quarta-feira, 6 de julho de 2016

Penny Dreadful | Será Mesmo o Fim?


A série de TV anglo-estadunidense Penny Dreadful fez sua estreia na telinha em 2014 e apresentava uma história de terror e suspense passada na Londres da Era Vitoriana e que, de um modo bastante original e verossímil, misturava na trama personagens clássicos das literaturas romântica e gótica tais como Drácula (de autoria do irlandês Bram Stoker), Frankenstein (da inglesa Mary Shelley), O Retrato de Dorian Gray (do também irlandês Oscar Wilde) e O Médico e O Monstro (do escocês Robert Louis Stevenson) com personagens novos criados especialmente para o seriado.

Para aqueles que não sabem, o nome Penny Dreadful vem de uma publicação popular da época de histórias de horror e que custavam um penny, uma subdivisão do sistema monetário britânico que também tinha a libra e o shilling (somente muitos anos depois a divisão em centavos seria adotada). Em uma tradução livre, Penny Dreadful pode ser traduzido como "Penny Assustador".

A série contava a história de Vanessa Ives (a atriz francesa Eva Green, de Os Sonhadores), uma bela jovem com fortes ligações com o mundo sobrenatural que vive na mansão do aristocrata e caçador Sir Malcolm Murray (o ator galês Timothy Dalton, da franquia James Bond 007), que tem como seu criado e aliado o africano Sembene (o inglês Danny Sapani, de Em Transe). A melhor amiga de Vanessa e filha de Sir Malcolm, Mina (a inglesa Olivia Llewellyn, de Beethoven), foi raptada por estranhas criaturas e, para resgatá-la e enfrentar as tais criaturas, o veterano caçador contrata um pistoleiro de passado obscuro vindo dos EUA, Ethan Chandler (o estadunidense Josh Harnett, de Falcão Negro em Perigo), e o jovem médico e cientista brilhante Victor Frankenstein (o inglês Harry Treadaway, de O Cavaleiro Solitário), que faz macabras experiências de ressureição de cadáveres. 

O monstro criado e abandonado por Frankenstein (o inglês Rory Kinnear, de O Jogo da Imitação) - chamado nos países de língua inglesa de "criatura" - retorna para atormentar e vingar-se de seu criador por condená-lo a uma vida solitária e miserável e, ao mesmo tempo, exigir que este faça uma companheira para ele. Chandler - que revela ser um lobisomem - envolve-se emocionalmente com a prostituta irlandesa Brona Croft (a inglesa Billie Piper, da série Dr. Who), que sofre de tuberculose, na época uma doença incurável, e termina por falecer devido à sua enfermidade sendo, posteriormente, ressuscitada por Frankenstein, que rebatiza-a como Lily. Simultaneamente, Vanessa envolve-se com o rico, belo, amoral e vaidoso Dorian Gray (o estadunidense Reeve Carney, de A Tempestade), que possui a vida eterna, mas, como preço a ser pago, sofre de modo infinito com o tédio, a melancolia e a desilusão pela vida - sentimentos esses que podem ser resumidos e reunidos na palavra inglesa Spleen

Após seu relacionamento com Gray, Vanessa apaixona-se por Chandler - que corresponde - e, durante esse tempo, é alvo de várias investidas sobrenaturais e descobre que o grande responsável pelo seu sofrimento é ninguém menos que Drácula (o estadunidense Christian Camargo, da série Dexter). A jovem compreende que o único modo de deter o mal é entregar-se a ele, mesmo que isso custe-lhe a própria vida.

Essa era a premissa básica e, à medida que o seriado continuava, outros personagens - novos ou clássicos - foram incorporados à trama tais como a bruxa Evelyn Poole, também chamada Madame Kali (a inglesa Helen McCrory, da franquia Harry Potter); a eremita e feiticeira Joan Clayton (a estadunidense Patti LuPone, de Conduzindo Miss Daisy), a Dra. Seward (novamente Patti LuPone), o Dr. Abraham Van Helsing (o inglês David Warner, de Titanic), o chefe índio apache Kaetenay (o estadunidense Wes Studi, de Dança Com Lobos) e o Dr. Henry Jekill (o inglês de ascendência paquistanesa Shazad Latif, de O Exótico Hotel Marigold 2). 

