quarta-feira, 29 de junho de 2016

O Legado de Bud Spencer, o Rei das Comédias de Pancadaria


Morreu 28/06/2016, aos 86 anos de idade, o ator, diretor, músico, nadador e advogado italiano Bud Spencer, famoso por seus filmes de comédia de pancadaria dentre os quais os que fez com Terence Hill. Segundo seus familiares a causa da morte foi pneumonia.
Bud Spencer nasceu com o nome de Carlo Pedersoli em 31 de outubro de 1929 em Nápoles, Itália. Aos 18 anos, em 1947, Carlo veio ao Brasil para trabalhar no consulado da Itália, em Recife, onde ficou até 1949, e aprendeu a falar português fluentemente (também falava inglês, francês, espanhol e alemão). Foi campeão de natação, tendo sido o primeiro nadador italiano a nadar os 100 metros em menos de um minuto e participou pelo seu país dos Jogos Olímpicos de 1952 (disputados em Helsinque, na Finlândia) e 1956 (Melbourne, Austrália). Também foi jogador da seleção italiana de polo aquático. Em 2005, foi homenageado pela federação italiana de natação por sua contribuição a esse esporte.
Sua carreira no cinema começou em 1949, na comédia Quel Fantasma di mio Marito. Além de filmes na Itália, participou de produções internacionais tais como Quo Vadis? (1951), Adeus Ás Armas (1957) e Aníbal, o Conquistador (1959), quando conheceu o ator Mario Girotti, que ficou conhecido como Terence Hill, e se tornaria seu grande amigo e parceiro em filmes. A partir daí Carlo começou a usar o nome artístico de Bud Spencer que, segundo ele, foi uma homenagem à sua marca de cerveja favorita, Budweiser, e ao ator estadunidense Spencer Tracy (de Adivinhe Quem Vem Para Jantar?).
Seu primeiro filme com Terence Hill foi em 1967 em Deus Perdoa… Eu, Não!, um “Western Spaghetti” (filme de faroeste de produção italiana), gênero bastante em voga naquela época. O primeiro grande sucesso do duo Hill-Spencer foi em 1970 com Meu Nome é Trinity, outro “Western Spaghetti”, mas desta vez uma comédia com cenas de grandes pancadarias, que se tornaria uma especialidade da dupla.
Os filmes feitos por Bud Spencer e Terence Hill eram produções bem baratas com roteiros muito simples – às vezes simplórios – mas com um grande apelo popular, possuíam um humor pastelão que parecia uma mistura de O Gordo & O Magro com Os Três Patetas e que rendiam bem. Dentre os filmes feitos pelos dois destacam-se Trinity Ainda é Meu Nome (1971), A Dupla Explosiva (1974), Dois Tiras Fora de Ordem (1977), Nós Jogamos Com Os Hipopótamos (1979), Quem Encontra Um Amigo, Encontra Um Tesouro (1981), Os Dois Super-Tiras em Miami (1985) e A Volta de Trinity (1994, também conhecido como Os Encrenqueiros), sendo que este foi o seu último trabalho conjunto e que teve a direção do próprio Hill. Bud e Terence realizaram mais de 20 filmes juntos.
Já entre seus filmes solo destacam-se Uma Razão Para Viver, Uma Razão Para Morrer (1972, no qual dividia os holofotes com os atores estadunidenses James Coburn e Telly Savalas), Os Anjos Também Comem Feijão (1973, quando atuou com outro grande astro do cinema italiano, Giuliano Gemma), Charleston – O Super-Vigarista (1977), Bulldozer (1978), O Xerife e o Pequeno Extraterrestre (1979), Banana Joe (1982) e Aladin (1986). 
Bud Spencer e Terence Hill eram muito populares no Brasil, tanto que, em 1984, eles realizaram um filme inteiramente em território tupiniquim chamado Eu, Você, Ele e os Outros no qual a dupla aparece em… dose dupla! O filme contava a história de dois pares de irmãos gêmeos que causam a maior confusão. E, como não poderia deixar de ser, as cenas de pancadaria se fazem presente.
Nos seus últimos anos de vida, Bud Spencer dedicou-se mais a séries e filmes feitos para a televisão. Em 2010, recebeu junto com Terence o prêmio David di Donatello, um dos mais importantes do cinema italiano, pelo conjunto de sua obra. Seu último trabalho foi o curta-metragem de animação Zoe, no qual dublava um dos personagens, e que ainda estava em processo de filmagem. Em sua carreira, Bud Spencer realizou um total de 78 filmes.
Além de ator e esportista, Bud Spencer também era advogado, músico, piloto de avião e helicóptero (chegou a ter sua própria companhia aérea) e criador de patentes. Em 2005, tentou iniciar uma carreira na política pelo partido de centro-direita Forza Italia (do polêmico empresário e ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi). Bud justificou o motivo dessa decisão:
Em minha vida, fiz de tudo. As únicas três coisas que não fiz foi ser bailarino, jóquei e político. Como as duas primeiras estão fora de questão, atirei-me na política”.

