sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Crítica: Transtorno Explosivo | A Menina-Hulk


Benni (a atriz-mirim Helena Zengel, de Die Tochter) tem nove anos e sofre de uma doença que a faz ter grandes ataques de raiva - o que leva-a a agredir todos ao seu redor - a ponto de sua mãe, Bianca (Lisa Hagmeister, de Counterpart: Mundo Paralelo), ter medo de viver com ela, o que faz com que Benni passe por diversos tratamentos médicos e por vários lares adotivos, mas ela insiste em viver com a mãe. Sua assistente social, Sra. Bafané (Gabriela Maria Schmeide, de Henrique IV, o Grande Rei da França), faz todo o possível para ajudar a menina a viver novamente com sua mãe ou em um lar adotivo que aceite-a. O acompanhante escolar de Benni, Michael, apelidado Misha (Albrecht Schuch, de Berlin Alexanderplatz), é especializado em tratar de jovens delinquentes e tenta ajudar a criança levando-a para passar um tempo em uma cabana no campo.

O Transtorno Explosivo Intermitente (cuja sigla é TEI) é uma doença mental na qual uma pessoa, por pouca ou nenhuma razão aparente, tenha ataques de raiva imensos agredindo outras pessoas verbalmente, fisicamente ou de ambas as formas. Até o momento, a medicina não sabe com exatidão o que origina o TEI. O tratamento consiste de medicamentos apropriados e psicoterapia e quanto antes o problema for diagnosticado, melhor. Infelizmente, aqueles que sofrem de TEI geralmente procuram tratamento quando suas vidas familiar e profissional já estão arruinadas e/ou quando respondem a processos judiciais. O TEI é popularmente conhecido como “Síndrome do Hulk”, personagem de histórias em quadrinhos da Marvel conhecido por ter problemas em lidar com sua raiva. E, antes que algum engraçadinho de plantão pergunte, quem sofre de TEI não fica verde.

Nos últimos cinco anos, o cinema alemão passa por excelente fase com filmes que são sucesso de público e crítica tendo, inclusive, ganho o Prêmio da Crítica do Festival de Cannes com Toni Erdman (2016), que também foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (que agora chama-se Melhor Filme Internacional). Transtorno Explosivo confirma essa fase e, com justiça, foi premiado em vários festivais de cinema dos quais participou. Em 2019, recebeu o Prêmio de Contribuição Artística do prestigioso Festival de Berlim e o Prêmio do Júri de Melhor Filme na 43ª Mostra de Cinema de São Paulo. Em 2020, Transtorno Explosivo foi consagrado na sua Alemanha natal com oito vitórias no festival Prêmios do Cinema Alemão, o mais importante do país: Melhor Filme, Diretor (Fingsheid), Atriz (Zegel), Ator (Schuch), Atriz Coadjuvante (Schmeide), Roteiro Original, Edição, Edição de Som.

No cinema mundial, filmes sobre doenças físicas e/ou mentais tais como o estadunidense Sentimentos Que Curam (2014. Leia a crítica aqui) ou de jovens problemáticos como o francês De Cabeça Erguida (2015. Leia a crítica aqui), sempre tiveram a atenção do público, em particular do público brasileiro, que sempre assiste esses gêneros de filme com grande interesse, portanto Transtorno Explosivo é, com certeza, um filme que vai cair no gosto nacional.

A jovem e talentosa diretora Nora Fingscheid (de Boulevard’s End), que também é a autora do roteiro, fez com que todas as peças de Transtorno Explosivo encaixassem umas nas outras e funcionassem com perfeição. Sua direção é segura e precisa e faz com que as duas horas de filme fluam muitíssimo bem sem cansar o espectador. Fingscheid trata esse tema com a seriedade que merece e com emoção sem apelar para o dramalhão ou sentimentalismo apelativo. Seu trabalho com os intérpretes da película é igualmente excelente, no que é ajudada pelo ótimo elenco.

Albrecht Schuch e Gabriela Maria Schmeide estão muito bem em seus papéis de acompanhante escolar e de assistente social que tentam de todas as formas ajudar Benni e mostram que fizeram por merecer os prêmios que receberam. Gabriela, em particular, é responsável por uma das cenas mais comoventes de Transtorno Explosivo. Porém, sem dúvida alguma, é Helena Zengel a grande estrela do filme.

