Faleceu em 21/06/2019, aos 74 anos, o mais famoso crítico de cinema brasileiro de sempre: Rubens Ewald Filho. Sua importância foi tão grande a ponto de ser impossível falar em cinema no Brasil, sem falar dele.
Rubens Ewald Filho nasceu no dia 7 de março de 1945, na cidade de Santos - SP. Quando criança, adquiriu o hábito de anotar em um caderno todos os dados a respeito de um filme (elenco, direção, etc), hábito que manteve até pouco antes de sua morte. Estima-se que ele tenha assistido mais de 37.500 filmes durante sua vida.
Começou sua carreira jornalística no jornal A Tribuna, em Santos. Logo foi para a televisão, começando na Rede Cultura, passando pela Redes Globo, SBT, Record e, em seus últimos anos, no canal pago TNT.
Rubens Ewald Filho não foi o primeiro jornalista brasileiro a fazer a cobertura do Oscar, mas foi ele que ajudou a popularizar a transmissão do prêmio em nosso país. Além disso, ajudou a tornar de modo mais acessível ao grande público o significado de termos técnicos tais como cinematografia, montagem, entre outros.
Além da crítica, Rubens Ewald Filho também foi roteirista, adaptando obras literárias como Éramos Seis (de Maria José Dupré) e Iaiá Garcia (Machado de Assis) e, inspirado pelo romance Drácula (Bram Stoker), foi o autor da novela Drácula, Uma História de Amor, em 1980, primeiro na Rede Tupi (que, logo após o início da transmissão, seria extinta) e, depois no mesmo ano, para a Rede Bandeirantes com o nome de Um Homem Muito Especial.
Também trabalhou como ator em filmes, dentre estes Amor Estranho Amor (1982), de Walter Hugo Khouri (1929-2003), cineasta que muito admirava. Arriscou dirigir peças teatrais como Doce Veneno, baseado no livro O Doce Veneno do Escorpião, da escritora e ex-garota de programa Bruna Surfistinha.
Ainda foi curador de vários festivais tais como o Festival de Gramado (RS) e o Festival de Paulínia (SP) e ajudou na seleção e lançamento de filmes de grande repercussão. Não bastasse, ainda escreveu livros sobre a Sétima Arte tais como Dicionário de Cineastas, o Oscar e Eu e o popular guia de filmes da antiga revista Video News.
Rubens Ewald Filho esteve presente em minha vida desde a infância. Além das exibições das cerimônias do Oscar, lembro-me de suas críticas de filmes no Jornal Hoje, da Rede Globo, na década de 1970; e, na mesma época, como apresentador da série documental Isto é Hollywood (sobre filmes da 20th Century Fox), exibida pela Rede Cultura, onde depois apresentou outro programa - cujo nome não me recordo - onde fazia uma pequena análise do filme antes da sua exibição. Um desses filmes foi a comédia Queijo Suíço (1938) da dupla O Gordo & O Magro.
A primeira vez que o vi pessoalmente, foi em 2015, na "cabine" (sessão para críticos) do filme A Travessia (veja aqui). Fiquei surpreso em ver como ele era alto, quase tanto quanto um jogador de basquete ou volei. Tive vontade de falar com ele, mas, confesso, tive vergonha...
A segunda vez, foi no mesmo ano, na "cabine" de Hotel Transilvânia 2 (veja aqui). Novamente, a vergonha impediu-me de aproximar-me do crítico. A terceira vez foi em 2016, durante a cabine de Voando Alto (veja aqui). Ele estava sentado em uma mesa esperando como os outros críticos pelo início da "cabine". Desta vez, chutei a vergonha para escanteio e, como quem não quer nada, sentei-me próximo.
Começamos a conversar. Eu o via, ouvia e pensava: "Igualzinho como na TV". Pedi a opinião sobre o filme O Encontro, com Richard Gere (Gigolô Americano). Ele disse que não gostou e que esse tipo de filme estava manjado. Eu disse que tinha boas expectativas sobre Um Gato de Rua Chamado Bob (veja aqui), mas ele estava cético.