Entretanto, apesar de dedicar-se bastante na campanha, não foi eleito. 
Bud Spencer viveu uma vida plena e, ao partir, estava cercado de sua amada família: a esposa Maria (com quem era casado desde 1960), três filhos, cinco netos e seis bisnetos. Os cinéfilos do mundo inteiro vão sentir – e muito! - falta daquele grandalhão (tinha 1,92 m) barbudo, gorducho e bonachão que fez a delícia tanto das matinês do cinema quanto da televisão. Que ele descanse em paz.

Veja aqui uma entrevista concedida por Bud Spencer e Terence Hill no programa de TV do quarteto cômico brasileiro Os Trapalhões, em 1984:



Veja aqui, na íntegra, o filme Eu, Você, Ele e os Outros (dublado):



Publicado no LinkedIn em 29/06/2016.

sábado, 25 de junho de 2016

Papa: Hemingway in Cuba - Hollywood volta a filmar na Ilha Comunista




O estadunidense Ernest Hemingway foi um dos maiores escritores de seu país em todos os tempos. Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1954, teve várias de suas obras adaptadas em filmes para o cinema e a TV tais como Adeus Às Armas, Por Quem Os Sinos Dobram e O Velho e O Mar

Hemingway teve uma vida muito agitada. Esteve na I e II Guerra Mundial, na Guerra Civil Espanhola e, além dos EUA, viveu em Toronto, no Canadá; em Paris, França (onde conheceu os escritores James Joyce, Gertrude Stein e Ezra Pound; além dos artistas plásticos Pablo Picasso, Joan Miró e Juan Gris); e, entre 1939 e 1960, viveu em Cuba. E é sobre este período de sua vida que trata o filme Papa: Hemingway in Cuba

Papa: Hemingway in Cuba conta a história de um repórter (o estadunidense Giovanni Ribisi, de Avatar) que vai até Cuba para encontrar o escritor e ídolo Ernest Hemingway (o inglês Adrian Sparks, de Sobrenatural: A Origem), que vive na ilha caribenha com sua esposa, Mary (a inglesa Joely Richardson, de Maggie: A Transformação) no período que antecede a Revolução Comunista liderada por Fidel Castro e logo após do triunfo de movimento.

Este é o segundo filme dirigido pelo produtor iraniano naturalizado estadunidense, Bob Yari (de Crash: No Limite), que disse sobre Papa: Hemingway in Cuba:

“O filme conta a histórica verídica de um jovem repórter amigo de Mary e Ernest Hemingway que convive com o escritor e que se torna quase como um filho, nos últimos dois anos em que Hemingway viveu em Cuba. Através do olhar desse jovem repórter, podemos ver um lado privado e pessoal do escritor que ele não deixava que o público conhecesse”.

Papa: Hemingway in Cuba é uma co-produção entre EUA e Canadá e a primeira produção hollywoodiana feita na Ilha Comunista desde 1959. As filmagens da película ocorreram entre 2013 e 2014, antes mesmo do presidente dos EUA, Barak Obama, e de Cuba, Raúl Castro, anunciarem oficialmente a retomada das relações diplomáticas entre as duas nações.

Durante o período de produção e filmagem, Yari viu de perto a indústria cinematográfica cubana e sua atual infraestrutura, sobre as quais, aliás, Panorama do Cinema já havia chamado a atenção do público leitor em sua Dica de Leitura (veja aqui):

“A falta de infraestruturas e de equipamentos foi um grande desafio. Um dos aspetos interessantes foi perceber que a ética de trabalho dos cubanos é diferente da dos norte-americanos. Nas nossas produções trabalha-se entre 14 e 16 horas por dia. Os técnicos cubanos são pessoas talentosas e apaixonadas pelo cinema mas estão habituados a trabalhar de forma mais lenta”, contou o diretor e produtor. 

Como não poderia deixar de ser em se tratando de dois assuntos tão polêmicos - Cuba e Hemingway - a recepção a Papa: Hemingway in Cuba dividiu as opiniões: a crítica especializada estadunidense não recebeu bem o filme, mas o público, em geral, gostou. E, além disso, essa produção conquistou o Prêmio do Júri no Festival de Key West, na Flórida, EUA (um dos locais no qual Hemingway morou), em 2015, e no Festival de Sonoma, na Califórnia, também nos EUA, neste ano.

