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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Crítica: Transtorno Explosivo | A Menina-Hulk


Benni (a atriz-mirim Helena Zengel, de Die Tochter) tem nove anos e sofre de uma doença que a faz ter grandes ataques de raiva - o que leva-a a agredir todos ao seu redor - a ponto de sua mãe, Bianca (Lisa Hagmeister, de Counterpart: Mundo Paralelo), ter medo de viver com ela, o que faz com que Benni passe por diversos tratamentos médicos e por vários lares adotivos, mas ela insiste em viver com a mãe. Sua assistente social, Sra. Bafané (Gabriela Maria Schmeide, de Henrique IV, o Grande Rei da França), faz todo o possível para ajudar a menina a viver novamente com sua mãe ou em um lar adotivo que aceite-a. O acompanhante escolar de Benni, Michael, apelidado Misha (Albrecht Schuch, de Berlin Alexanderplatz), é especializado em tratar de jovens delinquentes e tenta ajudar a criança levando-a para passar um tempo em uma cabana no campo.

O Transtorno Explosivo Intermitente (cuja sigla é TEI) é uma doença mental na qual uma pessoa, por pouca ou nenhuma razão aparente, tenha ataques de raiva imensos agredindo outras pessoas verbalmente, fisicamente ou de ambas as formas. Até o momento, a medicina não sabe com exatidão o que origina o TEI. O tratamento consiste de medicamentos apropriados e psicoterapia e quanto antes o problema for diagnosticado, melhor. Infelizmente, aqueles que sofrem de TEI geralmente procuram tratamento quando suas vidas familiar e profissional já estão arruinadas e/ou quando respondem a processos judiciais. O TEI é popularmente conhecido como “Síndrome do Hulk”, personagem de histórias em quadrinhos da Marvel conhecido por ter problemas em lidar com sua raiva. E, antes que algum engraçadinho de plantão pergunte, quem sofre de TEI não fica verde.

Nos últimos cinco anos, o cinema alemão passa por excelente fase com filmes que são sucesso de público e crítica tendo, inclusive, ganho o Prêmio da Crítica do Festival de Cannes com Toni Erdman (2016), que também foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (que agora chama-se Melhor Filme Internacional). Transtorno Explosivo confirma essa fase e, com justiça, foi premiado em vários festivais de cinema dos quais participou. Em 2019, recebeu o Prêmio de Contribuição Artística do prestigioso Festival de Berlim e o Prêmio do Júri de Melhor Filme na 43ª Mostra de Cinema de São Paulo. Em 2020, Transtorno Explosivo foi consagrado na sua Alemanha natal com oito vitórias no festival Prêmios do Cinema Alemão, o mais importante do país: Melhor Filme, Diretor (Fingsheid), Atriz (Zegel), Ator (Schuch), Atriz Coadjuvante (Schmeide), Roteiro Original, Edição, Edição de Som.

No cinema mundial, filmes sobre doenças físicas e/ou mentais tais como o estadunidense Sentimentos Que Curam (2014. Leia a crítica aqui) ou de jovens problemáticos como o francês De Cabeça Erguida (2015. Leia a crítica aqui), sempre tiveram a atenção do público, em particular do público brasileiro, que sempre assiste esses gêneros de filme com grande interesse, portanto Transtorno Explosivo é, com certeza, um filme que vai cair no gosto nacional.

A jovem e talentosa diretora Nora Fingscheid (de Boulevard’s End), que também é a autora do roteiro, fez com que todas as peças de Transtorno Explosivo encaixassem umas nas outras e funcionassem com perfeição. Sua direção é segura e precisa e faz com que as duas horas de filme fluam muitíssimo bem sem cansar o espectador. Fingscheid trata esse tema com a seriedade que merece e com emoção sem apelar para o dramalhão ou sentimentalismo apelativo. Seu trabalho com os intérpretes da película é igualmente excelente, no que é ajudada pelo ótimo elenco.