Helena Zengel tem apenas 12 anos de idade, mas já é uma veterana em atuação com um currículo de mais de 10 filmes para o cinema e a TV. Em Transtorno Explosivo, sua personagem, Benni, reflete com impressionante – e, por vezes, assustadora - exatidão o que é alguém que sofre de TEI. De criança fofa, engraçadinha, simpática e amorosa, passa, em um estalar de dedos, a uma criatura amedrontadora de fúria incontrolável, uma autêntica Menina-Hulk capaz de apavorar até mesmo os adultos mais experientes em lidar com crianças-problemas. Sua atuação é tão boa que chamou a atenção de Hollywood, que, sabendo que o público dos EUA ama uma criança precoce (basta lembrar de Shirley Temple e Macaulay Calkin), a escalou como protagonista principal ao lado de Tom Hanks (Forrest Gump) no Western Relatos do Mundo (2020). Se for bem guiada, Helena irá além de ser uma estrela-mirim e terá uma carreira longa e premiada tal como Jodie Foster (O Silêncio dos Inocentes) que teve um início de carreira semelhante.

Transtorno Explosivo lida muito bem com um tema difícil – como são, aliás, filmes sobre doenças e crianças e jovens raivosos. Quem for ao cinema assistir ao filme sairá da sala impressionado e alertado sobre esse problema mental, mas também consciente que viu um grande filme cujas imagens e sons ficarão sempre retidos em sua retina e memória.


FICHA TÉCNICA
  • Título Original: System Sprenger
  • Direção: Nora Fingsheid
  • Elenco: Helena Zengel (Benni), Albrecht Schuch (Misha), Gabriela Maria Schmeid (Sra. Bafané), Lisa Hagmeister (Bianca)
  • Roteiro: Nora Fingsheid
  • Música: John Gürtler
  • Fotografia: Yunus Roy Imer
  • Duração: 119 minutos
  • País: Alemanha
  • Ano: 2019
  • Lançamento comercial no Brasil: 05/11/2020

RESUMO DO FILME
Benni é uma menina de nove anos que sofre de uma doença que a faz ter terríveis ataques de raiva. Uma assistente social e um rapaz que trata de jovens delinquentes tentam ajudar Benni a controlar-se.

COTAÇÃO
✪✪✪✪✪

Veja abaixo o trailer oficial de Transtorno Explosivo (legendado - HD):



Publicado no AdoroCinema em 06/11/2020


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quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Crítica: Bill & Ted – Encare a Música | Bill e Ted envelheceram. E seu humor também


Cerca de 30 anos após suas aventuras pelo tempo, Bill (o inglês Alex Winter, de Grand Piano) e Ted (Keanu Reeves, da franquia John Wick) chegaram à meia-idade casados respectivamente com as princesas Joanna (Jayma Mays, da série Glee) e Elizabeth (Erinn Hayes, de Band Aid) que lhes deram as filhas Thea (a australiana Samara Weaving, da franquia A Babá. e sobrinha do ator Hugo Weaving da saga O Senhor dos Anéis) e Billie (Brigette Lundy-Paine, de Homem Irracional. Leia a crítica aqui). Os dois amigos vivem uma vida monótona e ainda não conseguiram compor a música perfeita. 

Então, recebem a visita de uma visitante do futuro, Kelly (a atriz e dubladora Kristen Schaal, da série O Último Cara da Terra), filha de Rufus (o comediante George Carlin, de O Príncipe das Marés, já falecido e que aparece em imagens de arquivo), e diz a ambos que devem compor a música perfeita ou o universo será destruído pela Grande Líder (Holland Taylor, de Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você). 

Bill e Ted decidem viajar para o futuro na cabine telefônica do tempo para pegar a música de si mesmos e trazê-la ao presente. Thea e Billie decidem ajudar seus pais viajando igualmente pelo tempo para formar a banda que tocará a música e recrutam músicos como Jimi Hendrix (DazMann Still, de Manifesto), Mozart (Daniel Dorr, de Counterpart: Mundo Paralelo), Louis Armstrong (Jeremiah Craft, da série Luke Cage), Kid Cudi (de Rampage: Destruição Total, que interpreta a si mesmo) e um velho conhecido de Bill e Ted, Morte (William Sadler, de Estrada Sem Lei). 