Papa: Hemingway in Cuba teve seu lançamento oficial em 19/11/2015 no Festival de Key West, e, cerca de um mês depois, no Festival de Havana, Cuba. Seu lançamento comercial foi em 29 de abril deste ano, nos EUA. Ainda não há uma data prevista para o seu lançamento no Brasil. 

Veja aqui o trailer oficial de Papa: Hemingway in Cuba (original em inglês - HD):


sexta-feira, 24 de junho de 2016

Kris Kristorfferson comemora seus 80 anos com um novo faroeste


Se há alguém que é um verdadeiro ícone tanto na música quanto no cinema, esse alguém é o cantor e ator estadunidense Kris Kristofferson

Nascido em 1936, em Browsville, no estado do Texas, EUA, filho de um militar, Kris Kristofferson também serviu o exército logo após graduar-se em Litertura Inglesa no Pomona College. Porém, a paixão pela música falou mais alto e ele mudou-se para Nashville, considerada a capital estadunidense da música country, onde iniciou sua carreira. Ao longo dos anos Kris já cantou e compôs com os maiores nomes desse estilo musical.

Sua estreia no cinema foi em 1971 com o drama O Último Filme, dirigido e estrelado por Dennis Hopper (Sem Destino). A partir daí, Kris não parou mais, tendo atuado em grandes sucessos como Nasce Uma Estrela (pelo qual conquistou o Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia e/ou Musical), Pat Garret e Billy The Kid e Comboio. A geração mais nova o conhece pelo papel de Abraham Whistler nos filmes da franquia Blade. Kris já atuou até o momento em 113 filmes para o cinema e a televisão e fez a trilha sonora de 119! Em 2014, conquistou um prêmio Grammy - considerado o Oscar da música - pelo conjunto de sua obra.

Em 2016, comemorando 80 anos de idade, Kris Kristofferson retorna à tela grande em um novo filme, no gênero em que mais atuou: o faroeste. Trata-se de Traded (ainda sem título em português).

Dirigido pelo ator e diretor Timothy Woodward Jr. (As 7 Faces de Jack, o Estripador), Traded conta a história de um cowboy (Michael Paré, de Ruas de Fogo) que abandona o seu rancho para resgatar sua filha que foi raptada por um antigo inimigo. Kris Kristofferson atua no papel do barman do saloon da cidade. 

"Sempre gostei de atuar em faroestes porque ando a cavalo desde pequeno. Gostei do roteiro do filme. Foi divertido", conta Kris.

Desde a sua estreia em 10 de junho último, nos EUA, Traded recebeu boas críticas. Como todo filme de faroeste que se preze, tem muitos tiros, muitas brigas, mulheres bonitas e uma perseguição em uma locomotiva em movimento. A diversão é garantida para todos. 

Ainda não há uma data prevista para a estreia do filme no Brasil.

Veja aqui o trailer oficial de Traded (original em inglês - HD):



E,em homenagem aos 80 anos de Kris Kristofferson, veja aqui o vídeo clip de um de seus grandes sucessos musicais, This Old Road:


domingo, 19 de junho de 2016

Michal Moore fala sobre seu novo filme, Donald Trump e UE


O polêmico e genial diretor e documentarista vencedor do Oscar e da Palma de Ouro do Festival de Cannes, o estadunidense Michael Moore (Capitalismo, Uma História de Amor), esteve recentemente em Londres, Inglaterra, para o lançamento de seu mais recente filme, Quem Vamos Invadir Agora?, que, recentemente, ganhou o Prêmio do Público de Melhor documentário no Festival Internacional de Cinema de Chicago (EUA).

Quem Vamos Invadir Agora? fala da política de invasões dos EUA a vários países nos últimos anos e, por meio de uma comparação com oito países europeus e um árabe, vê os aspectos positivos de cada cultura que poderiam melhorar o estilo de vida do povo estadunidense:

“Os EUA têm sido uma força invasora nos últimos quinze anos ou mais. Porque não invadir países, de forma não violenta, para aprender algo lá fora e aplicá-lo em casa? É essa a explicação para o título do filme”, disse o cineasta durante a coletiva de imprensa.