Penny Dreadful teve aceitação, elogios e sucesso imediatos com o público e a crítica especializada graças a uma produção impecável com uma excelente reprodução de época, roteiros muito bem elaborados e escritos, uma direção firme e segura e a seu elenco de primeiríssima linha.


De seu excelente elenco, aliás, dois nomes, para mim, se destacaram de sobremaneira: Eva Green e Rory Kinnear. Eva fez de Vanessa Ives uma heroína não apenas bonita, mas também sexy, inteligente e muito carismática. Já o respeitado Rory fez de seu Monstro/Criatura um personagem de uma sensibilidade ímpar, talvez a interpretação mais próxima do original imaginado por Mary Shelley.

Penny Dreadful teve o último episódio da terceira temporada exibido em 19 de junho passado. Este último episódio teve tudo aquilo que seus fãs esperavam: combate explosivo entre heróis e vilões, reviravoltas e um final emocionante e comovente como há muito tempo não se via tanto na tela pequena quanto na tela grande.

O que ninguém esperava  e que causou igualmente igual comoção é que o último episódio da temporada também foi o último da série. Essa decisão surpreendente foi tomada pelo produtir do seriado, John Logan. Este alegou que, com a morte de Vanessa Ives não há mais história a ser contada. Mas, será que é mesmo assim?

Alguém que esteja lendo estas linhas pode pensar que seu autor é um fã inconformado com o fim da série. Bem, não nego que, de fato, sou um grande fã de Penny Dreadful e que, como todos os outros admiradores do seriado, senti-me órfão com o fim do mesmo. Não obstante, os leitores que acompanharem as próximas linhas poderão ver que a pergunta feita no parágrafo anterior, assim como no título deste texto, tem fundamento.


Não é a primeira vez que alguém anuncia oficialmente o fim de uma série ou franquia e acaba por voltar atrás. Por exemplo: em 1982, o astro estadunidense de filmes de ação Sylvester Stallone, logo após as filmagens de Rocky III - o grande sucesso daquele ano - anunciou oficialmente que era o fim dessa série de cinema. Sly admitiu que sentiria falta de Rocky Balboa (do mesmo modo, Eva Green disse que sentiria falta de Vanessa Ives). Porém, como sabemos, o ator e diretor voltou atrás e não só realizou mais três filmes dessa franquia como também o spin-off Creed, que lhe valeu neste ano a conquista do Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante além de uma indicação ao Oscar nessa mesma categoria.

"E o que faz você pensar que Penny Dreadful tem chance de retornar?", pode perguntar alguém. Antes de responder essa pergunta, quero deixar claro que estou perfeitamente ciente que qualquer seriado, por melhor que seja, um dia, mais cedo ou mais tarde, tem o seu encerramento definitivo (a exceção é o seriado britânico Coronation Street, um fenômeno que está no ar há mais de 60 anos e sobre o qual Panorama do Cinema pretende falar futuramente). E, respondendo à pergunta feita no início deste parágrafo, Penny Dreadful deixou muitas brechas e lacunas que fazem acreditar em um possível retorno.

Vamos começar por Lily e Dorian Gray. Após ter sido poupada por Victor Frankenstein de se tornar uma zumbi dócil e ter seus planos de um movimento revolucionário conduzido por mulheres frustrado por seu amante Dorian, ela o abandonou deixando-o com seu Spleen eterno. Porém, como ambos são imortais, eles não só podem reencontrarem-se futuramente como também virem a se relacionar com outros personagens que tem a sua mesma condição de imortalidade tal qual veremos adiante.


