Panorama do Cinema retorna com mais uma Dica de Leitura, na qual indicamos livros, revistas e artigos sobre cinema. E a nossa dica de hoje vai para três livros de histórias em quadrinhos (HQs) dos irredutíveis gauleses (antepassados dos franceses) Asterix e Obelix, criações do desenhista francês Albert Uderzo (1927-2020) e de seu conterrâneo, o roteirista René Goscinny(1926-1977), um sucesso monumental traduzido, até o momento, em 83 línguas e 29 dialetos e que, ainda por cima, rendeu um parque temático (concorrente direto da Eurodisney) e, claro, 13 filmes para o cinema, sendo nove desenhos animados e quatro filmes em live-action com a participação de grandes artistas internacionais tais como Christian Clavier, Clovis Cornillac e Édoard Bauer (como Asterix), Gérard Depardieu (Obelix), Alain Delon (Júlio César), Monica Bellucci (Cleópatra) e Roberto Benigni (Detritus). As histórias passam-se na antiguidade, mais precisamente no ano 50 a.C. quando toda a Gália (onde atualmente é a França) foi conquistada pela então República de Roma. Toda? Não. Uma pequena aldeia resiste, agora e sempre, ao invasor. Essa resistência vem da poção mágica preparada pelo druida Panoramix que dá uma força sobre-humana a quem a bebe e permite aos gauleses enfrentarem de igual para igual as legiões romanas. O conquistador romano Júlio César (100 a.C. - 44 a.C.) está sempre quebrando a cabeça em como submeter essa aldeia de loucos ao poder de Roma.
Criados em 1959 para a revista Pilote, que dava oportunidade a novos talentos das HQs, Asterix e Obelix eram, a princípio, uma sátira crítica ao nacionalismo francês, mas, vejam só, tornaram-se eles mesmos símbolos desse mesmo nacionalismo, tendo batizado um satélite artificial e foram tese de doutorado de um estudante da prestigiosa Universidade de Sorbonne. Ainda assim, as histórias dos gauleses sempre apresentavam algum tipo de crítica bem humorada da sociedade ocidental, seja sobre o imperialismo, a guerra fria, a especulação imobiliária, o charlatanismo, os conflitos no Oriente Médio, o consumismo e o neoliberalismo. Após a morte de Goscinny, em 1977, Uderzo assumiu, a partir de 1980, a autoria dos roteiros, pois achava que seria um insulto à memória do amigo René contratar um substituto. Porém, com o passar do tempo, a idade pesou e, Albert percebeu que já era hora de aposentar-se. Reviu sua posição e contratou não um, mas dois substitutos: Jean-Yves Ferri para os roteiros e Didier Conrad para os desenhos. A nova dupla iniciou seu trabalho em 2013, já produziu três álbuns e teve aprovação dos fãs. A seguir, conheça os álbuns nos quais esses divertidíssimos gauleses fazem sua homenagem ao cinema:
Obelix & Companhia (1976)
Como não conseguem vencer os gauleses pela força, os romanos tentam vencer pelo ouro, atiçando a ganância e o consumismo na pequena aldeia de nossos heróis. Para isso, começam a comprar os menires produzidos por Obelix e a revendê-los com sucesso em Roma. Este volume tem a participação especialíssima de Stan Laurel (1890-1965) e Oliver Hardy (1892-1957), mais conhecidos como O Gordo & O Magro (em Portugal, Bucha & Estica), como dois legionários atrapalhados, como não poderia deixar de ser.
A Odisseia de Asterix (1981)
No segundo álbum totalmente produzido por Uderzo, Asterix e Obelix devem ir ao Oriente Médio buscar um ingrediente imprescindível para a preparação da poção mágica que permite que sua aldeia resista aos romanos. São acompanhados pelo druida Zerozerosix - que tem esse nome por ter tentado sem sucesso por seis vezes o curso de druida. A escola acabou por se cansar e o mandou embora - que, como os leitores já devem ter adivinhado, é uma caricatura do ator escocês Sean Connery (Os Intocáveis) em uma sátira ao seu eterno papel de James Bond que, curiosamente, aqui aparece como vilão.
A Galera de Obelix (2001)
Como caiu no caldeirão do druida Panoramix quando era pequeno, Obelix não pode tomar a poção mágica, o que o deixa frustrado e irritado. Um dia, ele entra escondido na casa do druida, bebe um caldeirão inteiro de poção e transforma-se em pedra. Panoramix tenta desesperadamente encontrar um antídoto e, ao dá-lo a Obelix, este, de fato, não está mais transformado em pedra, mas voltou a ser criança! Há somente um lugar onde pode-se encontrar uma cura para Obelix pode voltar ao normal: Atlântida. Para chegar nessa ilha distante, os gauleses terão ajuda de escravos fugitivos em uma galera guiada pelo grego Spartakis que, como os leitores também adivinharam, é uma caracterização do ator estadunidense Kirk Douglas (Os Últimos Durões) no seu papel de Spartacus. Este álbum, aliás, é dedicado a este grande ator.
Asterix e Latraviata (2001)
Asterix e Obelix fazem aniversário e suas mães vem até a sua aldeia com dois presentes: uma espada e um elmo romanos. O que ninguém sabe é que essas armas pertencem a Pompeu (106 a.C. - 48 a.C.), rival de Júlio César e que deseja governar Roma. Para recuperar os artefatos, envia a atriz Latraviata disfarçada de Falbalá, uma linda gaulesa por quem Obelix é apaixonado. Sem o disfarce Latraviata parece-se com a atriz austríaca Romy Schneider (trilogia Sissi), já falecida, mas ainda muito popular na França. Pelo seu desempenho, Latraviata recebe de Asterix uma pequena estátua de Júlio César - menção ao Prêmio César, o Oscar francês - o que deixa o conquistador atônito: "Um César para uma atriz?". As aventuras de Asterix e Obelix são publicadas em Portugal pelas Edições ASA e, no Brasil, pela Editora Record. As edições brasileiras tem preços que variam de R$ 34,90 a R$ 44,90 (valores de julho/2021, de acordo com o site oficial da Record). Por Tutatis e por Belenos! O que estão esperando para curtir as divertidas aventuras desses irredutíveis gauleses? Veja aqui o trailer do desenho animado Asterix e o Domínio dos Deuses (dublado - HD):
Veja aqui o trailer do filme Asterix e Obelix a Serviço de Sua Majestade (legendado):
A Academia Brasileira de Cinema já escolheu o filme que será o candidato brasileiro para uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Trata-se d'O Grande Circo Místico, com direção de Cacá Diegues (Bye-Bye Brasil).
