Cartaz do filme
A telenovela da Rede
Record de Televisão – pertencente à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD),
de Edir Macedo - Os Dez Mandamentos,
baseada nos textos da Bíblia Sagrada, foi um sucesso de público e crítica, em
2015. E após esse grande sucesso, a emissora paulista surpreendeu a todos ao
dizer que a novela teria uma adaptação para o cinema, em 2016, em uma
superprodução com cenas inéditas e um final alternativo. O nome do filme, como
não poderia deixar de ser, é Os Dez
Mandamentos – O Filme.
Os
Dez Mandamentos – O Filme
teve uma pré-venda recorde de 3,2 milhões de ingressos, sendo que na estreia
compareceram 2,2 milhões de pessoas chegando a superar, inclusive, a
megaprodução Star Wars: O Despertar da
Força. Os Dez Mandamentos – O Filme foi
lançado em 1092 salas de cinema, a mais ampla de estreia de um filme brasileiro
desde a chamada retomada do cinema nacional.
O sucesso de público
já estava garantido. Faltava o sucesso de crítica.
Veio a estreia de Os Dez Mandamentos – O Filme e as
críticas não foram muito favoráveis. A opinião foi unânime: o principal defeito
do filme foi a condensação de 176 capítulos da novela em apenas 2 horas de
filme, que resultou em uma narração caótica e confusa, de difícil compreensão
tanto para aqueles que acompanharam a novela quanto – principalmente – para
aqueles que não acompanharam.
Obviamente que a IURD
foi quem mais se abalou com as críticas. Em uma matéria do jornal Folha Universal, órgão oficial da IURD, publicada
em 7 de fevereiro último, chamada “Por que Os
Dez Mandamentos incomoda tanto?”, a instituição afirma que essas críticas
não passam de “ataques” e que “alguns setores da imprensa publicaram
informações falsas e apurações duvidosas sobre a Universal”.
Tendo como seus
principais alvos o site UOL, o jornal Folha
de São Paulo e a revista Veja, a
IURD classificou as matérias desses órgãos de imprensa com adjetivos como “desonesta”,
“irônica” e “preconceito”, sendo que este último se refere ao texto do crítico
Inácio Araújo, da Folha de São Paulo,
publicado em 30 de janeiro, intitulado “Título do Filme deveria ser Os Dez Mandamentos – O Pesadelo”.
A principal queixa da
IURD com relação a esses órgãos foi da afirmação que bispos e pastores da
instituição estariam incitando e obrigando os fieis a comprarem ingressos para Os Dez Mandamentos – O Filme. Pegando
um “gancho” de uma entrevista que o ator Sérgio Marone (que, no filme e na
novela, interpreta o faraó Ramsés) concedeu ao jornal Diário de Pernambuco, em 28 de janeiro último, na qual ele diz que
“Acho que existe uma perseguição contra a Igreja Universal”, a IURD diz em seu
jornal:
“Será
que houve alguma dúvida da imprensa sobre o número de espíritas que foram
assistir ao filme Nosso Lar, que
mostra a vida de Chico Xavier? Ou os veículos forma conferir nas salas de
cinema quantos católicos se interessaram pelo filme Maria, Mãe do Filho de Deus? Pelo contrário. Basta uma busca rápida
pela internet para ver que tais veículos divulgaram o número expressivo da
bilheteria na época, sem indagar como se deu a aquisição de ingressos”.
E acrescenta:
“(...)
Mas, para a mídia preconceituosa, publicar dados concretos para justificar o
sucesso do filme parece significar um tipo de humilhação. Afinal, reconhecer a
verdade dá mais trabalho do que publicar acusações falsas contra uma
instituição que nem se importa em conhecer”.
Devo dizer, em
primeiro lugar, que não assisti Os Dez
Mandamentos – O Filme. Sei que sou suspeito em falar, pois também sou um
crítico de cinema, mas, ainda assim, gostaria de expor minha modesta opinião
sobre esse assunto.