A franquia Bill & Ted iniciou-se em 1989 com Bill & Ted: Uma Aventura Fantástica e teve uma continuação em 1991 chamada Bill & Ted: Dois Loucos no Tempo. Voltados para o público adolescente, esses filmes tinham bons efeitos especiais, trilha sonora com sucessos de Hard Rock, brincavam com a temática de viagens no tempo tal como a trilogia De Volta Para o Futuro, de Robert Zemeckis (de A Travessia. Veja a crítica aqui) com a participação de várias figuras históricas e foram pioneiros do chamado “humor besteirol”, que eu chamo de “humor retardado”, pois os protagonistas eram exatamente isso: retardados. Como exemplos principais temos o filme Debi & Loide – Dois Idiotas em Apuros (1994) e a série de animação Beavis & Butt-Head (1993-1997). Reparam que tanto essas produções quanto a que analisamos aqui tem duplas como personagens principais?

O “humor besteirol” ou “retardado” dominou a década de 1990, um tempo em que, por incrível que pareça, tinha gente que achava que ser débil mental era o máximo. É um tipo de comédia muito datada e talvez seja esse o maior problema de Bill & Ted – Encare a Música. A dupla de amigos, obviamente, envelheceu e o seu senso de humor também. Este estilo de comédia não funciona muito bem para o público da década de 2020, o período da era das trevas do século XXI. Irá agradar mesmo aos fãs dos atores e aqueles que cresceram assistindo aos filmes anteriores e semelhantes a estes.

Entretanto, apesar desse problema, Bill & Ted – Encare a Música consegue ser uma diversão agradável. Os efeitos especiais continuam bons, a presença de figuras históricas ajuda a história a fluir bem sem confundir com tantas idas e vindas no tempo, a trilha sonora vem com o tradicional Hard Rock e a dupla Reeves-Winter continua afinada e entrosada no besteirol retardado de seus personagens.

É justamente o seu elenco que ajuda a salvar  Bill & Ted – Encare a Música. Para mim, o destaque vai para outra dupla: Weaving & Lundy-Paine como Thea e Billie, as filhas tão retardadas quanto seus pais. Chamou-me particularmente a atenção Samara Weaving como Thea, que tem o mesmo corte de cabelo, trejeitos e maneirismos de Ted embora seja filha de Bill! O outro destaque vai para Jeremiah Craft, convincente como o jovem Louis “Satchmo” Armstrong.

Quem for assistir Bill & Ted – Encare a Música não perderá seu tempo pois, apesar do humor datado, cumpre bem seu papel de descontrair o público que sairá satisfeito do cinema, embora Bill & Ted – Encare a Música não seja daquelas comédias de rolar no chão de tanto rir. E nestes tempos de pandemia e de era das trevas pelas quais passamos atualmente, Bill & Ted – Encare a Música pode ser uma boa válvula de escape em meio a tanta tensão.

FICHA TÉCNICA
  • Título Original: Bill & Ted Face The Music
  • Direção: Dean Parisot
  • Elenco: Keanu Reeves (Ted), Alex Winter (Bill), Samara Weaving (Thea), Brigette Lundy-Paine (Billie), William Sadler (Morte)
  • RoteiroChris Matheson, Ed Solomon
  • Música: Mark Isham
  • Fotografia: Shelly Johnson
  • Duração: 91 minutos
  • País: EUA
  • Ano: 2020
  • Lançamento comercial no Brasil: 05/11/2020

        RESUMO DO FILME

Bill e Ted devem compor a música perfeita para salvar o universo.

COTAÇÃO
✪✪✪

Veja aqui o trailer oficial de Bill & Ted - Encare a Música (legendado - HD):


Publicado no AdoroCinema em 05/11/2020


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terça-feira, 16 de junho de 2020

Morreu Bob, o gato de rua que salvou a vida de um sem-teto



Ouça o podcast desta matéria nas plataformas Anchor, Castbox, Deezer, Google Podcasts, Spotify e Spreaker.

Atualizado em 06/11/2020.

