quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Os Filmes Favoritos de Woody Allen (dirigidos por ele)


O cineasta estadunidense Woody Allen (Café Society) além de ser um dos maiores gênios do cinema em todos os tempos, é também muito prolífico em suas atividades tais como em shows stand-up, música (é considerado um clarinetista talentoso), escritor e, claro, diretor de filmes, com uma média de um por ano. Seu filme mais recente é Roda Gigante, lançado em 2017 (veja a crítica aqui) e já prepara o próximo, a ser lançado em 2018, e que se chamará Um Dia Chuvoso em Nova York com Timothée Chamalet (Me Chame Pelo Seu Nome), Selena Gomez (Vizinhos 2), Jude Law (Sherlock Holmes e o Jogo de Sombras) e Diego Luna (Rogue One. Veja a crítica aqui) no elenco.

Para alguns cineastas perguntar qual dos filmes que fez é o seu favorito é quase como perguntar qual dos filhos prefere, mas, para Woody, isso não parece ser problema. A primeira vez que o vi responder a essa pergunta foi no saudoso programa de entrevistas Conexão Internacional, da extinta Rede Manchete e apresentado pelo jornalista Roberto D'Ávila. Na ocasião, ele respondeu que, dos filmes que realizou, o seu favorito era Memórias (1980).

Confesso que, ao ouvir a resposta, fiquei surpreso, pois achava que ele iria dizer Manhattan (1979), devido ao amor que sentia - e ainda sente - pela cidade de Nova York; ou Interiores (1978), pela sua veneração ao grande cineasta sueco Ingmar Bergman (Fanny & Alexander). Muitos dos fãs e críticos de cinema tiveram a mesma sensação e chegaram a questionar a escolha de Woody.

Com o passar do tempo, o diretor acrescentou outros filmes à lista e Panorama do Cinema irá apresentar ao seus leitores cada um desses filmes dirigidos pelo grande Woody Allen e que são os seus favoritos: 

Memórias (1980)


Sandy Bates (Allen) é um cineasta e comediante que passa por uma crise emocional devido a morte de um amigo e pelo relacionamento complicado com a depressiva atriz Dorrie (a inglesa Charlotte Hampling, de Trem Noturno Para Lisboa). Essa crise é refletida em seu último filme transformado de comédia para um drama existencial. Sandy vai até um hotel no litoral chamado Stardust onde está sendo realizado um festival com seus antigos filmes. Lá conhece a jovem violinista Daisy (Jéssica Harper, de Minority Report - A Nova Lei). O assédio dos fãs o faz chamar a atriz Isobel (a francesa Marie-Christine Barrault, de Jesus de Montreal) para juntar-se a ele. Porém, as memórias de sua vida não o abandonam.

Segundo de uma série de cinco filmes feitos em preto e branco (os outros são Manhattan, Zelig, Broadway Danny Rose e Neblina e Sombras) e filmado em várias localidades do estado de Nova Jersey, foi considerado um filme autobiográfico de Allen, o que ele sempre negou. Afirmou que a inspiração veio do clássico neorrealista , do cineasta italiano Federico Fellini (Ensaio de Orquestra). 

O filme dividiu crítica e público e foi contestado pelos mesmos quando Woody o elegeu como um dos seus favoritos. Curiosamente, outro de seus filmes, que possui uma premissa semelhante, Desconstruindo Harry (1997), foi aclamado pelos mesmos críticos e público. 

O filme marcou a estreia no cinema da musa Sharon Stone (Instinto Selvagem) e tem uma ponta de Brent Spiner (série Jornada nas Estrelas: A Nova Geração) como um espectador na sala de exibição. E, de quebra, tem a música Aquarela do Brasil, do compositor Ary Barroso, na trilha sonora! 

Veja o trailer de Memórias (original em inglês):




Zelig (1983)


Leonard Zelig (Allen) é um homem desinteressante, mas tem a estranha capacidade de ter a sua aparência transformada nas das pessoas que o cercam: se a pessoa é gorda, ele fica gordo, se é negra, ele fica negro, e assim por diante. Fica conhecido como "O Camaleão Humano". Quando Zelig é internado no hospital, a psiquiatra Dra. Eudora Fletcher (a então compannheira de Allen, Mia Farrow, de O Bebê de Rosemary) quer ajudá-lo com seu estranho transtorno e, com o passar do tempo, apaixona-se por ele.

Terceiro dos filmes de Allen em preto e branco e filmado como um pseudodocumentário das décadas de 1920 e 1930, com cenas da época, Zelig foi aclamado pela crítica. Com a ajuda de efeitos especiais feitos em Chroma Key (o famoso "fundo verde"), pôde incluir no filme a aparição de personalidades desse tempo como o aviador Charles Lindbergh, o gangster Al Capone, a atriz Marion Davis (Desde os Tempos de Eva), o ator e cineasta Charles Chaplin (Tempos Modernos), a cantora e dançarina Josephine Baker, o ator James Cagney (Fúria Sanguinária), o ditador tresloucado Adolf Hitler e o Papa Pio XI.

Zelig recebeu duas indicações para o Oscar (fotografia e figurino) e para o Globo de Ouro (filme e ator para Allen, ambos na categoria comédia ou musical) e conquistou o prêmio Leão de Ouro (Melhor Filme) no Festival de Veneza.