Moore, que apoiou publicamente o candidato socialista do Partido Democrata, Bernie Sanders, para a presidência dos EUA (veja aqui), não perdeu a oportunidade para falar sobre o  candidato do Partido Republicano, o magnata Donald Trump:

“Penso que ele é exímio na utilização dos meios de comunicação e estes por seu lado não param de lhe dar atenção. Ele não é tão estúpido como parece. Devemos levá-lo a sério. A manipulação que está a acontecer e a utilização da propaganda é excelente no sentido em que ele é que sai a se beneficiar”.

Michael Moore é a favor da permanência da Grã-Bretanha na União Europeia (UE) e apelou aos britânicos para votarem pelo "sim" no referendo a ser realizado em 23 de junho próximo:

“Qual é a justificação para deixar a União Europeia? Os britânicos salvaram a Europa. A UE existe em larga medida por causa das pessoas que se sacrificaram e sofreram nos anos 30 e 40 para salvar a Europa. Porque razão deveriam abandoná-la?”, questionou.

Após ser exibido em vários festivais de cinema (Incluindo os Festivais de Berlim e Toronto), Quem Vamos Invadir Agora? teve seu lançamento comercial em 12 de fevereiro último, no EUA. No Brasil, ainda não há uma data definida para a estreia do filme. 

Veja o trailer oficial de Quem Vamos Invadir Agora? (legendado em Português Europeu):



quarta-feira, 15 de junho de 2016

ULTRAPASSAMOS AS 2000 VISUALIZAÇÕES!!!


É com grande alegria que anunciamos que já são mais de 2000 visualizações em Panorama do Cinema desde a sua inauguração em fevereiro/2016. Isso não teria sido possível se não fossem por vocês, amigos leitores e cinéfilos, que nos honram com sua presença. Continuaremos em nosso propósito de melhorar cada vez mais a elaboração de artigos, críticas e notícias relativas ao cinema para o seu deleite e prazer. Agradecemos a todos pela fé e confiança em nosso trabalho. 

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Cinco Filmes Românticos Para Assistir no Dia dos Namorados


Ouça o podcast desta matéria nas plataformas Anchor, Castbox, Deezer, Google Podcasts, Spotify e Spreaker.

Atualizado em 20/06/2020.

O Dia dos Namorados está chegando e é uma época ótima para se assistir um filme romântico, principalmente se for a dois... Aqui temos uma seleção de cinco filmes para assistir abraçadinho(a) com seu amor. Então, ponha as flores no jarro, traga as pipocas e os bombons e tenha uma boa – e romântica – diversão!

Um Homem, Uma Mulher (Un Homme et Une Femme – 1966)


Anne Gauthier (interpretada por Anouk Aimée, de Prét-à-Porter) é uma revisora de roteiros de cinema e Jean-Louis Duroc (Jean-Louis Trintignant, de Z e Amor) é um piloto de carros de corridas. Ambos são viúvos e encontram-se por caso quando vão buscar seus respectivos filhos que estudam em um colégio interno. Um dia, Anne perde o trem e Jean-Louis oferece-lhe uma carona. A partir daí começa uma amizade que vai se transformar em amor.

O diretor Claude Lelouch, um dos nomes surgidos durante o movimento Nouvelle Vague do cinema francês das décadas de 1950-1960, dirigiu este romance entre esse casal maduro que marcou época no cinema e fez bater vários corações apaixonados com sua história bem elaborada, que fez com que muitos pessoas se identificassem com esse mesmo romance mostrado na tela. A influência da Nouvelle Vague faz-se notar na alternância de cenas coloridas com cenas em preto e branco simbolizando, respectivamente, o passado e o presente. A música-tema composta por Francis Lai tornou-se um hino romântico e há até uma menção honrosa ao Brasil com a execução da versão francesa da canção Saravá, de Baden Powell e Vinícius de Moraes.

O filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original e o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e de Melhor Atriz para Anouk Aimée.Teve duas sequências com o mesmo diretor e mesmo casal central: Um Homem, Uma Mulher Vinte Anos Depois (Un Homme et Une Femme 20 Ans Déjà), em 1986; e Os Melhores Anos de Uma Vida (Les Plus Belles Années d'une Vie), em 2019. Mas, o original continua insuperável!

Trailer do filme Um Homem, Uma Mulher com música de Francis Lai:



Melody, Quando Brota o Amor (Melody – 1971)


Este filme anda meio esquecido do grande público, mas foi um campeão de bilheteria nos cinemas do Brasil e de reprises na TV brasileira na década de 1970. Aqui vemos a história de amor do menino rico Daniel Lattimer (Mark Lester, de Oliver!) com a menina pobre Melody Perkins (Tracy Hyde, na época, modelo infantil). Ambos estudam no mesmo colégio, apaixonam-se e decidem se casar. O problema é que ambos têm 10 anos de idade e não querem esperar até tornarem-se adultos, querem se casar o quanto antes. Os pais e professores, claro, não aprovam essa ideia e tentam convencê-los a desistir disso, mas eles estão dispostos a unirem-se em matrimônio e contam com a ajuda do melhor amigo de Daniel, Ornshaw (Jack Wilde, que trabalhou junto com Lester em Oliver!).