Albrecht Schuch e Gabriela Maria Schmeide estão muito bem em seus papéis de acompanhante escolar e de assistente social que tentam de todas as formas ajudar Benni e mostram que fizeram por merecer os prêmios que receberam. Gabriela, em particular, é responsável por uma das cenas mais comoventes de Transtorno Explosivo. Porém, sem dúvida alguma, é Helena Zengel a grande estrela do filme.

Helena Zengel tem apenas 12 anos de idade, mas já é uma veterana em atuação com um currículo de mais de 10 filmes para o cinema e a TV. Em Transtorno Explosivo, sua personagem, Benni, reflete com impressionante – e, por vezes, assustadora - exatidão o que é alguém que sofre de TEI. De criança fofa, engraçadinha, simpática e amorosa, passa, em um estalar de dedos, a uma criatura amedrontadora de fúria incontrolável, uma autêntica Menina-Hulk capaz de apavorar até mesmo os adultos mais experientes em lidar com crianças-problemas. Sua atuação é tão boa que chamou a atenção de Hollywood, que, sabendo que o público dos EUA ama uma criança precoce (basta lembrar de Shirley Temple e Macaulay Calkin), a escalou como protagonista principal ao lado de Tom Hanks (Forrest Gump) no Western Relatos do Mundo (2020). Se for bem guiada, Helena irá além de ser uma estrela-mirim e terá uma carreira longa e premiada tal como Jodie Foster (O Silêncio dos Inocentes) que teve um início de carreira semelhante.

Transtorno Explosivo lida muito bem com um tema difícil – como são, aliás, filmes sobre doenças e crianças e jovens raivosos. Quem for ao cinema assistir ao filme sairá da sala impressionado e alertado sobre esse problema mental, mas também consciente que viu um grande filme cujas imagens e sons ficarão sempre retidos em sua retina e memória.


FICHA TÉCNICA
  • Título Original: System Sprenger
  • Direção: Nora Fingsheid
  • Elenco: Helena Zengel (Benni), Albrecht Schuch (Misha), Gabriela Maria Schmeid (Sra. Bafané), Lisa Hagmeister (Bianca)
  • Roteiro: Nora Fingsheid
  • Música: John Gürtler
  • Fotografia: Yunus Roy Imer
  • Duração: 119 minutos
  • País: Alemanha
  • Ano: 2019
  • Lançamento comercial no Brasil: 05/11/2020

RESUMO DO FILME
Benni é uma menina de nove anos que sofre de uma doença que a faz ter terríveis ataques de raiva. Uma assistente social e um rapaz que trata de jovens delinquentes tentam ajudar Benni a controlar-se.

COTAÇÃO
✪✪✪✪✪

Veja abaixo o trailer oficial de Transtorno Explosivo (legendado - HD):



Publicado no AdoroCinema em 06/11/2020


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quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Crítica: Bill & Ted – Encare a Música | Bill e Ted envelheceram. E seu humor também


Cerca de 30 anos após suas aventuras pelo tempo, Bill (o inglês Alex Winter, de Grand Piano) e Ted (Keanu Reeves, da franquia John Wick) chegaram à meia-idade casados respectivamente com as princesas Joanna (Jayma Mays, da série Glee) e Elizabeth (Erinn Hayes, de Band Aid) que lhes deram as filhas Thea (a australiana Samara Weaving, da franquia A Babá. e sobrinha do ator Hugo Weaving da saga O Senhor dos Anéis) e Billie (Brigette Lundy-Paine, de Homem Irracional. Leia a crítica aqui). Os dois amigos vivem uma vida monótona e ainda não conseguiram compor a música perfeita. 

Então, recebem a visita de uma visitante do futuro, Kelly (a atriz e dubladora Kristen Schaal, da série O Último Cara da Terra), filha de Rufus (o comediante George Carlin, de O Príncipe das Marés, já falecido e que aparece em imagens de arquivo), e diz a ambos que devem compor a música perfeita ou o universo será destruído pela Grande Líder (Holland Taylor, de Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você). 