Este Mundo triste onde vivemos atualmente ficou ainda mais triste hoje. Foi anunciada na sua página oficial do Facebook, a morte do gato Bob, companheiro fiel do escritor e músico inglês James Bowen, cujas vidas foram contadas em livros e filmes, em 15 de junho último. Bob foi atropelado por um carro próximo a casa onde vivia com seu dono. Foi levado prontamente ao veterinário, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu.  Tinha uma idade estimada em 14 anos (James o encontrou já crescido e achava que, se não fosse o acidente, Bob viveria pelo menos mais dois anos). Panorama do Cinema irá agora recordar a história dessa dupla que ficou famosa no mundo inteiro.

James Bowen era um sem-teto de Londres viciado em drogas sem amigos e rompido com sua família. Em 2007, logo após entrar em um programa de recuperação de seu vício, encontrou um gato cor de laranja machucado e desnutrido. Decidiu tomar conta do bichano e chamou-o Bob. Essa decisão mudou sua vida por completo.

Esse homem e seu gato tornaram-se inseparáveis. Para cuidar devidamente de Bob, James dedicou-se a fundo no programa de recuperação até, finalmente, largar as drogas. Mas, ainda era preciso ganhar a vida. Era comum ver a ambos no centro de Londres com James tocando seu violão por alguns trocados ou vendendo a revista Big Issue, um projeto voltado para pessoas em situação de risco (no Brasil existe um projeto semelhante chamado Revista Ocas - n. do a.).

A dupla chamou a atenção de um repórter, que decidiu entrevista-los. A reportagem foi lançada em jornal e, por sua vez, chamou a atenção de uma editora que propôs ao sem-teto e seu mascote publicar a sua vida em livro.

Em 2012, foi lançada a biografia Um Gato de Rua Chamado Bob, que tornou-se, quase de imediato, best-seller em toda a Grã-Bretanha. O livro foi traduzido em 30 idiomas, inclusive o português, tornando-se igualmente um best-seller em dezenas de países. Seguiu-se um segundo livro chamado O Mundo Pelos Olhos de Bob, que repetiu o sucesso de seu antecessor, além de livros infantis com a história de Bob e James adaptada para as crianças.

Um filme para o cinema era apenas uma questão de tempo. Em 2016, foi lançado o filme Um Gato de Rua Chamado Bob, com direção de Roger Spottiswoode (007 - O Amanhã Nunca Morre), o ótimo Luke Treadaway (Ataque ao Prédio) no papel de James e Bob "atuando" como ele próprio (veja a crítica aqui). O filme teve uma Premiere Mundial de gala que contou com a presença da esposa do Príncipe William, a Duquesa Kate Middleton (veja aqui).

Um Gato de Rua Chamado Bob recebeu boas críticas e fez sucesso. Em 2017, conquistou o prêmio de Melhor Filme Britânico da National Film Awards UK superando o favorito a premiação e vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, Eu, Daniel Blake, do cineasta Ken Loach (veja aqui).

Em 2018, foi lançada uma webserie de Bob em desenho animado chamada Street Cat Bob, na qual vive divertidas aventuras com seus amigos (veja aqui). A série tem, até o momento, 14 episódios lançados.
 
Em 2019, foram iniciadas as filmagens da sequência de Um Gato de Rua Chamado Bob. O novo filme chama-se A Gift From Bob (literalmente Um Presente de Bob, mas ainda sem título oficial em português), baseado no livro de mesmo nome de autoria de James Bowen no qual é contada a história do último Natal que ele e Bob passaram na rua. Luke Treadaway volta a interpretar James e Bob novamente "atua" como ele próprio. A direção cabe ao ator e cineasta estadunidense Charles Martin Smith (Os Intocáveis. Veja aqui). O filme já está praticamente pronto e sua estreia estava prevista para o Natal de 2020, mas, devido a pandemia do Covid-19, foi adiada para fevereiro de 2021.

Um arrasado James Bowen disse sobre o seu já saudoso gato:

"Bob salvou minha vida. Simples assim. Ele me deu muito mais que companheirismo. Com ele ao meu lado, eu achei uma direção e um propósito que havia perdido. O sucesso que alcançamos juntos através de nossos livros e filmes foi miraculoso. Ele encontrou milhares de pessoas, tocou a vida de milhões. Nunca houve um gato como ele. E nunca haverá outro novamente. Eu sinto como se a luz tivesse saído de minha vida. Nunca o esquecerei"

Bob foi de fato único e inesquecível. Se existe um céu para os animais, este gato cor de laranja que sempre usava um cachecol em seu pescoço e fazia com muita graça o famoso cumprimento "high five" tem o seu lugar garantido. Que descanse em paz. 