Contado como uma fábula, falando do amor infantil, considerado o mais puro que existe, o filme tem roteiro do futuro diretor Alan Parker (de Evita), em seu primeiro trabalho para o cinema. A cena da sala de música, na qual Melody e David fazem uma improvisação musical tocando a tradicional canção francesa Frère Jacques (no Brasil, há uma versão dessa canção conhecida como Os Dedinhos), é inesquecível. A química entre Mark Lester e Tracy Hyde funciona com perfeição e o filme mostra que amar e ser criança são coisas totalmente compatíveis uma com a outra.

A trilha sonora é do grupo Pop australiano Bee Gees e também tem a canção Teach Your Children, do grupo de Country-Rock estadunidense Crosby, Stills, Nash & Young. Com todos esses ingredientes e protagonizado por um casal tão fofo, é simplesmente impossível resistir...

Trailer de Melody, Quando Brota o Amor (original em inglês):




Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall – 1977)


Quem disse que amor não combina com humor? O diretor, ator, músico e comediante Woody Allen (de A Rosa Púrpura do Cairo) prova neste filme que eles combinam, sim. Alvy Singer (Allen) é um humorista judeu permanentemente de pé atrás com o mundo que conta sua história de amor com Annie Hall (Diane Keaton, de O Poderoso Chefão e companheira de Allen naquela época), uma bonita cantora em início de carreira e com uma cabeça bem complicada. Eles se conhecem em um jogo de tênis, se apaixonam e decidem morar juntos. Mas será que o seu amor irá resistir às suas personalidades tão complexas? 

Esse é o filme que consagrou tanto Allen quanto Keaton. Conquistou quatro Oscars: Filme, diretor, atriz e roteiro original (que Allen dividiu com Marshall Brickham), além de vários prêmios internacionais. Apesar do título brasileiro horroroso (eles não ficam noivos e, no filme, ele é que é nervoso e ela é que é neurótica), o filme tem um senso de humor refinado, mas que não o afasta do grande público e rende boas gargalhadas. Como em vários outros filmes de Allen, aqui, há muito de autobiográfico como por exemplo, sua origem judaica e novaiorquina e também ironiza o jeito de ser dos habitantes da “Big Apple” (“A Grande Maça”, como a cidade de Nova York é conhecida) com suas intelectualidades e pseudo-intelectualidades, neuroses e manias. O figurino que Diane Keaton usou no filme (eram suas próprias roupas) tornou-se moda no mundo inteiro.

Foi igualmente a partir deste filme que Allen mostra o seu lado romântico, tanto com a pessoa amada quanto com a cidade amada. A trilha sonora tem canções interpretadas pela própria Diane Keaton, que, diga-se de passagem, não faz feio. Resumindo, este é um filme no qual pode-se amar e rir simultaneamente.

Trailler de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (original em inglês):



Em Algum Lugar do Passado (Somewhere in Time – 1980)


Este filme também foi um campeão de bilheteria nos cinemas e de reprise nas TVs do Brasil. Em 1972, o jovem e iniciante autor teatral Richard Collier (Christopher Reeve, de Superman, o Filme), durante a sua formatura na universidade, recebe de presente um relógio de bolso de uma velha senhora, que diz a ele: “Volte para mim”. Oito anos depois, já consagrado, Richard passa por uma crise pessoal e profissional e decide viajar para espairecer. Hospeda-se em um belo hotel no interior e lá vê um retrato de uma linda atriz da década de 1910 (Jane Seymour, da série de TV Dra. Quinn), apaixona-se pela deslumbrante imagem e descobre que é a mesma senhora que lhe presenteou o relógio. Obcecado com todos esses acontecimentos, Richard descobre em como fazer uma viagem no tempo para encontrar-se com sua amada.

O irregular diretor francês Jeannot Szwarc (de Tubarão 2) desta vez acertou a mão: desde o bonito casal central até o roteiro do escritor Richard Matheson (baseado em seu romance, Bid Time Return. Matheson também é o autor de I Am Legend, adaptado duas vezes para o cinema), passando pelo figurino (indicado para o Oscar), a bela fotografia e a trilha sonora de John Barry (autor da trilha sonora de vários filmes de James Bond e que foi indicado para o Globo de Ouro), tudo funciona.