Com roteiro do próprio Diegues e baseado no poema homônimo do escritor Jorge de Lima (1893-1953), que já havia servido de inspiração a um espetáculo de dança criado por Naum Alves de Souza com trilha sonora de Chico Buarque e Edu Lobo, O Grande Circo Místico conta de forma poética, por meio do mestre de cerimônias Celaví (Jesuíta Barbosa, de Jonas), que nunca envelhece, a história de cinco gerações da família Knieps desde 1910 até os dias de hoje.
O Grande Circo Místico teve a sua première mundial no Festival de Cannes deste ano (exibido fora de competição). Com locações em Portugal, tem no seu elenco nomes como Bruna Linzmeyer (O Filme da Minha Vida) e os franceses Catherine Mouche (Marvin) e Vincent Cassel (Cisne Negro). A lista dos filmes indicados ao prêmio será anunciada em em 22 de janeiro de 2019. A premiação será no dia 24 de fevereiro de 2019. O Grande Circo Místico tem estréia comercial no Brasil prevista para 15 de novembro de 2018.
Assista aqui o trailer oficial d'O Grande Circo Místico (original em português - HD):
O documentário El Pepe, Una Vida Suprema (ainda sem título em português), dirigido pelo cineasta sérvio Emir Kusturica (Quando Meu Pai Saiu em Viagem de Negócios), que expõe as ideias, convicções políticas e éticas e visão de mundo do ex-presidente e atual senador do Uruguai, José "Pepe" Mujica, recebeu no Festival de Veneza o prêmio CICT-UNESCO Enrico Fulchignoni. A honraria premia filmes e produções audiovisuais de alto nível e que permite a livre circulação de informações. O nome Enrico Fulchignoni é uma homenagem ao antigo diretor de criação artística e literária da UNESCO, organização das Nações Unidas (ONU) para educação, ciência e cultura. No mesmo festival, foi exibido o filme Uma Noite de 12 anos, do diretor uruguaio Alvaro Brechner (Sr. Kaplan), que conta, de modo dramatizado, o período em que Mujica passou na prisão com dois companheiros e os horrores que lá sofreram (veja aqui). Ao saber da premiação, Pepe Mujica, com sua conhecida modéstia e seu igualmente conhecido senso de humor maroto disse: "Eu não sou uma estrela, nasci estrelado. Eu estou aqui [Festival de Veneza] exclusivamente por um amigo, um amigo que se chama Kusturica. Meu mundo é outro. Não sei se melhor ou pior, mas outro". El Pepe, Una Vida Suprema ainda não tem previsão de estréia no Brasil. Veja aqui o programa Un Mundo de Cine, do YouTube, apresentado pela jornalista espanhola Alejandra Musi, que fala sobre o documentário El Pepe, Una Vida Suprema (original em espanhol):
Em 26 de setembro de 2008, após uma longa batalha contra o câncer, morreu aos 83 anos de idade Paul Leonard Newman, conhecido internacionalmente como Paul Newman, um dos maiores atores já surgidos em Hollywood em todos os tempos. O falecimento de Newman vai um pouco além da perda de um artista extraordinário. Porém, antes de nos aprofundarmos nesse assunto, vamos fazer uma breve retrospectiva da carreira cinematográfica desse grande astro.
Filho de um próspero comerciante, Newman começou atuar em peças teatrais em sua escola. Serviu na marinha durante a Segunda Guerra Mundial. Após obter a dispensa do serviço militar, obteve uma bolsa de estudos e foi estudar no Kennyon College, uma faculdade de artes liberais ligada à Igreja Episcopal. Logo após se formar, foi estudar arte dramática na Universidade deYale e, um ano depois, entrou para o famoso Actor’s Studio, considerada a melhor e mais prestigiosa escola de dramaturgia dos Estados Unidos e dirigida pelo grande professor de dramaturgia Lee Strasberg, mestre de uma geração de grandes atores e atrizes estadunidenses tais como Marlon Brando, James Dean, Marilyn Monroe, Jane Fonda, Geraldine Page, Al Pacino, Robert de Niro e Dustin Hoffman.
Fez sua estréia como ator profissional em um espetáculo da Broadway chamado Picnic, o que lhe valeu um convite para trabalhar em um grande stúdio de cinema, a Warner Brothers. Seu primeiro filme foi O Cálice Sagrado, em 1954. Newman, um eterno perfeccionista, considerou sua atuação tão ruim que chegou a publicar um anúncio de página inteira em um jornal pedindo desculpas ao público.
Porém, em 1956, arrancou elogios da crítica por sua performance como o boxeador Rocky Graziano no filme Marcado pela sarjeta. Em 1958, as pessoas começaram a perceber que aquele ator de olhos azuis era mais do que apenas um rosto bonito: além de outro grande sucesso em Gata em teto de zinco quente (no qual atuou com a diva Elizabeth Taylor e teve sua primeira indicação ao Oscar), ganhou seu primeiro grande prêmio como intérprete, o de melhor ator no Festival de Cannes pelo filme O Mercador de Almas.