Veja aqui o trailer oficial de Um Gato de Rua Chamado Bob (legendado - HD):



Veja aqui o trailer oficial de A Christmas Gift From Bob (original em inglês - HD):



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terça-feira, 17 de março de 2020

O fusquinha Herbie em SP!


Atualizado em 06/11/2020.

Quem não conhece o fusca, um dos carros mais populares e amados do mundo? O nome "fusca" (em Portugal é chamado de "carocha") é derivado da palavra alemã Volkswagen, cuja sigla é VW, que significa literalmente "carro do povo". Criado pelo projetista e engenheiro automobilístico alemão Ferdinand Porsche, desde o início de sua produção, em 1938, o fusca conquistou corações, mentes e almas do público por seu preço acessível à classe trabalhadora, sua mecânica ao mesmo tempo robusta, simples e inovadora (o seu famoso motor refrigerado a ar marcou época) e seu design único.

A II Guerra Mundial interrompeu a produção do fusca, que foi retomada em 1948. No ano seguinte, começou a ser exportado para os EUA, onde tornou-se uma febre entre os consumidores. Os primeiros fuscas chegaram no Brasil em 1950, importados da Alemanha. A produção oficial do fusca em nosso país começou em 1959, foi interrompida em 1986, retomada em 1993 e encerrada novamente em 1996. O México continuou fabricando  o fusca até 2003, quando a produção do amado carro foi encerrada definitivamente. O fusca vendeu em todo mundo mais de 21 milhões de cópias e é, até hoje, o carro mais vendido de sempre.

O cinema, mais especificamente a Walt Disney Pictures, percebeu o potencial do simpático carinho e, em 1968, lançou o filme Se Meu Fusca Falasse (The Love Bug) com o ator Dean Jones (franquia Beethoven). Voltado para o público familiar, a crítica torceu o nariz para a premissa simples do filme, mas o público amou, principalmente seu grande astro, o fusquinha Herbie. Se Meu Fusca Falasse foi a terceira maior bilheteria do ano, perdendo apenas para o clássico 2001, Uma Odisseia no Espaço e Funny Girl - A Garota Genial.

Herbie fez tanto sucesso que apareceu em mais quatro filmes para o cinema; As Novas Aventuras do Fusca (1974), O Fusca Enamorado (1977), As Novas Diabruras do Fusca (1980) e, Herbie, Meu Fusca Turbinado (2005), com Lindsay Lohan (Meninas Malvadas) à frente do elenco. Apesar do intervalo de 25 anos entre os filmes, Herbie mostrou estar em plena forma, o que fez o filme ser um novo sucesso. 

Herbie também apareceu na televisão com a minissérie Herbie, The Love Bug (1982), novamente com Dean Jones no papel principal. Em 1997, houve um reboot de Se Meu Fusca Falasse feito para a TV, cuja história era narrada por Jones e, no papel principal, nada mais nada menos que o rei dos canastrões, Bruce Campbell (veja sua biografia aqui). Além disso, apareceu em dois games.

Neste ano da graça de 2020, Herbie pode ser visto no Brasil, mais especificamente em São Paulo. O Shopping Frei Caneca, na capital  paulista, em parceria com o Fusca Clube Brasil, iniciou em 6 de março último, a Exposição do Fusca, na qual são expostos vários modelos do fusca das décadas de 1960, 70, 80, 90, até o chamado New Beetle ou "o novo fusca".

Entre os fuscas expostos há uma réplica fiel de nosso querido Herbie, como vocês podem checar nas fotos abaixo. Quem quiser ver a Exposição do Fusca, cuja entrada é gratuita, o Shopping Frei Caneca fica Rua Frei Caneca 569, Consolação, São Paulo-SP, e funciona de segunda à sábado das 10hrs até as 22hrs e, domingos e feriados, das 14hrs até às 20 hrs. A exposição vai até o próximo dia 5 de abril.