Ainda que suas experiências conjuntas com Henry Jekill tenham sido bem sucedidas, Victor Frankenstein não conquistou quem mais desejava: Lily. Embora Jekill o tivesse estimulado a continuar com o trabalho, Victor,  amargurado e triste, decidiu partir logo após os funerais de Vanessa Ives. Mas, com sua obsessão em vencer a morte, o solitário médico e cientista pode muito bem usar seus conhecimentos e habilidades cirúrgicas para ressuscitar a amiga recém-falecida.

O Monstro/Criatura de Frankenstein, não atendeu o pedido de sua esposa, Marjorie, de levar Jack, o pequeno filho falecido de ambos, até Victor para que este o ressuscitasse. Entretanto, com a ameaça da esposa de renegá-lo caso não levasse o menino ao laboratório de seu criador, conseguirá o angustiado ser continuar negando o pedido-exigência feito por ela?

Sir Malcolm Murray e Ethan Chandler foram, de longe, os que mais sofreram com a morte de Vanessa Ives. Com a decisão de Ethan de permanecer na Inglaterra, ele e Sir Malcolm podem partir em uma caçada para vingarem-se do vampiro, que fugiu logos após ver o corpo morto de Vanessa nos braços de Chandler. 

E o próprio Príncipe das Trevas pode retornar para encontrar uma substituta para Vanessa e aliados em sua luta contra Sir Malcolm e Ethan. Essa substituta pode ser Lily, que, assim como ele, é imortal. Um dos aliados pode ser o sem escrúpulos e igualmente imortal Dorian Gray. Outro possível aliado pode ser, como disse um dos servos de Drácula, o menino-vampiro, "o velho Jack, o Estripador". 

Uma grande sacada desta temporada de Penny Dreadful foi o de tornar o Dr. Henry Jekill um amigo de infância de Victor Frankenstein que, anos depois, seria seu colega de faculdade. Também foi uma grande sacada torná-lo um filho mestiço de um nobre inglês, que o despreza, com uma humilde mulher indiana, que o ama, condição essa que o faz sofrer todo o preconceito racial da sociedade britânica do século XIX (algo que, infelizmente, em pleno século XXI, ainda está longe de acabar), mesmo sendo, como seu amigo Victor, um médico e um cientista brilhante. Tudo isso faz crescer uma grande raiva em seu interior. Jekill - que tornou-se Lorde Hyde após herdar os bens e o título de nobreza de seu pai - pode continuar suas experiências sobre raiva e loucura, mesmo sem a ajuda de Frankenstein, com consequências imprevisíveis.

E, finalmente, vem a pergunta que não quer calar: Vanessa Ives, realmente, descansa em paz?

É claro que tudo isso, embora possível, é mera especulação, um exercício de imaginação. Penny Dreadful pode realmente ter acabado definitivamente. Mas, como dizem, sonhar é de graça, e os fãs de Penny Dreadful sonham muito com a volta desse incrível seriado com seus personagens maravilhosos. Quem sabe John Logan não pode dar um jeitinho...

Veja aqui um supertrailer com as três temporadas de Penny Dreadful (original em inglês - HD):



Publicado no LinkedIn em 06/07/2016.

Um comentário:

  1. Esse foi um dos melhores seriados que eu já vi. Penny Dreadful é uma serie muito bem construída, com boa trama, bons figurinos e bons personagens, sendo pra mim, o destaque para o Frankenstein de Rory Kinnear. Quero muito acompanhar seu novo trabalho que é um filme sobre o brexit. O assunto nem foi encerrado e já tem uma megaprodução surgindo para tentarmos entender melhor o que se passa. Desde que vi o elenco do filme, já imaginei que seria uma grande produção, já que tem a participação de grandes atores. Estou aguardando a estreia porque adorofilmes políticos . É um tema interessante e que aborda e afeta a vida de todos, além de parecer ser um drama excelente e que nos prende do início ao fim.

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