: a equipe do Dínamo de Kiev foi
executada. Esses valorosos jogadores perderam a vida (com exceção
de uns poucos que se salvaram por milagre), mas entraram para a
história.
Além
do elenco de astros, o diretor John
Houston
(A
Honra do Poderoso Prizzi)
contou também com grandes craques para a realização do filme. Além
de Pelé, estavam presentes o inglês Bobby
Moore
(campeão mundial em 1966), o polonês Kazimierz Deyna
(campeão olímpico em 1972) e o argentino Osvaldo
Ardiles
(campeão mundial em 1978), que ajudaram nas filmagens das cenas da
bola em jogo. Embora seja considerado um trabalho menor de Houston e
tenha recebido críticas mornas, Fuga
Para a Vitória teve
uma boa recepção por parte do público e foi indicado ao prêmio de
Melhor Filme no Festival
de Moscou
daquele ano.
Para
encerrar, uma historinha de bastidores: durante um intervalo das
filmagens, o elenco decidiu disputar uma pelada. Sylvester Stallone
jogava como goleiro (tal como seu personagem no filme). Pelé mandou
uma “bomba” em direção ao gol. Sly
defendeu, mas o chute foi tão forte que o ator teve um dos dedos
deslocado!
Veja
aqui o trailer de Fuga
Para a Vitória
(original em inglês):
Boleiros:
Era Uma Vez o Futebol (Brasil - 1998)
Um
grupo de amigos (composta por Adriano
Stuart, Flávio Migliaccio, Rogério Cardoso, João Acaibe, Oswaldo
Campozana, e
César
Negro)
– quase todos ex-futebolistas – se reúne regularmente em um bar
para beber umas cervejinhas e fazer aquilo que mais gostam: contarem,
uns para os outros, histórias de futebol.
O
diretor Ugo
Giorgetti
(de Sábado)
se utilizou desse hábito muito comum em países – particularmente
o Brasil - onde o futebol é um esporte popular para realizar esta
produção e acertou na mosca, pois o filme é bastante divertido.
Todo o mundo do futebol é mostrado: do juiz ladrão (Otávio
Augusto,
hilário), passando pelo pai-de-santo (André
Abujamra,
igualmente hilário) para curar lesões, a “Maria Chuteira”
(Marisa
Orth,
sexy) sempre a correr atrás de jogadores, até os programas de mesa
redonda nos quais os jornalistas (Claudio
Curi
e Serginho
Leite)
querem aparecer mais que os craques convidados.
Embora
tenha sido considerado “paulista demais” (principalmente pelos
cariocas) ao retratar equipes de São Paulo, Boleiros
conquistou o Prêmio Especial do Júri no Festival
de D’Amiens
(França) e o prêmio de Melhor Roteiro da Associação
Paulista dos Críticos de Arte
(APCA).
O filme teve uma sequência em 2006 chamada Boleiros
2: Vencedores e Vencidos.
Veja
aqui o trailer de Boleiros:
Era Uma Vez o Futebol
(original em português):
A
Copa
(Butão
- 1999)
Em
um mosteiro budista na Índia, onde vivem monges tibetanos
refugiados, um pequeno noviço fanático por futebol convence seus
colegas a alugarem uma televisão para assistirem a final da Copa do
Mundo de 1998.
Por
esta ninguém esperava: um filme vindo do Butão, pequeno país
asiático que, até então, nunca havia produzido uma película
sequer. E surpreendeu a todo o mundo do cinema com um filme original, de
qualidade, muito bem dirigido por
Khyentse
Norbu
(que também é um Lama,
isto é, um guia espiritual do Budismo tibetano),
com boas atuações de seu elenco e roteiro bem estruturado com
humor, mas sem esquecer a crítica social e política (a invasão do
Tibete pela China). A
Copa
foi, merecidamente, um grande sucesso e, como recompensa, foi
indicado para o Prêmio do Cinema Europeu
de Melhor Filme Estrangeiro.
Veja
aqui o trailer de A
Copa
(narrado e legendado em inglês):
O
Milagre de Berna (Alemanha - 2003)
Alemanha,
1954. Nove anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, o país está
dividido e em reconstrução. Esse também é o ano da Copa do Mundo
de Futebol, a ser realizada na Suíça. O pequeno Matthias Lubanski
(Louis
Klamroth)
vive com sua família na cidade industrial de Essen e, como todo
menino de sua idade, ama o futebol. Ele é amigo do futebolista
Helmut Rahn (Sacha
Gopel,
de Aceleração
Máxima),
que foi convocado pelo técnico da seleção alemã, Josef “Sepp”
Herberger (Peter
Franke,
de Prisioneiro
do Amor)
para disputar o campeonato mundial. A grande favorita para conquistar
o título é a seleção da Hungria. Nesse meio tempo, o pai de
Matthias, Richard (Peter
Lohmeyer,
de A
Jovem Rainha),
um ex-soldado que ficou muitos anos como prisioneiro de guerra na
URSS, retorna para casa, mas tem muitas dificuldades de readaptação
à vida civil. Paralelamente, Paul Ackermann (Lucas
Gregorowicz,
da
minissérie Os
Filhos da Guerra),
um jornalista esportivo recém-casado com Annete (Katharina
Wackernagel,
de O
Grupo Baader Meinhoff),
é forçado a adiar sua lua-de-mel para fazer a cobertura da Copa.