Os temas de ficção-científica e fantasia da história original fundiram-se naturalmente com a história de amor e fez com que o filme recebesse o prêmio da crítica no Festival de Cinema Fantástico de Avoriaz (França). O filme é tão bonito e tão romântico que não dá para não se comover nem segurar as lágrimas...

Trailer do filme Em Algum Lugar do Passado (original em inglês):



Nunca Te Vi, Sempre Te Amei (84 Charing Cross Road – 1987)



Este é outro filme que anda meio sumido tanto da tela grande quanto da pequena. A escritora estadunidense Helene Hanff (Anne Bancroft, de A Primeira Noite de Um Homem) é uma ávida colecionadora de edições raras de literatura britânica, que são muito difíceis de serem encontradas em Nova York. Então, envia uma carta para livraria Marks & Co., especializada em edições antigas e raras, em Londres, Inglaterra, cujo endereço é em 84 Charing Cross Road. O gerente da livraria, Frank Doel (Anthony Hopkins, de O Silêncio dos Inocentes), atende seus pedidos e responde suas cartas. O relacionamento escrito, no príncipio, é tenso. Porém, ao longo de 20 anos de correspondências, vai nascendo uma terna amizade que acaba se transformando em terno amor. Helene, por várias vezes, adia a sua viagem à Inglaterra para encontrar-se com Frank. Quando finalmente vai, chegará a tempo?

Este é um curioso caso no qual o título do filme no Brasil não tem e, ao mesmo tempo, tem tudo a ver com o filme. O título original, em inglês, é o endereço da livraria, entretanto, o título brasileiro resume a história. O filme é uma adaptação da peça teatral de mesmo nome escrita por James Roose-Evans que, por sua vez, baseia-se nas memórias de Helene Hanff. O diretor David Hughes Jones (de, A Confissão) faz um trabalho de direção preciso e trata com sensibilidade o tema da solidão, tanto individual quanto coletiva. O público acompanha com grande interesse o relacionamento de Helene e Frank por cartas e, apesar de saber como tudo vai terminar, ainda torce para que os dois fiquem juntos.

Anne Bancroft e Anthony Hopkins, o casal central que nunca se encontra, dão um show de interpretação. Bancroft conquistou o Bafta (o Oscar britânico) de melhor atriz, enquanto Hopkins ganhou o prêmio de melhor ator no Festival Internacional de Cinema de Moscou. Este é um filme tanto para amantes de livros como para amantes de verdade, e mostra que o amor verdadeiro não precisa, obrigatoriamente, ser físico.

Trailer de Nunca Te Vi, Sempre Te Amei (original em inglês):


domingo, 5 de junho de 2016

Festival de Cannes 2016 | Críticas de Ken Loach à UE ainda repercutem


O Festival de Cannes - considerado o maior e mais importante festival de cinema do mundo - já terminou e teve como grande vencedor o filme I, Daniel Blake,  que conta a história de um carpinteiro de 59 anos que, durante um exame médico de rotina, recebe o diagnóstico de um problema cardíaco e é aconselhado pelos médicos a parar de trabalhar. Entretanto, a seguridade social ameaça-o com sanções financeiras caso não consiga um emprego.

I, Daniel Blake tem a direção do britânico Ken Loach (de Kes), de 80 anos de idade, que já havia conquistado a Palma de Ouro anteriormente com o filme Ventos da Liberdade, em 2006. Definido pela crítica internacional como "um belo filme político", I, Daniel Blake segue a linha dos filmes anteriores de Loach, os quais criticam a miséria na Grã-Bretanha, as patologias sociais e familiares, a destruição das políticas públicas de bem-estar social, momentos sombrios da história britânica, conflitos sociais e a luta pelos direitos dos trabalhadores e dos imigrantes, tudo visto pela sua ótica marxista.

Na entrevista coletiva dada logo após a entrega do prêmio, Ken Loach não perdeu a oportunidade de criticar a atual política neoliberal de austeridade da União Europeia (UE) regida pela chamada "Troika" (grupo formado pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o famigerado FMI) que gerou a atual crise financeira e social pela qual o continente passa - que é também conhecida como Eurocrise

"Vivemos um momento perigoso na Europa. A austeridade e as políticas neoliberais conduzem as pessoas ao desespero. Milhões de pessoas na Grécia, em Portugal ou na Espanha sofrem e vivem grandes dificuldades enquanto uma pequena elite no topo é extremamente rica. Não podemos continuar assim porque há uma grande desespero na base".

