A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é um dos mais tradicionais e importantes festivais de cinema do Brasil e do mundo, sempre apresentando os lançamentos de filmes mais recentes e novas tendências e tecnologias da indústria cinematográfica. E uma dessas novas tecnologias, que promete ser a grande onda para o cinema do futuro é a Realidade Virtual (RV).
RV não é algo novo. Se fizermos uma pesquisa pela internet, veremos que seus primórdios datam da década de 1950, mas foi na década de 1980, com o músico e cientista da computação estadunidense Jaron Lanier, considerado um dos precursores dessa tecnologia, que a RV deu o grande salto em frente com o uso de simuladores multi-usuários em ambiente compatilhado e equipamentos tais como capacetes e luvas digitais (que começaram a serem vendidas comercialmente em 1987) que permitiam tanto a imersão quanto a interação com esse novo mundo. Atualmente, é possível adquirir óculos especiais para RV em lojas de equipamentos eletro-eletrônicos e digitais de grandes fabricantes de telefones celulares, notebooks, tablets, etc.
Em 29 de outubro último, fui com minha namorada a uma sessão da 41a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no CineSesc, uma das melhores salas de cinema da capital paulista e, sem dúvida, do país. A sessão que escolhi chamava-se HTC apresentava quatro filmes de curta-metragem: a animação francesa Planet (Infinit), da França e dirigido pela cineasta japonesa radicada na França, Momoko Seto; Nothing Happens, animacão co-produzida por Dinamarca e França dirigido a quatro mãos pelo casal israelense Urit e Michelle Kranot; o documentário After Solitary, dirigido igualmente a quatro mãos pela jornalista e cineasta estadunidense Cassandra Herman e pela também estadunidense Lauren Mucciolo, cineasta e documentarista; e, por fim, mais um documentário, Out of Exile: Daniel's Story, de mais uma jornalista e documentarista estadunidense, Nonny de La Peña (indicada ao Oscar de Melhor Documentário de 1992 por Death On The Job).
As exibições desses curtas não foram na sala de exibição habitual do CineSesc e foi permitida a entrada de somente sete pessoas por vez, de modo que o ingresso - que era gratuito - devia ser retirado com uma hora de antecedência à sessão que iria ser assistida. Entramos por uma porta e subimos por uma escada onde estava instalada a sala para exibição das películas em RV.
Conforme vocês verão nas fotos abaixo, haviam cinco cadeiras giratórias com os óculos especiais e fones de ouvidos. Eu e minha namorada ficamos em pé, pois, segundo explicado, era necessário para a interação dos filmes que iríamos ver. Nas paredes, no alto, haviam duas pequenas caixas que, depois soube, transmitiam as imagens para os óculos. Também foi explicado que nos moveríamos durante a exibição, mas por um espaço limitado que poderia ser visto com os óculos especiais. Foram colocados os óculos, que, apesar de um pouco pesados, não eram desconfortáveis e cobriam os olhos por completo. Por sobre eles, os fones de ouvido.
Quando o equipamento foi ligado, surgiu um cenário branco cortado por linhas pretas que podia ser visto em um ângulo de 360 graus, alem de em cima e em baixo (esse ângulo de visão também aparecia nos filmes exibidos). Olhando para o chão era possível ver a linha branca que delimitava os movimentos.
O primeiro filme a ser exibido, foi Nothing Happens, que contava a história de pessoas que se reuniram para uma possível celebração em um dia de inverno, mas, como o próprio título já diz, nada acontece. O filme retrata a tremenda solidão nesse local isolado, com uma rotina triste.
O filme mostrava um descampado com várias árvores e corvos voando enquanto nevava. Era possível olhar para cima e ver a neve caindo além dos corvos voando bem para o alto. Algumas vezes apareciam cenas em uma árvore, com os corvos pousados nela e dentro de um buraco que, de vez quando, tremia e com pessoas de olhos esbugalhados que nos observava do lado de fora. Uma cena particularmente marcante é a revoada dos corvos na árvore.
O filme seguinte foi o documentário After Solitary, que contava a história de um ex-condenado por assalto em uma prisão dos EUA, de seu confinamento na solitária - que o leva a surtar - e da dificuldade em readaptar-se à vida normal após cumprir sua pena.
A tridimensionalidade do filme era impressionante, a começar pelo ex-condenado, que narrava a sua própria história e aparecia em tamanho natural. A cela da solitária foi reproduzida com uma perfeição clautrofóbica: muito pequena, com uma cama, uma mesinha, uma janela muito estreita, um vaso sanitário que precisava de limpeza e a porta de aço. Todos esses elementos ajudavam a reforçar a angustiante história.