Também falei sobre o filme alemão Ele Está de Volta (veja aqui). Ele disse que ainda iria ver e ficou surpreso quando eu disse que o romance no qual o filme baseava-se foi publicado e era vendido no Brasil. Já quanto a Voando Alto, disse que havia sido bem recebido pela crítica do exterior (fiz uma pesquisa antes) e pareceu que o seu interesse foi desperto.
Bem, a "cabine" correu normalmente e, ao final dela, ele estava bem entusiasmado, elogiou a performance de Taron Egerton (franquia Kingsman) e disse que o fez lembrar dos seus velhos tempos - foi atleta em sua juventude. Eu também gostei muito do filme e fiquei feliz em saber que tínhamos a mesma opinião.
Depois, só veria Rubens Ewald Filho rapidamente neste ano, na coletiva de imprensa do filme nacional Sai de Baixo. Eu ouvi falar mais uma vez dele quando do acidente que teve em uma escada rolante, quando teve um desmaio, caiu e foi internado em estado grave. Apesar disso, eu achava que ele sairia dessa, mas o destino tinha outros planos...
Como toda pessoa famosa também tinha suas polêmicas. Embora respeitado como crítico, não eram poucos os que achavam que seu estilo era ácido, embora eu pensasse que ele era irônico, mas, nos últimos anos, achei que suas críticas, com as exceções de praxe, estavam um tanto amargas.
Outra polêmica vieram de seus comentários da atriz estadunidense, Frances McDormand, e da atriz chilena trans Daniela Vega, que foram considerados grosseiros e preconceituosos e, como consequência, não participou da transmissão do Oscar deste ano. De minha parte, acho que esses erros ele os cometeu mais como homem do que como crítico.
Influência para muitos críticos brasileiros, inclusive eu mesmo, Rubens Ewald Filho pode ser considerado, com justiça, o pai da crítica brasileira contemporânea. E nós, críticos de cinema "filhos do Rubens", temos como missão deixar o seu legado sempre vivo. Ele vai fazer falta. E como! Que descanse em paz.
Veja aqui uma entrevista com Rubens Ewald Filho, feita em 2018, para a agência Ethos Comunicação e Arte:
Rubens Ewald Filho nasceu no dia 7 de março de 1945, na cidade de Santos - SP. Quando criança, adquiriu o hábito de anotar em um caderno todos os dados a respeito de um filme (elenco, direção, etc), hábito que manteve até pouco antes de sua morte. Estima-se que ele tenha assistido mais de 37.500 filmes durante sua vida.
Começou sua carreira jornalística no jornal A Tribuna, em Santos. Logo foi para a televisão, começando na Rede Cultura, passando pela Redes Globo, SBT, Record e, em seus últimos anos, no canal pago TNT.
Rubens Ewald Filho não foi o primeiro jornalista brasileiro a fazer a cobertura do Oscar, mas foi ele que ajudou a popularizar a transmissão do prêmio em nosso país. Além disso, ajudou a tornar de modo mais acessível ao grande público o significado de termos técnicos tais como cinematografia, montagem, entre outros.
Além da crítica, Rubens Ewald Filho também foi roteirista, adaptando obras literárias como Éramos Seis (de Maria José Dupré) e Iaiá Garcia (Machado de Assis) e, inspirado pelo romance Drácula (Bram Stoker), foi o autor da novela Drácula, Uma História de Amor, em 1980, primeiro na Rede Tupi (que, logo após o início da transmissão, seria extinta) e, depois no mesmo ano, para a Rede Bandeirantes com o nome de Um Homem Muito Especial.
Também trabalhou como ator em filmes, dentre estes Amor Estranho Amor (1982), de Walter Hugo Khouri (1929-2003), cineasta que muito admirava. Arriscou dirigir peças teatrais como Doce Veneno, baseado no livro O Doce Veneno do Escorpião, da escritora e ex-garota de programa Bruna Surfistinha.
Ainda foi curador de vários festivais tais como o Festival de Gramado (RS) e o Festival de Paulínia (SP) e ajudou na seleção e lançamento de filmes de grande repercussão. Não bastasse, ainda escreveu livros sobre a Sétima Arte tais como Dicionário de Cineastas, o Oscar e Eu e o popular guia de filmes da antiga revista Video News.