E acrescentou uma crítica ao sistema de seguridade social em vigor atualmente, principalmente no Reino Unido:

"Há uma crueldade consciente na maneira como [o sistema de seguridade social] organiza a nossa vida agora. Dizem às pessoas mais vulneráveis que a pobreza é culpa delas. Se você não tem um emprego, é sua culpa por não estar a trabalhar".

Embora o Festival de Cannes tenha terminado há mais de 20 dias, as palavras de Ken Loach continuam repercutindo com muita força - inclusive aqui no Brasil que, atualmente, tem uma situação bastante semelhante à UE - e, ao que tudo indica, ainda vão repercutir por um bom tempo.

Veja o vídeo da reportagem da rede de TV France 24 com cenas da entrevista coletiva de Ken Loach no Festival de Cannes 2016 e também cenas do filme I, Daniel Blake (original em inglês - HD):



Veja aqui o teaser trailer do filme I, Daniel Blake (original em inglês com legendas em francês- HD):





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O Legado de Muhammad Ali no Cinema


Foi com uma imensa tristeza que o mundo recebeu a notícia da morte por problemas respiratórios do boxeador estadunidense Muhammad Ali, considerado por muitos especialistas e fãs de boxe como o maior pugilista de todos os tempos.

Nascido em 17 de janeiro de 1942 na cidade de Louisville, estado de Kentucky, nos EUA, com nome de Cassius Marcellus Clay Jr., Ali começou a lutar desde cedo e, em 1960, com apenas 18 anos de idade, conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Roma. Em 1964 sagrou-se campeão mundial dos pesos-pesados pela primeira vez ao derrotar Sonny Liston e, logo em seguida, anunciou publicamente sua conversão ao Islamismo (por influência do líder negro Malcolm X) e a mudança de seu nome para Muhammad Ali.

Ali recusou-se a servir o exército estadunidense durante a Guerra do Vietnã e, em 1967, foi proibido de lutar. Em protesto, o pugilista atirou sua medalha de ouro no rio. Voltou a lutar somente em 1970, quando recuperou seu título, mas, em seguida, o perdeu para o pugilista Joe Frazier naquela que foi chamada "A Luta do Século".

Após vencer a revanche contra Frazier, lutou contra Ken Norton e foi novamente derrotado, mas, assim como ocorreu contra Frazier, também venceu a revanche contra Norton que, um pouco antes havia perdido seu título para o fenômeno George Foreman. A luta pelo título entre Ali e Foreman realizada em 1974, no Zaire (atual República Democrática do Congo), na qual Ali conquistou pela segunda vez o título mundial entrou para a história tanto do boxe quanto do esporte mundial.

Em 1978, o boxeador Leon Spinks tirou o cinturão de campeão de Ali. Nesse mesmo ano, em nova revanche, Ali derrotou Spinks e conquistou o título mundial pela terceira vez. Muhammad Ali encerrou sua carrira profissional em 1981 com um cartel de 61 lutas, sendo 56 vitórias (37 por nocaute) e apenas 5 derrotas. 

Ali foi o primeiro esportista a fazer largo uso de marketing pessoal, uma novidade na época. Frases como "voar como uma borboleta e picar como uma abelha" e "Eu sou o lutador mais forte e mais bonito" e, principalmente, "Eu sou o maior" foram usadas para autopromoção e lhe renderam tantos admiradores quanto críticos. Ali sempre usou a polêmica a seu favor.

Antes mesmo de se tornar campeão mundial, Ali já chamava a atenção de Hollywood e convites para o cinema logo vieram. Em 1962, participou do filme Réquiem Para Um Lutador, dirigido por Ralph Nelson (de Charly) e com roteiro de Rod Serling (seriado Além da Imaginação), no qual atuou junto com Anthony Quinn (Zorba, o Grego), Jackie Gleason (Desafio à Corrupção) e Mickey Rooney (O Corcel Negro). Neste filme ainda usava o nome de Cassius Clay.

Poster do filme The Greatest (1977)

Em 1977, Ali atuou no filme The Greatest, película autobiográfica com roteiro de sua própria autoria que retrata sua vida desde o início de sua carreira até a luta contra Foreman, dirigido a quatro mãos por Tom Gries (100 Rifles) e Monte Hellman (Caminho Para o Nada) e que tinha em seu elenco nomes como Ernest Borgnine (Marty), Robert Duvall (saga O Poderoso Chefão), Ben Johnson (Louca Escapada), James Earl Jones (A Grande Esperança Branca) e Paul Winfield (Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan). A canção-tema do filme, The Greatest Love of All, seria regravada anos depois pela cantora Whitney Houston com grande sucesso. A crítica recebeu o filme friamente, mas o fãs de Ali garantiram a bilheteria.