A seguir veio Planet (Infinit). Esta animação mostrava um planeta na qual proliferam cogumelos gigantes e onde os insetos não conseguem sobreviver. Repentinamente, começa a chover e a chuva rapidamente se transforma em um dilúvio que inunda tudo. A chegada da água faz surgir os peixes e, então, tão rápido quanto a sua chegada, a água desaparece e os cogumelos retornam em um círculo infinito.
O filme mexeu bastante com a sensações. Vai de alto a baixo como uma montanha russa. A chegada da chuva fez com que "mergulhássemos" na água, onde podíamos ver o surgimento dos peixes que, foram crescendo até um tamanho gigante e ficavam nos olhando tão fixamente que davam a impressão que iriam nos atacar a qualquer momento, o que não aconteceu. Mas, se tivesse acontecido, é bem possível que tívessemos gritado...
Para terminar, veio o documetário Out of Exile: Daniel's Story, que contava a história de Daniel, um jovem gay que foi expulso de casa após revelar à sua família a sua orientação sexual e tornou-se um sem-teto até refazer a sua vida.
O filme mostrava uma animação computadorizada em tamanho natural bastante semelhante à de alguns games que reproduz o dia em que Daniel fez a revelação ao seus familiares. Há uma discussão e, em seguida, uma briga na qual o jovem é ofendido e fisicamente agredido por sua própria mãe. Quando a briga começou, nós nos afastamos, como se estivéssemos realmente testemunhando tudo. Após essa cena, apareceu o próprio Daniel dando um depoimento juntamente com outras pessoas da comunidade LGBT. E mais uma a tridimensionalidade das pessoas impressionou.
Posto tudo isso, posso afirmar a vocês: o atual 3D está morto, pois nenhum filme nesse formato pode competir com a RV. Basta imaginar como seria assistir a, por exemplo, um filme da saga Star Wars que venham a fazer em RV imergindo e interagindo com os personagens, os cenários e a trama de um modo que o 3D jamais conseguirá.
O que chateia é que filmes em RV ainda vão levar um tempo para estarem disponíveis em escala massiva, pois os óculos especiais ainda são muito caros o que, por sua vez, encareceria o preço dos ingressos - que já não são tão baratos...
Ainda assim, o futuro é esse: é virtual e é uma realidade.
Veja abaixo as fotos do evento:
RV não é algo novo. Se fizermos uma pesquisa pela internet, veremos que seus primórdios datam da década de 1950, mas foi na década de 1980, com o músico e cientista da computação estadunidense Jaron Lanier, considerado um dos precursores dessa tecnologia, que a RV deu o grande salto em frente com o uso de simuladores multi-usuários em ambiente compatilhado e equipamentos tais como capacetes e luvas digitais (que começaram a serem vendidas comercialmente em 1987) que permitiam tanto a imersão quanto a interação com esse novo mundo. Atualmente, é possível adquirir óculos especiais para RV em lojas de equipamentos eletro-eletrônicos e digitais de grandes fabricantes de telefones celulares, notebooks, tablets, etc.
Em 29 de outubro último, fui com minha namorada a uma sessão da 41a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no CineSesc, uma das melhores salas de cinema da capital paulista e, sem dúvida, do país. A sessão que escolhi chamava-se HTC apresentava quatro filmes de curta-metragem: a animação francesa Planet (Infinit), da França e dirigido pela cineasta japonesa radicada na França, Momoko Seto; Nothing Happens, animacão co-produzida por Dinamarca e França dirigido a quatro mãos pelo casal israelense Urit e Michelle Kranot; o documentário After Solitary, dirigido igualmente a quatro mãos pela jornalista e cineasta estadunidense Cassandra Herman e pela também estadunidense Lauren Mucciolo, cineasta e documentarista; e, por fim, mais um documentário, Out of Exile: Daniel's Story, de mais uma jornalista e documentarista estadunidense, Nonny de La Peña (indicada ao Oscar de Melhor Documentário de 1992 por Death On The Job).
As exibições desses curtas não foram na sala de exibição habitual do CineSesc e foi permitida a entrada de somente sete pessoas por vez, de modo que o ingresso - que era gratuito - devia ser retirado com uma hora de antecedência à sessão que iria ser assistida. Entramos por uma porta e subimos por uma escada onde estava instalada a sala para exibição das películas em RV.