 Veja aqui o trailer de Zelig (original em inglês):




A Rosa Púrpura do Cairo (1985)


Durante o período da Grande Depressão Econômica, em 1935, Cecilia (Mia Farrow), uma pobre e desastrada garçonete tem por hábito ir ao cinema para escapar da rotina de sua vida triste, que inclui o casamento com o abusivo Monk (Danny Aiello, de Faça a Coisa Certa). Quando Cecilia flagra Monk com outra mulher, abandona o marido e vai ao cinema onde assiste a várias sessões de um filme chamado "A Rosa Púrpura do Cairo". Um dos personagens, Tom Baxter (Jeff Daniels, da franquia Debi & Lóide) ao reparar em Cecilia, sai do filme para encontrá-la.

Também feito em Nova Jersey, A Rosa Púrpura do Cairo foi outro filme aclamado por crítica e público. Allen chegou a fazer algumas cenas como Tom Baxter, mas não gostou do resultado e chamou Jeff Daniels para o papel, que acabou por ser uma decisão acertada.  
A Rosa Púrpura do Cairo foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original e foi premiado nessa categoria no Globo de Ouro e no BAFTA (o Oscar britânico), no qual também conquistou o prêmio de Melhor Filme. Ainda conquistou o prêmio FIPRESCI, do Festival de Cannes e o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Prêmio César (o Oscar francês).

Uma curiosidade: este filme de Woody Allen inspirou um filme de Arnold Schwarzenegger (franquia O Exterminador do Futuro), O Último Grande Herói (1993), dirigido por John McTiernan (franquia Duro de Matar) e com uma premissa bastante semelhante ao filme de Allen.

Veja o trailer de A Rosa Púrpura do Cairo (original em inglês):



Maridos e Esposas (1992)



Maridos e Esposas conta a história de dois casais: Gabe (Allen) e Judy (Farrow) e Jack (o cineasta e ator Sydney Pollack, de Tootsie) e Sally (a australiana Judy Davis, de Maria Antonieta). Uma noite, Jack e Sally vão à casa de Gabe e Judy e contam a eles que estão se separando, o que choca os anfitriões. Jack começa a namorar uma jovem instrutora de ginástica aeróbica (a inglesa Lysette Anthony, de Drácula: Morto, Mas Feliz), o que gera ciúmes em Sally. Sally apresenta Judy ao seu colega de escritório, Michael (o norte-irlandês Liam Neeson, de O Passageiro). Ele e Judy tem um breve relacionamento. Gabe começa um relacionamento com a estudante Rain (Juliette Lewis, de Álbum de Família), enquanto Jack fica sabendo que Sally tem um novo relacionamento e descobre que é com Michael.

Outro filme consagrado pela crítica, embora, na época em que foi lançado, eu não tenha gostado muito. Mas, como não assisti novamente, pode ser que, ao faze-lo, reveja a minha opinião. Allen usou uma técnica de câmera que se movimenta todo o tempo, como em uma transmissão ao vivo, técnica essa que repetiria no seu filme seguinte, Misterioso Assassinato em Manhattan (1993).

Maridos e Esposas foi indicado para dois Oscars: Melhor Atriz Coadjuvante (Judy Davis) e roteiro original que foi premiado nessa mesma categoria no BAFTA. Judy Davis também recebeu uma indicação no Globo de Ouro e conquistou vários prêmios com esse seu trabalho, dentre estes o National Board of Review. Além disso, tornou-se uma das musas de Allen, tendo aparecido ainda nos filmes Simplesmente Alice (1990), Desconstruindo Harry (1997) e Para Roma, Com Amor (2012).

Veja aqui o trailer de Maridos e Esposas (legendado):



Match Point (2005)


Chris Wilton (o irlandês Jonathan Rhys Meyers, de London Town) é um tenista profissional que, recentemente, encerrou sua carreira e arruma um emprego como instrutor de tênis em um luxuoso clube de Londres. Lá conhece o jovem milionário Tom Hewett (o inglês Matthew Goode, de Watchmen), que apresenta-lhe a sua irmã, Chloe (a inglesa Emily Mortimer, de A Invenção de Hugo Cabret). Ela e Chris começam um namoro.

Um dia, Chris vai a uma festa na casa de Tom e lá conhece a noiva dele, Nola Rice (a estadunidense Scarlett Johansson, da franquia Os Vingadores). Chris e Nola iniciam um caso, que continua mesmo depois dele ter se casado com Chloe. E quando Nola diz-lhe que está grávida, ele vê ameaçado seu casamento e seu interesse na fortuna da família e decide matar a amante.

Para variar, mais uma aclamação de crítica e público. Neste filme, que é um de seus raros dramas, é contada uma história sobre como a sorte pode interferir no destino e que leva à pergunta: O homem pode controlar esse mesmo destino?

Em Match Point, Allen inspirou-se no romance clássico Crime e Castigo, do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881). Woody é tão fascinado por esse livro que, novamente, o usou como inspiração para um de seus filmes mais recentes, Homem Irracional (2015, veja a crítica aqui).

Ao contrário da maior parte de seus filmes, que tem música jazz em sua trilha sonora, em Match Point a trilha é de música clássica, o que aumentou a dramaticidade do enredo.

Match Point foi indicado para o Oscar de Melhor Roteiro Original; no Globo de Ouro foi indicado nessa mesma categoria e também para filme, diretor e atriz coadjuvante (Scarlett Johansson). Conquistou o prêmio de Melhor Filme Europeu (o filme foi produzido no Reino Unido) nos Prêmios David di Donatello (Itália) e Goya (Espanha). 

Scarlett Johansson tornou-se outra musa de Woody Allen, aparecendo novamente nos filmes Scoop: O Grande Furo (2006) e Vicky Cristina Barcelona (2008). 

Veja o trailer de Match Point (legendado):


Publicado no LinkedIn em 22/02/2018.

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