É na década de 1960 que Newman se estabeleceu de vez como um dos grandes nomes do cinema estadunidense, tanto em prestígio como em bilheteria. São dessa época filmes como Desafio àcorrupção, de 1961 (no qual fez o papel do jogador de snooker “fast” Eddie Felson, que repetiria anos depois em A cor do dinheiro); O Indomado, em 1963; Cortina Rasgada, em 1966 (quando trabalhou com o mestre do suspense Alfred Hitchcock); Rebeldia Indomável, em 1967; Rachel,Rachel, em 1968 (sua estréia na direção trabalhando com sua esposa por mais de 50 anos, Joanne Woodward, e pelo qual ganhou o Globo de Ouro como diretor) e, principalmente, Butch Cassidy & Sundance Kid, em 1969, filme-ícone de uma época que marcou uma geração inteira.
Em 1973, um outro sucesso espetacular, Golpe de Mestre, no qual trabalhou com seus amigos, o ator Robert Redford e o diretor George Roy Hill (que também estavam em Butch Cassidy) e que faturou sete Oscars. No ano seguinte atuou junto a outro grande astro, Steve McQueen, no filme que inaugurou a era do “cinema-catástrofe”, Inferno na Torre.
A década de 1980 começou com Ausência de malícia, em 1981 e com O Veredicto, no qual Newman teve uma atuação magnífica como o advogado alcoólatra Frank Galvin. Em 1986, a redenção: após várias indicações, Paul Newman finalmente conquista o Oscar de melhor ator por A cor do dinheiro (no qual foi dirigido pelo diretor Martin Scorsese e atuou com o então jovem astro campeão de bilheteria Tom Cruise).
Na década de 1990, já não atua com a mesma freqüência, mas ainda conquista mais um prêmio, o Urso de Prata no Festival de Berlim como melhor ator no filme O Indomável – assim é minha vida.
Foi-se o homem, fica o mito. Mas, qual mito? O de um ator brilhante detentor dos prêmios mais importantes? O de um apaixonado por carros e por automobilismo? O de um marido dedicado? O de um pai que perdeu seu filho para as drogas e passou a lutar contra esse flagelo? O de um filantropo que usava sua fama e prestígio para a caridade? O de um liberal que apoiava as causas justas? Ou simplesmente de um amigo fiel?
É tudo isso, mas vai além. Para as gerações mais novas, que têm como ídolos verdadeiros símbolos do materialismo que são indiferentes ao seu próximo, pode ser um pouco difícil entender a morte de Paul Newman. Newman pode ser definido como um “último dos moicanos”, um tipo de ser humano cada vez mais raro em nossa sociedade atual. Alguém que era um exemplo para as pessoas, mas um exemplo no melhor sentido dessa palavra. Era alguém que acreditava sinceramente na humanidade e no jeito correto de se fazerem as coisas sem ser hipócrita ou moralista. Era generoso, mas sem ser vaidoso. Ao contrário de várias estrelas hollywoodianas atuais, não usava a caridade e a filantropia para a autopromoção, preferia ser discreto. Não hesitava em apoiar as causas políticas liberais, a ponto de o ex-presidente dos EUA, Richard Nixon, colocá-lo em sua “lista negra” como um de seus piores inimigos. Para um liberal como Newman, não poderia ter havido honra maior!
Quando aparecia nas corridas automobilísticas – primeiro como piloto e, posteriormente, como dono de equipe – o fazia como mais um participante, como um verdadeiro esportista. Teve um casamento exemplar com sua segunda esposa, Joanne Woodward, uma atriz e uma pessoa de grandeza igual à de seu marido, e era um excelente pai, a ponto de sentir no mais profundo de sua alma a morte de seu filho do primeiro casamento, Scott Newman, por overdose de drogas. Era o tipo de amigo que jamais esquecia o aniversário de alguém e que estava sempre à disposição para uma cervejinha com seus chapas (e ainda fazia questão de pagar tudo!).
É claro que não era perfeito. Bebia e fumava muito (aliás, foi por meio do tabagismo que adquiriu o cãncer que o matou), mas era aquele espécie de gente cujas qualidades superavam quaisquer defeitos de caráter que possuísse.
Em resumo, Paul Newman era um astro na verdadeira acepção do termo. Embora já estivesse com 83 anos, é o tipo de pessoa que, quando parte, vai cedo demais. Ele vai fazer falta e como!
Para encerrar, foi selecionado um vídeo: a inesquecível “cena da bicicleta” do filme Butch Cassidy & Sundance Kid no qual contracena com com a bela Katherine Ross. Que esta pequena amostra sirva para mostrar a todos - e em especial aos mais jovens - a grandeza desse homem que o mundo perdeu.
Um dos mais prestigiosos festivais de cinema do mundo, o Festival de Veneza, realizado anualmente na cidade italiana de mesmo nome, apresenta na sua edição de 2018 uma dupla homenagem ao ex-presidente e atual senador do Uruguai, José "Pepe" Mujica. Tratam-se do filme Uma Noite de 12 Anos, do diretor, roteirista e produtor uruguaio Alvaro Brechner (Sr. Kaplan) e com o ator espanhol Antonio de la Torre (Volver), no papel de Mujica; e o documentário El Pepe, Una Vida Suprema (ainda sem título em português), do diretor sérvio Emir Kusturica (Quando Meu Pai Saiu em Viagem de Negócios). O primeiro, que compete na seção "Horizontes", conta o período em que Mujica - então um guerrilheiro que combatia a ditadura militar que tiranizava o Uruguai - e mais dois de seus companheiros passaram na prisão e todos os horrores que lá sofreram. O segundo é o documentário, exibido fora de competição, no qual Mujica expõe sua visão de mundo e convicções políticas e éticas. Nas palavras do diretor Kusturica: "Penso que [Mujica] é uma pessoa única, que enriquece nossos sentimentos, mas também as nossas experiências. Estou confiante que um dia será uma inspiração para os que estão a perder o amor em acreditar no Socialismo". Por sua vez o veterano político disse sobre o cineasta: "Não conhecia Kusturica e também não sou um homem do cinema. Não entendo nada de cinema. Ao conhecê-lo, tornamo-nos amigos". Pepe Mujica tornou-se internacionalmente conhecido por sua simplicidade. Mora em uma pequena chácara nos arredores de Montevidéu onde planta flores e hortaliças. Ao invés de um carro do ano, tem um velho fusca de cor azul-celeste. Do salário que ganha - primeiro como presidente e, depois, como senador - doa quase 70% para o seu partido (Frente Ampla) e para um fundo de construção de moradias e se sustenta com o restante. Costuma dizer com bom humor: "Por sorte, por enquanto tenho a minha esposa (com quem está junto desde a década de 1970, mas casaram-se somente em 2005. Uma mera formalidade...) que banca as despesas". Mujica também tornou-se conhecido por ter aprovadas durante seu governo leis de cunho progressistas tais como a descriminalização do aborto, o matrimônio igualitário (entre pessoas do mesmo sexo) e, a mais polêmica de todas: a legalização do mercado da maconha para consumo pessoal e cuja produção, distribuição e venda ficam a cargo do governo. Uma Noite de 12 anos tem estréia prevista para o próximo dia 27 de setembro. El Pepe, Una Vida Suprema ainda não tem previsão de estréia no Brasil.