A arte interpretativa
– que inclui o teatro, a TV e o cinema – é conhecida como “a profissão da torta
na cara”. O que isso significa? Que, nessa profissão, as chances de agradar ou
desagradar ao público são iguais e imensas. Se agradar, leva aplausos. Se desagradar,
leva a comida no rosto. Dito assim pode ser simplório, e não deixa de ser, mas
é assim que são as coisas no show business.
É óbvio que quando
fazemos algum tipo de trabalho, esperamos receber um elogio, mas, nem sempre é
possível e, não raro, ficamos frustrados quando nosso trabalho não agrada ou
nossos esforços não são devidamente reconhecidos. Tudo isso é normal e faz
parte da natureza humana.
Se nós erramos e/ou
não agradamos em alguma coisa, precisamos ver onde que erramos e/ou não agradamos
para, da próxima vez, acertarmos e/ou agradarmos. Talvez seja esse esteja sendo
o problema da IURD nessa questão. O sucesso de público não bastava para ela,
também queria o sucesso de crítica, que não veio, e ela não aceita isso de modo
algum.
Ora, sucesso de público
não é pouca coisa, principalmente nas condições que vieram para Os Dez Mandamentos – O Filme. É compreensível
que também se deseje sucesso de crítica, mas, se a IURD, usando suas próprias palavras, fizer uma busca rápida
pela internet, verá que sucessos de bilheteria nem sempre são sucessos de crítica
e, da mesma forma, sucessos de crítica nem sempre são sucessos de bilheteria. O
ramo do entretenimento é muito volúvel e a IURD precisa compreender isso,
principalmente porque trabalha com uma rede de televisão.
A IURD é conhecida
por ter tido entreveros com vários veículos de comunicação. Além dos já citados
UOL, Folha de São Paulo e Veja, suas rusgas com o jornal O Estado de São Paulo e a Rede Globo de Televisão também são
bastante conhecidas. Um fiel da IURD pode argumentar que esses veículos não são
flor que se cheire. Isso pode até ser verdade, mas, também é verdade que Edir
Macedo, o cabeça e líder máximo da IURD, não é um doce de pessoa. Sua fama de
nervosinho e ganancioso o precede.
Apesar de todos esses
entreveros com a imprensa, não acredito em uma teoria da conspiração contra a
IURD. É mais fácil acreditar que um disco voador pousou na Avenida Paulista. Por
um lado, há críticos que, de fato, exageram em seus textos na ânsia de chamar a
atenção. E também é verdade que na mesma ânsia para obter um “furo” de
reportagem, muitos profissionais não tomam o devido cuidado de averiguarem as
informações e as fontes antes de publicarem suas matérias. Mas, isso não pode
ser motivo para generalizar todos os críticos de cinema.
Entretanto, no caso
de Os Dez Mandamentos – O Filme, praticamente
todos os críticos tiveram a mesma opinião sobre o filme – entre eles, veículos
de imprensa que nunca se envolveram em brigas ou disputas com a IURD. Por isso,
não creio em conspiração, má vontade ou mesmo desonestidade intelectual.
Gostaria de
acrescentar que, tanto em uma igreja evangélica quanto em uma igreja católica,
é habito, ao final de um culto ou uma missa, transmitir aos fiéis informações
de cunho geral, o que inclui venda de produtos para aqueles que têm interesse
em obtê-los. Isso não é contra a ética religiosa desde que não seja imposto aos
membros e frequentadores da igreja. Se alguém acusa a IURD ou qualquer outra
instituição religiosa de obrigar um fiel, sob qualquer pretexto, de adquirir algum
produto (o que inclui ingressos de cinema), deve provar essa acusação. Se não tiver
provas, deve arcar com as consequências legais.
Dito tudo isso, o que
posso sugerir à IURD é, em primeiro lugar, parar de agir como uma criança que faz
birra porque não ganhou um doce. Em segundo lugar, um filme de cinema é muito
diferente de uma novela de televisão. Terceiro: tal como foi dito
anteriormente, procure aprender com erros cometidos em Os Dez Mandamentos – O Filme para não cometê-los em seu próximo
empreendimento cinematográfico. Quem sabe, assim, acabe por realizar um
trabalho com uma qualidade maior.
Veja o trailer
oficial de Os Dez Mandamentos – O Filme (HD):
Publicado no LinkedIn.
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