Annete, que nunca foi entusiasta de futebol, decide ir com ele.
Após
viver o pesadelo nazista, os alemães tinham que reconstruir mais do
que uma nação arrasada pela guerra, tinham também que reconstruir
seu orgulho e amor-próprio. Embora já estivessem em plena
recuperação econômica, foi a épica vitória na Copa do Mundo
sobre os Magiares
Mágicos
(alcunha da seleção húngara, uma equipe que, além de ter sido
campeã olímpica em 1952, não perdia uma partida há quatro anos e
meio e que, na primeira fase da Copa, havia vencido a mesma Alemanha
por 8x3!) que trouxe de volta esses sentimentos ao país, mostrando
que não havia nada de errado em ser alemão e amar a Alemanha -
mesmo estando separada em um lado capitalista e outro comunista - e
foi também o pontapé inicial ao período do país conhecido como
“Milagre Econômico”.
O
diretor Sönke
Wortmann
(de A
Papisa Joana)
reproduziu com precisão esse momento decisivo da história alemã
mostrando tanto o reerguimento das cidades (que inclui o surgimento
de usinas nucleares) quanto do povo com a aparição de líderes
muito diferentes dos nazistas como o capitão da seleção, Fritz
Walter (interpretado por Knut
Hartwig,
em
sua estreia no cinema),
que comandava pelo exemplo ao invés da força. As cenas de jogo são
muito bem filmadas e bastante emocionantes, provavelmente, as
melhores do tipo já feitas pelo cinema.
O
Milagre de Berna
conquistou o
Deutscher
Filmpreis
(principal premiação de cinema da Alemanha) de Filme
Alemão do Ano,
entre outros prêmios, e
mostrou
que o
milagre do futebol também pode ser o milagre da vida.
Veja
aqui o trailer de O
Milagre de Berna
(original em alemão):
Um
Time Show de Bola (Argentina - 2013)
Amadeo
é um menino que mora em uma pequena cidade do interior e gosta de
sua amiga Laura. Amadeo é “fera” no pebolim e vence, de virada,
uma partida contra seu rival, Ezequiel, que é um bom futebolista.
Furioso, Ezequiel deixa a cidade e retorna anos depois, já como um
craque consagrado, para construir um mega-estádio de futebol no
local e, para isso, terá que demolir todas as construções. Amadeo
tenta impedir e é desafiado por Ezequiel para um jogo de futebol no
qual o vencedor ganha tudo. Para
vencer seu adversário, Amadeo terá ajuda dos bonequinhos de
pebolim, que
ganharam vida.
O
diretor Juan
José Campanella
(de O
Segredo de Seus Olhos)
se inspirou
no conto Memorias
de Un Wing Derecho
(Memórias
de Um Ponta-Direita,
em tradução livre), do
escritor Roberto
Fontanarrosa
e se
utilizou
de duas paixões populares
neste
desenho
animado
argentino
produzido
junto
com a Espanha: o futebol e sua versão de mesa, o pebolim (Metegol,
em espanhol, que também é o nome original do filme).
Os Hermanos
fizeram uma animação competente e divertida com
os bonecos de pebolim caracterizados como jogadores de verdade, cada
um com sua respectiva
personalidade
(o capitão mandão,
o vaidoso, etc.).
Um
Time Show de Bola
foi um grande sucesso de bilheteria na Argentina – também foi bem
no Brasil – e conquistou o Prêmio
Goya
(o Oscar espanhol) de Melhor Filme de Animação e o Prêmio
Sur
(o Oscar argentino) de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia,
Melhor Canção e Melhor Som.
Veja
aqui o trailer de Um
Time Show de Bola
(dublado):
ESTE
TEXTO É DEDICADO AOS JOGADORES E COMISSÃO TÉCNICA DA ASSOCIAÇÃO
CHAPECOENSE DE FUTEBOL E DEMAIS PASSAGEIROS DO VOO 2933 DA LAMIA PARA
MEDELLIN, COLÔMBIA, FALECIDOS EM 29/11/2016.
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