Veja aqui o trailer oficial de Uma Noite de 12 anos (legendado - HD):
Veja aqui reportagem do canal do YouTube LoftCinema, apresentado pelo jornalista mexicano Sal Franco, sobre o documentário El Pepe, Una Vida Suprema (original em espanhol - HD):
Queridas amigas e queridos amigos de Panorama do Cinema
Vocês, certamente, notaram a ausência das críticas, artigos e matérias que, muito gentilmente, acostumaram-se a acompanhar neste modesto espaço. Isso deveu-se a um problema de saúde que tive e impediu-me de continuar com as postagens costumeiras.
Porém, felizmente, já recuperei-me e vou recuperar o tempo perdido postando os textos que estão em atraso, assim como os novos que virão.
De qualquer forma, muito obrigado por sua compreensão e pelo seu apoio.
A nave estelar Enterprise perdeu no ano de 2015 três de seus tripulantes: o produtor Harve Bennett (que produziu vários filmes da franquia de Jornada nas Estrelas); a atriz Grace Lee Whitney (que interpretava Janice Rand, a ordenança do Capitão Kirk); e, principalmente, um de seus mais ilustres membros: Leonard Nimoy, mais conhecido como o Sr. Spock. Nas próximas linhas conheceremos um pouco mais sobre o intérprete do extraterrestre mais lógico do universo.
Leonard Simon Nimoy nasceu em 26 de março de 1931 na cidade de Boston, nos EUA, filho de imigrantes judeus ucranianos, durante o duro período da Depressão Econômica que assolava o mundo. Começou a atuar com oito anos de idade em peças infantis no teatro de seu bairro. Seus pais, pessoas muito práticas, não aprovavam essa escolha de seu filho (um futuro paralelo com Spock), mas seu avô o incentivou a continuar. O jovem Leonard arrumou um emprego de vendedor de aspiradores de pó, que lhe permitiu economizar 600 dólares para pagar o curso de teatro no Boston College. Lá, tornou-se um devoto seguidor do método Stanislavsky de interpretação que, segundo ele, permitiu-lhe explorar os “territórios psicológico, emocional e físico, que não poderia ser feito em nenhum outro lugar”. Tomou o ator Marlon Brando como modelo e, como ele, começou a usar jeans e camisetas. Arrumou um outro emprego, desta vez em uma sorveteria, para ajudar a pagar os estudos.
Fez sua estreia no cinema em 1951, em filmes menores. Em 1952, teve sua primeira chance como protagonista no filme Kid Monk Baroni, no qual interpreta um jovem marginal de rua que torna-se um campeão de boxe. Esse filme deu-lhe a fama de ator dramático e intenso, mas, ainda assim, só conseguia papéis em filmes B como, por exemplo, Zombies of The Stratosphere, no qual interpretava um marciano que queria conquistar a Terra. O destino já começava a agir...
Em 1953, foi servir o exército, onde ficou por um ano e meio. Nesse período, conheceu o também ator Fess Parker (que, futuramente, seria o astro da série Daniel Boone) e organizava, dirigia e estrelava espetáculos para entreter os soldados. Dentre esses espetáculos, destacou-se a peça, Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams. Deixou o serviço militar com a patente de sargento.
Ao retornar ao cinema, fez mais alguns trabalhos em filmes B, até que apareceram oportunidades na crescente indústria da televisão. Nimoy agarrou essas oportunidades com unhas e dentes – afinal, tinha mulher e filhos para sustentar – e começou a aparecer em vários seriados (alguns bem conhecidos dos brasileiros) tais como Dragnet, Bonanza, Gunsmoke, Além da Imaginação, Rawhide (onde conheceu e trabalhou com Clint Eastwood), Os Intocáveis, Perry Mason,Combate, Agente 86 e Daniel Boone. De todos os seriados em que atuou, três se mostraram marcantes em sua carreira: O Homem de Virgínia, no qual trabalhou com DeForest Kelley, o futuro Dr. McCoy (curiosamente interpretou também o papel de um médico); O Agente da U.N.C.L.E., onde trabalhou com William Shatner, o futuro Capitão Kirk; e The Liutenant, um seriado de pouca duração criado por um produtor chamado Gene Roddenberry. A atuação de Nimoy chamou a atenção de Roddenberry, que o convidou para participar do episódio-piloto de um seriado de ficção-científica que tinha acabado de criar para a NBC (uma das chamadas “três grandes” emissoras dos EUA) e que se chamava Jornada nas Estrelas. Leonard aceitou o convite e, ao fazer isso, sua vida mudou para sempre.
Roddenberry disse a Nimoy que o personagem que faria ainda não estava completamente elaborado, mas Spock que não deveria deixar dúvida a sua condição de extraterrestre. Seria, portanto, distinguido dos demais por uma cor diferente (provavelmente o vermelho), um corte de cabelo diferente e orelhas pontudas. Ele também seria diferente em termos de temperamento. Spock era meio-humano, meio-alienígena, e havia sido criado num mundo onde a demonstração de emoção era de mau gosto e firmemente reprimida. Esse lado racional e “reprimido” ocultaria, é claro, seu lado humano e emocional.