Veja abaixo as fotos da réplica de Herbie:  











Veja aqui o trailer do filme Se Meu Fusca Falasse (original em inglês):



Veja aqui um trecho de Herbie, Meu Fusca Turbinado ao som de "Born to Be Wild" (original em inglês):





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terça-feira, 10 de março de 2020

Crítica: O Oficial e O Espião | A busca pela Verdade e pela Justiça


Alfred Dreyfus (Louis Garrel, de Adoráveis Mulheres) é capitão do exército francês e um dos poucos judeus alistados. No final de 1894, é acusado de alta traição por ter fornecido informações secretas para a Alemanha, condenado à prisão perpétua, exílio na colônia penal da Ilha do Diabo e expulso das forças armadas em uma cerimônia humilhante.

O recém-promovido e nomeado chefe do serviço de inteligência do exército, Coronel Georges Picquart (Jean Dujardin, de O Lobo de Wall Street), durante uma investigação de um outro caso de traição, descobre provas que mostram que o Capitão Dreyfus é inocente e inicia sua luta para inocentar o colega oficial. Obtém o apoio e ajuda do grande escritor Émile Zola (André Marcon, de O Melhor Está por Vir), que publica uma carta aberta em um jornal ao presidente da França na qual afirma a inocência de Dreyfus e acusa o alto escalão do exército de serem os verdadeiros responsáveis. A carta tem o título de “J’ Accuse” (“Eu Acuso”).

O final do século XIX é turbulento para França com um amontoado de acontecimentos tais como a derrota na Guerra Franco-Prussiana, a Comuna de Paris, a ascensão da Terceira República, o escândalo de corrupção na construção do Canal do Panamá e conflito de separação entre Estado e Igreja, que levaram o país ao caos político e social. OAffaire Dreyfus” (“Caso Dreyfus”, em francês), serviu tanto como válvula de escape quanto como desculpa para os problemas que ocorriam – a famosa e manjada “conspiração judaica” junto com a “invasão de estrangeiros” que “deturpavam a cultura, a moral e os bons costumes”.

Mais de 120 anos depois, oAffaire Dreyfus” continua a ser um assunto quente na França. É um daqueles episódios que uma nação acaba por sentir vergonha de si mesma, pois, além de ser um exemplo de injustiça, com erros jurídicos grosseiros, também mostra o antissemitismo e a xenofobia, dois problemas que, em século XXI, persistem em permanecer entre nós, particularmente na Europa onde, devido a volta de partidos e/ou movimentos de extrema-direita, episódios preconceituosos, principalmente contra imigrantes, refugiados e outras minorias ocorrem com frequência cada vez maior.

Apesar da história ser verdadeira, a principal fonte de O Oficial e O Espião é o romance homônimo do escritor britânico Robert Harris, que também foi o autor do roteiro junto com o diretor do filme, o cineasta franco-polonês Roman Polanski (A Pele de Vênus). Ambos já haviam trabalhado juntos no filme O Escritor Fantasma (2010), outra adaptação de uma obra de Harris. Antes disso, quando conheceram um ao outro, o escritor sugeriu a Polanski adaptar outro romance seu, Pompéia, obra inspirada, segundo o próprio Harris, no clássico Chinatown (1974). Embora o diretor tenha interessado-se, o projeto não avançou.

Em O Oficial e O Espião, Polanski, já com 86 anos de idade, mostra estar em plena forma. Seu trabalho na direção é seguro, preciso, pondo as doses certas de emoções sem apelar para o drama barato. O filme é uma denúncia contra o racismo, antissemitismo e xenofobia, mas também é um thriller político, policial além de filme de tribunal. É uma verdadeira salada, mas Polanski faz a película fluir tão bem na tela que essa mistura acaba por ser perfeitamente harmoniosa.

A mão de Roman Polanski também pode ser vista na direção do elenco. Jean Dujardin, após sua consagração no Oscar e no Festival de Cannes com a conquista dos prêmios de Melhor Ator com o filme O Artista (2011), tem outra performance digna de premiação. Com atuação discreta, mas moderna e impactante, Dujardin transforma Georges Picquart no tipo de herói que deve-se aplaudir: com coragem – sem ser um Brucutu truculento - e consciência de dever e justiça. Ele não superpoderes como os super-heróis da Marvel e da DC. O seu poder reside no seu alto senso de moral e de busca pela verdade. Mesmo o caso que tem com uma mulher casada, que, para alguns, pode ser algo reprovável, é mostrado mais como uma imperfeição de um ser humano (imperfeição essa a qual todos estamos sujeitos) do que de um herói.