Rubens Ewald Filho esteve presente em minha vida desde a infância. Além das exibições das cerimônias do Oscar, lembro-me de suas críticas de filmes no Jornal Hoje, da Rede Globo, na década de 1970; e, na mesma época, como apresentador da série documental Isto é Hollywood (sobre filmes da 20th Century Fox), exibida pela Rede Cultura, onde depois apresentou outro programa - cujo nome não me recordo - onde fazia uma pequena análise do filme antes da sua exibição. Um desses filmes foi a comédia Queijo Suíço (1938) da dupla O Gordo & O Magro.
A primeira vez que o vi pessoalmente, foi em 2015, na "cabine" (sessão para críticos) do filme A Travessia (veja aqui). Fiquei surpreso em ver como ele era alto, quase tanto quanto um jogador de basquete ou volei. Tive vontade de falar com ele, mas, confesso, tive vergonha...
A segunda vez, foi no mesmo ano, na "cabine" de Hotel Transilvânia 2 (veja aqui). Novamente, a vergonha impediu-me de aproximar-me do crítico. A terceira vez foi em 2016, durante a cabine de Voando Alto (veja aqui). Ele estava sentado em uma mesa esperando como os outros críticos pelo início da "cabine". Desta vez, chutei a vergonha para escanteio e, como quem não quer nada, sentei-me próximo.
Começamos a conversar. Eu o via, ouvia e pensava: "Igualzinho como na TV". Pedi a opinião sobre o filme O Encontro, com Richard Gere (Gigolô Americano). Ele disse que não gostou e que esse tipo de filme estava manjado. Eu disse que tinha boas expectativas sobre Um Gato de Rua Chamado Bob (veja aqui), mas ele estava cético.
Também falei sobre o filme alemão Ele Está de Volta (veja aqui). Ele disse que ainda iria ver e ficou surpreso quando eu disse que o romance no qual o filme baseava-se foi publicado e era vendido no Brasil. Já quanto a Voando Alto, disse que havia sido bem recebido pela crítica do exterior (fiz uma pesquisa antes) e pareceu que o seu interesse foi desperto.
Bem, a "cabine" correu normalmente e, ao final dela, ele estava bem entusiasmado, elogiou a performance de Taron Egerton (franquia Kingsman) e disse que o fez lembrar dos seus velhos tempos - foi atleta em sua juventude. Eu também gostei muito do filme e fiquei feliz em saber que tínhamos a mesma opinião.
Depois, só veria Rubens Ewald Filho rapidamente neste ano, na coletiva de imprensa do filme nacional Sai de Baixo. Eu ouvi falar mais uma vez dele quando do acidente que teve em uma escada rolante, quando teve um desmaio, caiu e foi internado em estado grave. Apesar disso, eu achava que ele sairia dessa, mas o destino tinha outros planos...
Como toda pessoa famosa também tinha suas polêmicas. Embora respeitado como crítico, não eram poucos os que achavam que seu estilo era ácido, embora eu pensasse que ele era irônico, mas, nos últimos anos, achei que suas críticas, com as exceções de praxe, estavam um tanto amargas.
Outra polêmica vieram de seus comentários da atriz estadunidense, Frances McDormand, e da atriz chilena trans Daniela Vega, que foram considerados grosseiros e preconceituosos e, como consequência, não participou da transmissão do Oscar deste ano. De minha parte, acho que esses erros ele os cometeu mais como homem do que como crítico.
Influência para muitos críticos brasileiros, inclusive eu mesmo, Rubens Ewald Filho pode ser considerado, com justiça, o pai da crítica brasileira contemporânea. E nós, críticos de cinema "filhos do Rubens", temos como missão deixar o seu legado sempre vivo. Ele vai fazer falta. E como! Que descanse em paz.
Veja aqui uma entrevista com Rubens Ewald Filho, feita em 2018, para a agência Ethos Comunicação e Arte:
Publicado no LinkedIn em 28/06/2019.