A cor vermelha foi deixada de lado (ao invés disso, foi usado um leve tom esverdeado que apareceria melhor nas telas de televisão pois, na época, nem todas as TVs eram coloridas), mas o corte de cabelo e as orelhas pontudas foram mantidas. O episódio-piloto chamava-se The Cage (A Jaula) e a nave Enterprise era comandada pelo Capitão Christopher Pike (interpretado pelo galã Jeffrey Hunter, de Rei dos Reis). Spock já era oficial de ciências, mas não o primeiro-oficial, cargo que coube à Número Um (interpretada por Majel Barrett, futura esposa de Roddenbery). Neste episódio, a personalidade de Spock ainda está muito “humana” – com direito inclusive a sorrisos! – bem diferente do que se veria mais tarde.
O episódio foi rejeitado pela direção da NBC por ser considerado “muito cerebral”, mas, em algo raro na televisão, Roddenberry teve uma segunda chance. Todo o elenco foi trocado, com exceção de Nimoy e Barrett (que faria o papel da enfermeira Christine Chapell) e, para o segundo episódio piloto, chamado Where No Man Has Gone Before (Onde Nenhum Homem Jamais Esteve), foram contratados James Doohan (no papel do Sr. Scott), George Takei (Sr. Sulu) e, especialmente, William Shatner. Mais tarde, viriam DeForest Kelley, Nichelle Nichols (Tenente Uhura) e Walter Koenig (Sr. Chekov).
O seriado fez sua estreia em 1966, com críticas variadas, audiência baixa, mas uma legião fiel de fãs, que incluía os ilustres cientistas e escritores Isaac Asimov e Arthur C. Clarke. Durante o seriado, Nimoy pôde desenvolver a personalidade vulcana lógica, racional e sem emoções de Spock – sempre em conflito com seu lado humano - tal como Roddenberry havia imaginado e, ainda, a aperfeiçoou com as famosas frases “Isso é lógico/ ilógico”, “Fascinante”, “Vida longa e próspera”, com a musical “lira vulcana”, o “toque vulcano” (aplicado no pescoço dos inimigos para nocauteá-los) e, especialmente, com a famosa “saudação vulcana”. Segundo sua segunda autobiografia, Eu Sou Spock (falaremos da primeira mais adiante), Nimoy conta que criou a saudação “pegando emprestado” de um ritual judaico ortodoxo executado nas sinagogas:
“Durante o culto da Páscoa, os Konahim (que são os sacerdotes) costumam abençoar os fiéis. Eles erguem as mãos mostrando as palmas para a congregação, com os polegares esticados e os dedos médio e anular separados de maneira que cada mão forme dois ‘V’. Esse gesto simboliza a letra hebraica shin, a primeira da palavra Shaddai, que significa ‘Senhor’; na cabala judaica, shin também representa o Espírito Santo.
O ritual me impressionou muito quando eu era menino (...). O momento em que os Konahim abençoavam a congregação mexia comigo profundamente, por causa do seu poder de magia e teatralidade”.[1]
Com todas essas “vulcanices”, Spock não só tornava-se popular entre os fãs, como também valeu a Nimoy três indicações seguidas ao prêmio Emmy (o “Oscar” da TV estadunidense) de melhor ator coadjuvante. Nessa época comentava-se muito sobre uma rivalidade e ciúmes de Shatner em relação Nimoy. Nimoy sempre negou isso, embora admitisse a rivalidade, mas, como o próprio definia, “uma rivalidade saudável de irmãos que competem entre si”. Nimoy sempre recordou com carinho e bom humor a amizade com o elenco de Jornada, em especial com Shatner e DeForest Kelley:
“De Kelley é um típico cavalheiro do Sul [dos EUA], uma alma tranquila e gentil (...). É um homem doce e modesto e está casado com sua adorável esposa, Carolyn, há mais de 40 anos.[2]
Acho que é hora de o mundo inteiro saber o que de verdade acontecia no estúdio de Star Trek: Bill Shatner é um dos mais infames piadistas do mundo, adora um trocadilho, e logo deu início a sua ‘missão de cinco anos’ de tentar me enlouquecer”.[3]
Para quem ainda tem dúvidas sobre a amizade entre o capitão da Enterprise e seu primeiro-oficial alienígena, eis uma história ainda não muito conhecida: apesar do sucesso pessoal, Nimoy estava nessa época sofrendo de problemas com álcool e drogas e Shatner ajudou-o a recuperar-se. Anos depois, Nimoy retribuiu o favor ao ajudar a esposa do amigo a recuperar-se dos mesmos problemas.[4]
Apesar da devoção dos fãs, Jornada nas Estrelas foi cancelada em 1969. Entretanto, Nimoy não ficou desempregado muito tempo. Nesse mesmo ano foi escalado para trabalhar em uma série de grande sucesso, Missão Impossível, na qual fazia o papel de Paris, um mestre dos disfarces. As lembranças de Nimoy dessa época, porém, são ambíguas: dizia que, no início, trabalhar em Missão Impossível “era excitante, mas acabou ficando chato” por achar o papel muito repetitivo.
Em 1971, Nimoy decidiu sair do seriado – o que muitos consideraram uma loucura devido à grande audiência do programa – mas Leonard procurava outros desafios. Foi nesse período que iniciou duas paixões: a poesia e, principalmente, a fotografia.
Continuou trabalhando em filmes para o cinema e a TV (que incluía o seriado Galeria do Terror, no qual teve sua primeira experiência como diretor) ao mesmo tempo em que começou uma intensa atividade teatral, com atuações elogiadas em várias peças dentre as quais destacam-se Um Violinista no Telhado, Calígula (do escritor e filósofo existencialista francês Albert Camus, na qual interpreta o personagem-título, um louco que quer ser lógico...), a polêmica The Man in the Glass Booth (que trata do tema do holocauto judeu), Um Estranho no Ninho e Equus.