Conforme vocês verão nas fotos abaixo, haviam cinco cadeiras giratórias com os óculos especiais e fones de ouvidos. Eu e minha namorada ficamos em pé, pois, segundo explicado, era necessário para a interação dos filmes que iríamos ver. Nas paredes, no alto, haviam duas pequenas caixas que, depois soube, transmitiam as imagens para os óculos. Também foi explicado que nos moveríamos durante a exibição, mas por um espaço limitado que poderia ser visto com os óculos especiais. Foram colocados os óculos, que, apesar de um pouco pesados, não eram desconfortáveis e cobriam os olhos por completo. Por sobre eles, os fones de ouvido.
Quando o equipamento foi ligado, surgiu um cenário branco cortado por linhas pretas que podia ser visto em um ângulo de 360 graus, alem de em cima e em baixo (esse ângulo de visão também aparecia nos filmes exibidos). Olhando para o chão era possível ver a linha branca que delimitava os movimentos.
O primeiro filme a ser exibido, foi Nothing Happens, que contava a história de pessoas que se reuniram para uma possível celebração em um dia de inverno, mas, como o próprio título já diz, nada acontece. O filme retrata a tremenda solidão nesse local isolado, com uma rotina triste.
O filme mostrava um descampado com várias árvores e corvos voando enquanto nevava. Era possível olhar para cima e ver a neve caindo além dos corvos voando bem para o alto. Algumas vezes apareciam cenas em uma árvore, com os corvos pousados nela e dentro de um buraco que, de vez quando, tremia e com pessoas de olhos esbugalhados que nos observava do lado de fora. Uma cena particularmente marcante é a revoada dos corvos na árvore.
O filme seguinte foi o documentário After Solitary, que contava a história de um ex-condenado por assalto em uma prisão dos EUA, de seu confinamento na solitária - que o leva a surtar - e da dificuldade em readaptar-se à vida normal após cumprir sua pena.
A tridimensionalidade do filme era impressionante, a começar pelo ex-condenado, que narrava a sua própria história e aparecia em tamanho natural. A cela da solitária foi reproduzida com uma perfeição clautrofóbica: muito pequena, com uma cama, uma mesinha, uma janela muito estreita, um vaso sanitário que precisava de limpeza e a porta de aço. Todos esses elementos ajudavam a reforçar a angustiante história.
A seguir veio Planet (Infinit). Esta animação mostrava um planeta na qual proliferam cogumelos gigantes e onde os insetos não conseguem sobreviver. Repentinamente, começa a chover e a chuva rapidamente se transforma em um dilúvio que inunda tudo. A chegada da água faz surgir os peixes e, então, tão rápido quanto a sua chegada, a água desaparece e os cogumelos retornam em um círculo infinito.
O filme mexeu bastante com a sensações. Vai de alto a baixo como uma montanha russa. A chegada da chuva fez com que "mergulhássemos" na água, onde podíamos ver o surgimento dos peixes que, foram crescendo até um tamanho gigante e ficavam nos olhando tão fixamente que davam a impressão que iriam nos atacar a qualquer momento, o que não aconteceu. Mas, se tivesse acontecido, é bem possível que tívessemos gritado...
Para terminar, veio o documetário Out of Exile: Daniel's Story, que contava a história de Daniel, um jovem gay que foi expulso de casa após revelar à sua família a sua orientação sexual e tornou-se um sem-teto até refazer a sua vida.
O filme mostrava uma animação computadorizada em tamanho natural bastante semelhante à de alguns games que reproduz o dia em que Daniel fez a revelação ao seus familiares. Há uma discussão e, em seguida, uma briga na qual o jovem é ofendido e fisicamente agredido por sua própria mãe. Quando a briga começou, nós nos afastamos, como se estivéssemos realmente testemunhando tudo. Após essa cena, apareceu o próprio Daniel dando um depoimento juntamente com outras pessoas da comunidade LGBT. E mais uma a tridimensionalidade das pessoas impressionou.
Posto tudo isso, posso afirmar a vocês: o atual 3D está morto, pois nenhum filme nesse formato pode competir com a RV. Basta imaginar como seria assistir a, por exemplo, um filme da saga Star Wars que venham a fazer em RV imergindo e interagindo com os personagens, os cenários e a trama de um modo que o 3D jamais conseguirá.
O que chateia é que filmes em RV ainda vão levar um tempo para estarem disponíveis em escala massiva, pois os óculos especiais ainda são muito caros o que, por sua vez, encareceria o preço dos ingressos - que já não são tão baratos...
Ainda assim, o futuro é esse: é virtual e é uma realidade.
Veja abaixo as fotos do evento:
Cartazes das sessões dos filmes em RV
Cadeiras giratórias na sala de exibição
Notebook usado para a exibição dos filmes
Com os óculos especiais e os fones de ouvido
Os óculos especiais
Veja aqui o vídeo oficial da vinheta da 41a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (HD):