Na televisão, Ali teve participação em séries como Vegas e O Toque de Um Anjo. Em 1977, teve sua própria série de desenho animado chamado I Am The Greatest: The Adventures of Muhammad Ali com 13 episódios feitos. No Brasil, o desenho foi exibido pela Rede Globo e chamou-se apenas Muhammad Ali.

Em 1979, atuou na minissérie Road to Freedom, dirigida pelo húngaro Ján Kádar (A Pequena Loja da Rua Principal) e baseada no livro do escritor Howard Fast, na qual interpretou o papel de Gideon Jackson, um ex-escravo que lutou na Guerra Civil Americana e que se tornou senador apesar da oposição de latifundiários e do odioso grupo racista Ku-Klux Klan. No elenco, destacavam-se os nomes do ator, cantor e ativista Kris Kristorffeson (franquia Blade) e da atriz Gracie Zabriskie (série Twin Peaks).

Muhammad Ali também estrelou os elogiados documentários Um Fenômeno Chamado Cassius Clay (1970), feito durante o exílio do campeão no período em que estava proibido de lutar; Facing Ali (2009), um curioso documentário sobre dez adversários de Ali (incluindo Frazier, Foreman, Norton e Spinks); When Ali Came to Ireland (2012), que conta a primeira vez em que Ali esteve na Irlanda quando lutou contra o pugilista estadunidense Alvin Lewis; The Trials of Muhammad Ali (2013), que retrata o período da conversão de Ali ao Islamismo e a sua recusa em lutar na Guerra do Vietnã; Eu Sou Ali: A História de Muhammad Ali (2014), que conta a história d' "O Maior" com imagens inéditas de seu acervo pessoal.

Poster do filme Quando Éramos Reis (1996)

De todos os documentários o que mais se destaca, sem dúvida, é Quando Éramos Reis, que fala da histórica e legendária luta de Muhammad Ali contra George Foreman no Zaire e que conquistou o Oscar de Melhor Documentário, em 1996 e o prêmio de Melhor Direção do Festival de Sundance (dedicado ao cinema independente) nesse mesmo ano. 
 
Dentre os atores que interpretaram Muhammad Ali no cinema, o grande destaque é para Will Smith (Homens de Preto), que interpretou o campeão no filme Ali (2001), dirigido por Michael Mann (Miami Vice). Por sua atuação, Smith foi indicado ao Oscar de Melhor Ator.

Para 2016, está previsto o lançamento de mais um filme sobre um episódio da vida de Muhammad Ali: The Bleeder (ainda sem título em português), que conta a vida do boxeador Chuck Wepner (interpretado pelo ator estadunidense Liev Schreiber, de Spotlight - Segredos Revelados) que, em 1975, desafiou Ali pela disputa do título mundial. A direção é do canadense Philippe Falardeau (Uma Boa Mentira) e o papel de Muhammad Ali será interpretado pelo ator e rapper Pooch Hall (da série The Game).

Entre as outras formas de mídia e cultura popular que Ali participou estão livros (que inclui sua autobiografia The Greatest: My Own Story, de 2015), músicas (com destaque para a canção The Black Superman (Muhammad Ali), de Johnny Wakelin), video games e histórias em quadrinhos, em que se destaca Superman vs Muhammad Ali (1978), na qual "O Maior" faz o Homem de Aço beijar a lona!

Para a geração atual deve ser um pouco difícil entender a importância de uma personalidade como Muhammad Ali, visto que seus membros nasceram já depois do campeão ter encerrado sua carreira. Apesar da fama de arrogante, Ali não lutou somente contra seus adversários no ringue, mas também contra o racismo, a intolerância religiosa, a guerra, a violência, a hipocrisia da sociedade, a pobreza e, nos últimos anos de sua vida, contra a doença do Mal Parkinson. Tanto nas vitórias quanto na derrotas sempre permaneceu em pé, sem nunca perder sua dignidade e seu orgulho.

Muhammad Ali podia ser um fanfarrão, mas em uma coisa estava certo: nunca houve um lutador - tanto no boxe como na vida - igual a ele. E, provavelmente, nunca mais haverá. Que Alá receba Seu filho Muhammad Ali em Seus braços.

Veja aqui o trailer oficial do filme The Greatest (original em inglês):



Veja aqui um episódio do desenho animado I Am The Greatest: The Adventures of Muhammad Ali (original em inglês):



Veja aqui o trailer oficial do documentário Quando Éramos Reis (original em inglês):



Publicado no LinkedIn em 05/06/2016.