Louis Garrel aparece pouco em O Oficial e O Espião, mas quando aparece, sua performance dá tamanha dignidade ao personagem que interpreta, o Capitão Alfred Dreyfus, (como, por exemplo, na cena da humilhante expulsão do oficial), a ponto de sentirmos sua presença nas partes em que não aparece. Aliás, para mim, uma pequena falha de O Oficial e O Espião, é justamente essas poucas vezes que Garrel aparece, embora o personagem principal seja Picquart e não Dreyfus.

A esposa de Polanski, a atriz e cantora Emmanuelle Seigner (No Portal da Eternidade), interpreta Pauline Monnier, a mulher casada que tem um caso de Georges Picquart. Aos 53 anos, Emmanuelle continua muito bonita e uma atriz cada vez mais segura. Embora sua personagem não tenha grande interferência no “Caso Dreyfus”, ela mostra ser não apenas o interesse amoroso do herói, mas igualmente uma mulher de personalidade independente, à frente de seu tempo.

O Oficial e o Espião vem colecionando prêmios desde a sua prèmiére, em 2019. No Festival de Veneza, conquistou o Grande Prêmio do Júri, além do Prêmio FIPRESCI para Polanski e o prêmio de Melhor Filme de Língua Estrangeira. Já no Prêmio César (versão francesa do Oscar) deste ano, foi indicado a 12 prêmios, tendo conquistado os de Melhor Figurino, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Diretor para Polanski.

Embora O Oficial e O Espião seja um campeão de bilheteria na França, à frente de arrasa-quarteirões como Frozen II e Star Wars: A Ascensão Skywalker, as polêmicas insistem em acompanhar Roman Polanski devido ao já mais do que conhecido escândalo das relações sexuais que teve com uma menina de 13 anos até a mais recente, um suposto caso de estupro que teria ocorrido em 1975. As manifestações das feministas desde a estreia do filme são constantes.

Por tudo isso, Polanski está a tornar-se um recluso, raramente aparece em público, tanto que não foi receber os prêmios que conquistou em Veneza e Paris. Emmanuelle Seigner foi em seu lugar. Em Veneza, ela comentou as polêmicas que envolvem seu marido e sua relação com O Oficial e O Espião:

Para mim é difícil falar pelo Roman. O que posso dizer é que o sentimento de perseguição patente no filme é algo que ele conhece bem. Basta olhar para a sua vida” (veja aqui).

Com ou sem polêmicas de Roman Polanski, O Oficial e O Espião é um filme que chega em um momento oportuno. Na era das trevas em que vivemos atualmente em nosso país tendo como mandatário um demente à frente de uma equipe de governo formada por verdadeiros lunáticos com um “guru” que não passa de um astrólogo boca-suja, as mensagens que o filme transmite de anti-racismo, anti-preconceito, a busca pela verdade e uma justiça que faça jus ao nome, são mais do que necessárias. São cruciais.


FICHA TÉCNICA
  • Título Original: J' Accuse
  • Direção: Roman Polanski
  • Elenco: Jean Dujardin (Tenente-Coronel Georges Picquart), Louis Garrel (Capitão Alfred Dreyfus), Emmanuelle Seigner (Pauline Monnier), André Marcon (Émile Zola)
  • RoteiroRobert Harris, Roman Polanski (baseado no romance "An Officer and A Spy")
  • Música: Alexandre Desplat
  • Fotografia: Pawel Edelman
  • Duração: 132 minutos
  • País: França
  • Ano: 2019
  • Lançamento comercial no Brasil: 12/03/2020


          RESUMO DO FILME


O Capitão do exército francês, Alfred Dreyfus, é acusado de alta traição e condenado à prisão perpétua. Porém, o Tenente-Coronel Georges Picquart desconfia de uma injustiça e começa a investigar o Caso Dreyfus. 


COTAÇÃO
✪✪✪✪✪

Veja aqui o trailer oficial de O Oficial e O Espião (legendado - HD):



Publicado no AdoroCinema em 11/03/2020.


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