Nesse mesmo período, aconteceu algo com o qual Nimoy não esperava: as estações de TV locais começaram a reprisar Jornada nas Estrelas, que teve índices de audiência nunca sonhados na década de 1960. Devido a esse renascimento do seriado, em 1973, Nimoy foi chamado pela Filmation, estúdio de desenhos animados feitos para a televisão, para dublar Spock em Jornada nas Estrelas – A Série Animada. Jornada nas Estrelas acabou tornado-se um fenômeno cultural e sociológico.
Assim como muitas pessoas, Nimoy não sabia exatamente o porquê desse fenômeno, mas especulava:
“Primeiro, Star Trek oferecia esperança para uma geração que crescera assustada com o fantasma da guerra nuclear. (...) Ao mesmo tempo, nossa paranoia em relação à União Soviética estava em seu clímax (...).
E em meio a toda essa paranoia e terror havia uma mensagem clara de esperança na forma de Star Trek, uma mensagem que parecia dizer: ‘Sim, vamos sobreviver à era atômica. Vamos fazer contato com vidas inteligentes em outros planetas e eles serão nossos amigos, não nossos inimigos. Juntos, vamos trabalhar pelo bem comum’.
(...) Os anos 70 foram tempos de grande rebeldia cultural, como também foram o período da Guerra do Vietnã e de Watergate, do abuso de drogas e da liberdade sexual. A sociedade estava vivendo uma mudança muito rápida (...). E, em meio a esses tempos de incerteza, havia a tripulação de Star Trek, totalmente confiável e incorruptível; pessoas que diziam a verdade e, acima de tudo, comportavam-se eticamente, com dignidade, compaixão e inteligência”.[5]
Em 1975, escreveu e publicou sua primeira autobiografia, Eu Não Sou Spock. O livro, em meio às suas lembranças, traz divertidos diálogos entre “criador” e “criatura” e Nimoy ainda faz um jogo de palavras:
“Eu não sou Spock.
Então por que viro a cabeça na rua quando alguém me chama por esse nome? Por que fico perturbado quando alguém pergunta: ‘O que aconteceu com suas orelhas?’
Eu não sou Spock.
Então por que sinto uma sensação maravilhosa quando ouço ou leio um elogio em relação ao vulcano?
SPOCK PARA PRESIDENTE é a inscrição de um adesivo colado no carro que vejo à minha frente. Fico inchado de orgulho e sorrio. Eu não sou Spock.
Mas se eu não sou, quem é? E se não sou Spock, então quem sou eu?”.[6]
Novamente, aconteceu algo com que Nimoy não contava: várias pessoas que leram superficialmente o livro – ou simplesmente não leram – começaram a comentar que o ator rejeitava o personagem, o que, absolutamente, não era verdade. Nimoy chegou a dizer que escrever o livro foi uma “besteira”, que só foi corrigida 20 anos depois quando publicou Eu Sou Spock.
Em 1977, Nimoy recebeu um convite dos estúdios Paramount (detentora dos direitos de Jornada nas Estrelas) para retornar ao papel de Spock na nova série que estava em produção e que se chamaria Star Trek Phase II(Jornada nas Estrelas Fase II). Nimoy, entretanto, recusou devido a problemas de imagem e propaganda com Spock. Porém, mais uma vez, o destino interviu. O filme Guerra nas Estrelas (Star Wars) foi lançado nesse mesmo ano, revolucionou os filmes de ficção-científica e foi um sucesso estrondoso. Devido a isso, a Paramount deixou a ideia da nova série de lado para investir em um filme para o cinema. Como estavam cientes que um filme de Jornada sem Spock não daria certo, trataram logo de resolver as pendências jurídicas com Nimoy, que, após tudo resolvido, disse: “Obrigado, George Lucas”.
Jornada nas Estrelas, o Filme foi lançado em 1979, com orçamento de superprodução, um porre de efeitos especiais, todo o elenco original da série e a direção de Robert Wise (de O Dia em Que a Terra Parou). Nimoy respeitava tanto o diretor que sempre o chamava de Sr. Wise. O filme agradou os fãs e fez sucesso, o que levou à inevitável sequência: Jornada nas Estrelas II – A Ira de Khan, sob a direção de Nicholas Meyer e com orçamento mais modesto. Além do esperado sucesso e críticas muito boas, nesse filme aconteceu algo chocante para os fãs: a morte do filho mais ilustre do planeta Vulcano. A choradeira foi enorme.
Essa choradeira terminaria em 1984 com Jornada nas Estrelas III – À Procura de Spock, no qual Nimoy fez sua estreia na direção de um filme para o cinema e que traz o seu personagem de volta à vida, mas os fãs ficaram novamente chocados, pois, nesse filme, a Enterprise é destruída! O filme foi bem recebido pela crítica e deu a Nimoy o cacife para dirigir mais um filme de Jornada.
Jornada nas Estrelas IV – A Volta Para Casa superou todas as expectativas. A direção segura de Nimoy, que, a partir de uma história muito original, soube mesclar com sabedoria as cenas de ação e humor juntamente com uma mensagem ecológica muito incisiva (a proteção das baleias), fez com que o filme fosse o grande sucesso de 1986 – tendo recebido quatro indicações para o Oscar - e seja, até hoje, considerado o melhor filme dirigido por Nimoy e um dos melhores da franquia.
As vibrações estavam realmente boas para Leonard. Em 1987, mais um sucesso de bilheteria: a comédia Três Solteirões e Um Bebê, no qual dirigiu os astros Tom Selleck, Steve Guttemberg e Ted Danson.
Em 1988, dirigiu seu filme mais controverso: O Preço da Paixão, com Diane Keaton, Liam Neeson e Jason Robards. O filme tratava de questões jurídicas de sexualidade e criação de crianças, um tema difícil e polêmico. O filme dividiu a crítica e o público reagiu de forma indecisa. Embora Nimoy o considerasse um trabalho bem feito, foi um fracasso de bilheteria.
