sábado, 21 de dezembro de 2019

Crítica: O Relatório | Todos os Torturadores do Presidente


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Os terríveis atentados terroristas que os EUA sofreram no fatídico dia 11 de setembro de 2001 que destruíram por completo as torres gêmeas do World Trade Center e uma parte do Pentágono (sede das forças armadas) mudaram para sempre o país - assim como o resto do mundo. Uma dessas mudanças foi o modo como o governo estadunidense, através de seu serviço secreto, a CIA, decidiu proteger o seu povo de novos ataques usando métodos reprováveis, desprovidos de qualquer tipo de ética. Essa é a premissa da qual parte O Relatório

Daniel Jones (Adam Driver, de O Último Jedi. Veja a crítica aqui) trabalha como assistente no gabinete da senadora do Partido Democrata (PD) Danielle Feinstein (Annete Bening, de Os Imorais) e é incumbido por ela de conduzir uma investigação sobre a destruição de fitas de vídeo de interrogatórios da CIA, o serviço secreto dos EUA, com suspeitos de terrorismo. 

As investigações de Daniel o levam ao programa de detenção e interrogatório da CIA, criado  após os atentados de 11/09/2001, acusado de usar tortura para interrogar os suspeitos. É formada uma comissão de investigação sob a liderança de Daniel com a participação de membros do Partido Republicano (PR) para aprofundar as investigações. 

Apesar do PR - e até mesmo alguns membros do PD - abandonar o caso, da má vontade do chefe da CIA, John Brennan (Ted Levine, de O Silencio dos Inocentes) e da atitude evasiva do Chefe de Gabinete do governo, Denis McDonough (Jon Hamm, da série Mad Men: Inventando Verdades), Daniel prossegue seu trabalho para descobrir toda a verdade. 

O Relatório é um filme que segue a linha de denúncia e investigação política tais como nos clássicos Z (1968, de Costa-Gavras), JFK - A Pergunta que Não Quer Calar (1991, de Oliver Stone) e Todos os Homens do Presidente (1976, de Alan J. Pakula) e, como tal, há muita intriga, mistério e sabotagens no desenrolar

A medida que assistimos O Relatório e acompanhamos todos os passos de Daniel Jones em sua busca incansável e, não raro, obsessiva por respostas do por quê seu país utilizou a tortura como método de interrogatório, pois não cola a justificativa de "proteger os EUA de futuros ataques", vemos, chocados, que para esses homens e mulheres da CIA, basta um mal para justificar outro - as cenas de tortura são bem realistas e revoltantes - como se, para exorcizar um demônio, fosse preciso utilizar meios satânicos. Os seres humanos mostram seu pior lado e sem nenhum arrependimento ou crise de consciência.

Para mim, uma das cenas mais assustadoras d' O Relatório é quando o advogado do governo de George W. Bush, John Yoo (interpretado por Pun Bandhu, de O Jogo do Dinheiro), que, de um modo muito calmo, frio e cínico, justifica a tortura por uma interpretação extremamente distorcida da Convenção de Genebra, que estabeleceu normas internacionais para o tratamento de prisioneiros de guerra. Uma cena parecida com a de outro filme que trata da administração Bush (mais especificamente do vice-presidente Dick Chaney), Vice (2018. Veja a crítica aqui).

Chama a atenção as citações ao ex-administrador de sistemas da CIA, Edward Snowden, famoso por ter revelado ao mundo a espionagem estadunidense em todos os modos e níveis e as comparações feitas - direta ou indiretamente - com Daniel. Snowden é um herói para uns e um traidor para outros. E para Daniel Jones? Embora não diga abertamente, dá para perceber que, para ele, traidor Snowden não é, mas, ao mesmo tempo ele não quer ser obrigado a sair do país para não ser preso tal como seu conterrâneo.

O Relatório também mostra cenas bastante familiares aos brasileiros. A primeira, é o uso de escutas telefônicas (conhecidas como "arapongas"), que não poupa nem o senado estadunidense. A segunda, é a de que "o presidente não sabia de nada" (ah, tá). E a terceira, é o uso de censura antes de divulgar informações, algo que, infelizmente, volta a ser cada vez mais comum nesta era das trevas pela qual o Brasil passa atualmente.

O Relatório é apenas o terceiro trabalho de direção do produtor e roteirista Scott Z. Burns - Os dois primeiros foram o filme PU-239 (2006) e um episódio da série Californication (2007). Burns mostra-se bastante competente na função mantendo o público atento e interessado durante todo o desenrolar da trama. Essa competência também pode ser vista na direção do elenco.

Adam Driver é mesmo o ator-sensação do momento. Tem uma ótima performance, digna de uma indicação ao Oscar, assim como em seu outro trabalho História de Um Casamento (em breve, faremos a crítica desse filme). Adam interpreta o herói honesto, obcecado em fazer justiça, o tipo com o qual o espectador identifica-se mesmo que, por vezes, use meios pouco comuns - o que acaba por gerar uma contradição, visto que o objeto de sua investigação é justamente os de meios incomuns de agir do governo dos EUA. Pena que, caso seja indicado, irá bater de frente com aquele que é considerado o grande favorito ao prêmio, Joaquin Phoenix, por Coringa.