Bill e Ted decidem viajar para o futuro na cabine telefônica do tempo para pegar a música de si mesmos e trazê-la ao presente. Thea e Billie decidem ajudar seus pais viajando igualmente pelo tempo para formar a banda que tocará a música e recrutam músicos como Jimi Hendrix (DazMann Still, de Manifesto), Mozart (Daniel Dorr, de Counterpart: Mundo Paralelo), Louis Armstrong (Jeremiah Craft, da série Luke Cage), Kid Cudi (de Rampage: Destruição Total, que interpreta a si mesmo) e um velho conhecido de Bill e Ted, Morte (William Sadler, de Estrada Sem Lei). 

A franquia Bill & Ted iniciou-se em 1989 com Bill & Ted: Uma Aventura Fantástica e teve uma continuação em 1991 chamada Bill & Ted: Dois Loucos no Tempo. Voltados para o público adolescente, esses filmes tinham bons efeitos especiais, trilha sonora com sucessos de Hard Rock, brincavam com a temática de viagens no tempo tal como a trilogia De Volta Para o Futuro, de Robert Zemeckis (de A Travessia. Veja a crítica aqui) com a participação de várias figuras históricas e foram pioneiros do chamado “humor besteirol”, que eu chamo de “humor retardado”, pois os protagonistas eram exatamente isso: retardados. Como exemplos principais temos o filme Debi & Loide – Dois Idiotas em Apuros (1994) e a série de animação Beavis & Butt-Head (1993-1997). Reparam que tanto essas produções quanto a que analisamos aqui tem duplas como personagens principais?

O “humor besteirol” ou “retardado” dominou a década de 1990, um tempo em que, por incrível que pareça, tinha gente que achava que ser débil mental era o máximo. É um tipo de comédia muito datada e talvez seja esse o maior problema de Bill & Ted – Encare a Música. A dupla de amigos, obviamente, envelheceu e o seu senso de humor também. Este estilo de comédia não funciona muito bem para o público da década de 2020, o período da era das trevas do século XXI. Irá agradar mesmo aos fãs dos atores e aqueles que cresceram assistindo aos filmes anteriores e semelhantes a estes.

Entretanto, apesar desse problema, Bill & Ted – Encare a Música consegue ser uma diversão agradável. Os efeitos especiais continuam bons, a presença de figuras históricas ajuda a história a fluir bem sem confundir com tantas idas e vindas no tempo, a trilha sonora vem com o tradicional Hard Rock e a dupla Reeves-Winter continua afinada e entrosada no besteirol retardado de seus personagens.

É justamente o seu elenco que ajuda a salvar  Bill & Ted – Encare a Música. Para mim, o destaque vai para outra dupla: Weaving & Lundy-Paine como Thea e Billie, as filhas tão retardadas quanto seus pais. Chamou-me particularmente a atenção Samara Weaving como Thea, que tem o mesmo corte de cabelo, trejeitos e maneirismos de Ted embora seja filha de Bill! O outro destaque vai para Jeremiah Craft, convincente como o jovem Louis “Satchmo” Armstrong.

Quem for assistir Bill & Ted – Encare a Música não perderá seu tempo pois, apesar do humor datado, cumpre bem seu papel de descontrair o público que sairá satisfeito do cinema, embora Bill & Ted – Encare a Música não seja daquelas comédias de rolar no chão de tanto rir. E nestes tempos de pandemia e de era das trevas pelas quais passamos atualmente, Bill & Ted – Encare a Música pode ser uma boa válvula de escape em meio a tanta tensão.

FICHA TÉCNICA
  • Título Original: Bill & Ted Face The Music
  • Direção: Dean Parisot
  • Elenco: Keanu Reeves (Ted), Alex Winter (Bill), Samara Weaving (Thea), Brigette Lundy-Paine (Billie), William Sadler (Morte)
  • RoteiroChris Matheson, Ed Solomon
  • Música: Mark Isham
  • Fotografia: Shelly Johnson
  • Duração: 91 minutos
  • País: EUA
  • Ano: 2020
  • Lançamento comercial no Brasil: 05/11/2020

        RESUMO DO FILME

Bill e Ted devem compor a música perfeita para salvar o universo.

COTAÇÃO
✪✪✪

Veja aqui o trailer oficial de Bill & Ted - Encare a Música (legendado - HD):


Publicado no AdoroCinema em 05/11/2020


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