Em 1989, voltou à Enterprise em Jornada nas Estrelas V – A Fronteira Final, dirigido por William Shatner. Os fãs garantiram a bilheteria, mas a crítica não perdoou e malhou o filme impiedosamente. Como não poderia deixar de ser, Nimoy defendeu o trabalho de seu velho amigo. Ainda que o filme tivesse alguns bons momentos, é, de fato, o mais fraco de todos os filmes de Jornada para o cinema.
Ao iniciar a década de 1990, Nimoy dirigiu seus dois últimos filmes para a tela grande: As Coisas Engraçadas do Amor, com Gene Wilder, em 1990; e Holy Matrimony, com Patricia Arquette, em 1994; duas comédias que não tiveram maiores repercussões.
Em 1991, Spock e a tripulação da Enterprise retornaram em Jornada nas Estrelas VI – A Terra Desconhecida, novamente sob a direção de Nicholas Meyer. A Federação Unida dos Planetas e o Império Klingon iniciam as negociações de paz (influência do fim da então União Soviética), mas radicais tentam sabotar o processo e acusam falsamente o Capitão Kirk e o Dr. McCoy de assassinato. Como um verdadeiro Sherlock Holmes, Spock investiga toda a trama. O filme foi elogiado, considerado um final digno para os tripulantes da Enterprise e abriu o caminho para Jornada nas Estrelas – A Nova Geração.
Nos anos seguintes, Nimoy dedicou-se à fotografia e fazia aparições esporádicas em séries de TV (inclusive na Nova Geração). Em 2009, estreou o reboot da franquia, Star Trek, dirigido por J.J. Abrams. Nele Nimoy aparece como “Spock Prime” e contracena com o novo Spock, Zachary Quinto. Em 2013, volta como Spock Prime em Star Trek – Além da Escuridão, também dirigido por Abrams. Foi o seu último filme.
No início de 2014, anunciou que estava com uma doença pulmonar obstrutiva crônica, devido à muitos anos de tabagismo, embora tivesse parado de fumar há mais 20 anos e mantivesse uma alimentação saudável (era vegetariano, assim como Spock).
Em 27 de fevereiro de 2015, após uma carreira e uma vida longas e prósperas, o fascinante Leonard Nimoy, intérprete de um dos mais populares personagens do cinema e da TV, partiu para a Fronteira Final. Para aqueles que ainda estão entristecidos com essa partida, basta lembrar o que bem disse o Dr. McCoy: “Ele não estará morto enquanto lembrarmos dele”. Sendo assim, sua memória irá até onde nenhum homem jamais esteve...
A seguir, o trailer oficial de Jornada nas Estrelas IV – A Volta Para Casa (original em inglês - HD):
A alegria é imensa ao se fazer este aviso: já são mais de 60.000 visualizações aqui em nosso querido Panorama do Cinema!
Que palavras podem expressar nosso infinito agradecimento a vocês, queridos (as) cinéfilos (as), que já não tenham sido ditas antes? Poucas, mas, como dizem que ações falam mais do que palavras, Panorama do Cinema faz questão de abrir uma garrafa de Champagne em sua homenagem:
Existe uma crença na sociedade atual – na brasileira pelo menos – que, ao chegar-se na faixa do 50 anos (chamada por alguns de meia-idade), tanto homens quanto mulheres entram em uma espécie de período de castidade na qual deixam de ter uma vida amorosa, tanto no sentido físico quanto sentimental, passam a ser apenas aqueles que as crianças e os jovens chamam de “tiozinho” e “tiazinha” e que não entendem os namoros e o sexo desta época globalizada que é vivida atualmente. Essa é a premissa na qual é a película 50 são os Novos 30 é inspirada.
Marie-Francine (Valérie Lemercier, da franquia O Pequeno Nicolau) é uma bióloga casada, com duas filhas adolescentes e que acaba de fazer 50 anos. O que deveria ser um período de celebração, torna-se um turbilhão de acontecimentos inesperados: seu marido, Emannuel (Denis Podalydès, de Um Doce Refúgio) a troca por uma mulher mais nova, perde seu emprego e termina por voltar a morar com seus pais, Pierric (Phillippe Laudenbach, de Más Notícias Para o Sr. Mars) e Annick (Hélène Vincent, de Samba. Veja a crítica aqui). Trabalhando em uma pequena loja de cigarros eletrônicos, conhece um chef de cozinha português, Miguel (Patrick Timsit, de Um Time Bem Diferente), com quem começa a se relacionar.
A trama, como podem ver, é simples, assim como simples é 50 são os Novos 30. Apesar disso, o filme demora um pouco a engrenar, mas, quando o faz, corre bem e o público se satisfaz com o que veio ver.
A direção da cineasta-intérprete Valérie Lemercier - também autora do roteiro junto com Sabine Haudepin (de Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois, em sua estréia como roteirista) - segue a simplicidade geral de 50 são os Novos 30, mas é segura, principalmente na direção do elenco, que inclui a si mesma. O estilo de sua personagem, Marie-Francine, com seus óculos, senso de humor e uma ligeira neurose, é a de uma versão francesa e feminina de Woody Allen (Roda Gigante. Veja a crítica aqui). E a gêmea de Marie-Francine, Marie Noelle (também Valérie), segue pela mesma toada, mas sem os óculos.
Aliás, o elenco é o ponto forte do filme, com atores e atrizes muito bons, em atuações convincentes, fazendo personagens simpáticos que ajudam o filme a engrenar, ainda que pegando no tranco. O destaque vai Helene Vincent como a engraçada mãe de Marie-Francine, Annick.
Chama a atenção a presença de várias canções de Fado na trilha sonora, em sua maior parte interpretadas pela magnífica, inesquecível e saudosa cantora portuguesa Amália Rodrigues (1920-1999). Isso explica-se por um motivo que alguns brasileiros desconhecem: há uma grande colônia portuguesa na França, especialmente em Paris. E como a francesa Marie-Francine, namora o português Miguel, a trilha sonora encaixa-se com perfeição na trama.