A performance de Annete Bening é igualmente ótima, tendo sido indicada ao prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro de 2020 (que costuma ser chamado de prévia do Oscar). Sua personagem transmite seriedade e bom senso, mas é dura para determinados assuntos como por exemplo, quando diz o que pensa de Edward Snowden. Annete tem grandes chances de conquistar o prêmio, embora vá enfrentar um forte concorrência como, por exemplo Kathy Bates (em Richard Jewell) e Jennifer Lopez (As Golpistas). Se for indicada ao Oscar, o que é bem provável, será a quinta vez que concorrerá ao prêmio maior do cinema estadunidense, mas novamente terá forte concorrência. 

O Relatório é um filme que chega na hora certa. Com a ascensão de governos e partidos fascistas e/ou de extrema-direita em várias partes do mundo, que tem em sua "ideologia" a retórica de "bandido bom é bandido morto", terraplanismo em pleno século XXI, fundamentalismo religioso de igrejas e seitas neopentecostais, tortura como meio e fim para alcançar suas metas, intolerância e ódio infinitos, O Relatório mostra que o jeito certo de fazer-se justiça - com civilidade, mas também com firmeza e seriedade - funciona e deve ser um guia para uma era mais luminosa que acabe com a era das trevas na qual vivemos hoje. 


FICHA TÉCNICA
  • Título Original: The Report
  • Direção: Scott Z. Burns
  • Elenco: Adam Driver (Daniel Jones), Annete Bening (Dianne Feinstein), Jon Hamm (Dennis McDonough), Ted Levine (John Brennan), Michael C. Hall (Thomas Eastman), Tim Blake Nelson (Raymond Nathan), Ben McKenzie (agente da CIA), Pun Bandhu (John Yoo)
  • RoteiroScott Z. Burns
  • Música: David Wingo
  • Fotografia: Eigil Bryld
  • Duração: 120 minutos
  • Ano: 2019
  • Lançamento comercial no Brasil: 17/10/2019 (Mostra Internacional de Cinema de São Paulo), 29/11/2019 (Amazon Prime Video)


          RESUMO DO FILME

Daniel Jones, assistente da senadora Dianne Feinstein, lidera a investigação sobre o programa de detenção e interrogatório da CIA criado após os atentados terroristas de 11/09/2001.


COTAÇÃO
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Veja aqui o trailer oficial de O Relatório (legendado - HD):



Publicado no AdoroCinema em 21/12/2019.



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A Gift From Bob | Sequência de Um Gato de Rua Chamado Bob será lançada no Natal de 2020


Ele está de volta! Após o sucesso de Um Gato de Rua Chamado Bob (veja a crítica aqui), o gato mais famoso do mundo vai retornar na sequência que se chamará A Gift From Bob (Um Presente de Bob).

Baseado no livro de mesmo nome de autoria do inseparável companheiro de Bob, o músico e escritor James Bowen, A Gift From Bob, contará como foi o último Natal que a dupla passou nas ruas de Londres.

A Gift From Bob, cujas filmagens já começaram, também terá de volta o interprete de James no primeiro filme, Luke Treadaway (Ataque ao Prédio). A direção está a cargo do ator e cineasta estadunidense Charles Martin Smith (Os Intocáveis).

A estreia de A Gift From Bob está prevista para o final de 2020, provavelmente na época das festas de Natal. Até Papai Noel vai querer ver o filme!

Veja o vídeo com os bastidores das filmagens de A Gift From Bob (original em inglês):


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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

ULTRAPASSAMOS AS 80.000 VISUALIZAÇÕES!!!!


Nesta nova fase pela qual passa, Panorama do Cinema não vai abandonar a tradição de comemorar as visualizações que vocês, queridas amigas e queridos amigos, nos dão e com as quais nos honram.

E o que podemos dar em troca? Simplesmente melhorarmos cada vez mais para que o nosso amado público, que é a nossa razão de estar aqui, sinta-se cada vez mais satisfeito com nosso modesto, mas árduo e apaixonante trabalho. Muito obrigado a todos!

É claro que não nos esquecemos da nossa champagne para comemorar!


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sábado, 14 de dezembro de 2019

Dezembro Vermelho | Conscientização e Prevenção a AIDS


Dezembro Vermelho é o mês de conscientização e combate à AIDS. Panorama do Cinema faz sua contribuição a esse movimento  de utilidade pública apresentando os vídeos da mini- série da Suécia Não Enxugue as Lágrimas sem Luvas, que mostra o impacto da AIDS na comunidade LGBT sueca na década de 1980. Estar consciente e informado é a melhor prevenção.

Veja abaixo os vídeos da mini- série Não Enxugue as Lágrimas sem Luvas (legendado):

Episódio 1

Episódio 2

Episódio 3


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