Quem já leu meus textos anteriores, sabe que sou bastante crítico à tradução de títulos de filmes estrangeiros. O título original de 50 são os Novos 30 é justamente o nome da protagonista principal, Marie-Francine. Porém, é daqueles raros casos nos quais, um título que não tem nada a ver com o original calha de ser adequado à trama exibida.
50 são os novos 30 não é a melhor comédia que já vi e a diferença entre gerações poderia ter sido melhor explorada, mas, assim como seu elenco, é simpática e agradável. Os cinquentões vão identificar-se com o filme, claro, mas a garotada também vai curtir e vão logo sacar que, sim, os "tiozinhos" e "tiazinhas" de 50 anos também namoram, transam e amam como se, realmente tivessem 30 anos. Ou até menos...
FICHA TÉCNICA
Título Original:Marie-Francine
Direção:Valérie Lemercier
Elenco:Valérie Lemercier (Marie-Francine Doublet / Marie Noelle), Patrick Timsit (Miguel Marão), Hélène Vincent (Anick Legay), Phillippe Laudenbach (Pierric Legay), Denis Podalydès (Emmanuel Doublet)
Roteiro: Valérie Lemercier e Sabine Haudepin
Fotografia: Laurent Dailland
Duração:95 minutos
Ano:2017
Lançamento comercial no Brasil: 28/06/2018
RESUMO DO FILME Após o fim de seu casamento e a demissão de seu emprego, Marie-Francine volta a morar com seus pai e tenta reconstruir sua vida, o que inclui um novo relacionamento.
COTAÇÃO ✪✪✪
Veja aqui o trailer oficial de 50 são os novos 30 (legendado - HD):
Publicado no LinkedIn em 28/06/2018 e no AdoroCinema em 09/07/2018.
Se a Copa do Mundo de 1978 pudesse ser resumida em uma única palavra, seria: polêmica. A Argentina foi país escolhido para sediar a copa daquele ano, um período em que os argentinos viviam sob o jugo de uma feroz ditadura militar sob o comando do infame general carniceiro Jorge Videla (1925-2013). Apesar de protestos de organizações de direitos humanos internacionais, o igualmente infame e truculento presidente da FIFA, João Havelange (1916-2016), confirmou o evento na nação platina. A Copa do Mundo de 1978 tem fatos polêmicos do começo até o fim da competição, que vão desde uso da copa por Videla e seus cúmplices para desviar a atenção do povo argentino dos problemas do país, passando pelo gol anulado na partida Brasil x Suécia, na primeira fase; até a fase decisiva, com a partida mais lembrada dessa copa, superando até mesmo a final: Argentina 6 x 0 Peru. Para disputar a final contra a Holanda (vice-campeã da copa anterior), a Argentina precisava não só vencer o Peru, mas também ter um saldo de gols maior que o seu concorrente direto, o Brasil, que jogaria contra a Polônia. As partidas seriam disputadas no mesmo horário, mas, estranhamente, Argentina x Peru foi transferida para duas horas depois de Brasil x Polônia. O Brasil venceu os poloneses por 3 x 1 e, para passar à final, os argentinos precisavam vencer os peruanos com, pelo menos quatro gols de diferença. Fizeram seis e classificaram-se. Mal a partida acabou e começaram a aparecer várias histórias sobre um suposto suborno para facilitar a vitória da seleção anfitriã. Com ou sem "mala preta", a Argentina venceu a aplicada seleção da Holanda e conquistou seu primeiro título mundial. Um ano depois, o triunfo dos Hermanos continuava a ser um assunto quente nas rodas de conversa brasileiras e esquentou ainda mais quando foi lançado nos cinemas de nosso país o documentário Copa 78 - O Poder do Futebol (que, no restante do mundo, ganhou o título em inglês, World Cup - The Power of Football). Dirigido a quatro mãos por Maurício Sherman (mini-série A, E, I, O... Urca, também autor do roteiro) e Victor di Mello (Solidão, Uma Linda História de Amor) e com narração do jornalista Sérgio Chapelin (Globo Repórter), Copa 78 - O Poder do Futebol põe mais lenha na fogueira com imagens detalhadas e cutuca várias feridas ainda mal cicatrizadas, destacando a trégua negociada da ditadura com o grupo guerrilheiro esquerdista Montoneros, que lhe fazia oposição e a combatia; além das polêmicas citadas anteriormente, e complementa lembrando que o goleiro da seleção do Peru, Ramón Quiroga, era argentino naturalizado peruano... Se formos dar ouvidos a todas as teorias da conspiração surgidas desde aquela época, a Argentina não comprou apenas a partida contra o Peru, mas a copa inteira e, ainda por cima, pagou adiantado. Até hoje, nada foi provado e, como qualquer estudante de Direito sabe, uma pessoa (neste caso, uma equipe) é inocente até que prove sua culpa. A não ser que surjam fatos novos e comprovados, todas essas histórias e acusações não passam de especulação. Porém, é preciso lembrar que, em uma festa, quem manda são os donos da casa, uma lição que o Brasil, apesar de já ter organizado duas Copas do Mundo (em 1950 e 2014, ambas com resultados traumáticos), ainda não aprendeu. P. S. - Embora eu tenha feito uma pesquisa ampla, não consegui encontrar o vídeo com o trailer oficial de Copa 78 - O Poder do Futebol (se alguém souber onde encontrar, não se acanhe e envie um e-mail para panoramadocinema@gmail.com). Por isso, postei abaixo dois vídeos, um com os gols da partida Argentina x Peru e outro da final, Argentina x Holanda. Anterior: Todos os corações do Mundo Veja aqui os gols da partida Argentina 6 x 0 Peru na Copa do Mundo de 1978 (narração em inglês):
Veja aqui o vídeo dos gols e melhores momentos da partida Argentina 3 x 1 Holanda, a grande final da Copa do Mundo de 1978 (narração em português de Luciano do Valle):