quinta-feira, 28 de junho de 2018

Crítica: 50 são os novos 30 | E são mesmo...



Existe uma crença na sociedade atual – na brasileira pelo menos – que, ao chegar-se na faixa do 50 anos (chamada por alguns de meia-idade), tanto homens quanto mulheres entram em uma espécie de período de castidade na qual deixam de ter uma vida amorosa, tanto no sentido físico quanto sentimental, passam a ser apenas aqueles que as crianças e os jovens chamam de “tiozinho” e “tiazinha” e que não entendem os namoros e o sexo desta época globalizada que é vivida atualmente. Essa é a premissa na qual é a película 50 são os Novos 30 é inspirada.

Marie-Francine (Valérie Lemercier, da franquia O Pequeno Nicolau) é uma bióloga casada, com duas filhas adolescentes e que acaba de fazer 50 anos. O que deveria ser um período de celebração, torna-se um turbilhão de acontecimentos inesperados: seu marido, Emannuel (Denis Podalydès, de Um Doce Refúgio) a troca por uma mulher mais nova, perde seu emprego e termina por voltar a morar com seus pais, Pierric (Phillippe Laudenbach, de Más Notícias Para o Sr. Mars) e Annick (Hélène Vincent, de Samba. Veja a crítica aqui). Trabalhando em uma pequena loja de cigarros eletrônicos, conhece um chef de cozinha português, Miguel (Patrick Timsit, de Um Time Bem Diferente), com quem começa a se relacionar.

A trama, como podem ver, é simples, assim como simples é 50 são os Novos 30. Apesar disso, o filme demora um pouco a engrenar, mas, quando o faz, corre bem e o público se satisfaz com o que veio ver.

A direção da cineasta-intérprete Valérie Lemercier - também autora do roteiro junto com Sabine Haudepin (de Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois, em sua estréia como roteirista) - segue a simplicidade geral de 50 são os Novos 30, mas é segura, principalmente na direção do elenco, que inclui a si mesma. O estilo de sua personagem, Marie-Francine, com seus óculos, senso de humor e uma ligeira neurose, é a de uma versão francesa e feminina de Woody Allen (Roda Gigante. Veja a crítica aqui). E a gêmea de Marie-Francine, Marie Noelle (também Valérie), segue pela mesma toada, mas sem os óculos.

Aliás, o elenco é o ponto forte do filme, com atores e atrizes muito bons, em atuações convincentes, fazendo personagens simpáticos que ajudam o filme a engrenar, ainda que pegando no tranco. O destaque vai Helene Vincent como a engraçada mãe de Marie-Francine, Annick.

Chama a atenção a presença de várias canções de Fado na trilha sonora, em sua maior parte interpretadas pela magnífica, inesquecível e saudosa cantora portuguesa Amália Rodrigues (1920-1999). Isso explica-se por um motivo que alguns brasileiros desconhecem: há uma grande colônia portuguesa na França, especialmente em Paris. E como a francesa Marie-Francine, namora o português Miguel, a trilha sonora encaixa-se com perfeição na trama.

Quem já leu meus textos anteriores, sabe que sou bastante crítico à tradução de títulos de filmes estrangeiros. O título original de 50 são os Novos 30 é justamente o nome da protagonista principal, Marie-Francine. Porém, é daqueles raros casos nos quais, um título que não tem nada a ver com o original calha de ser adequado à trama exibida.

50 são os novos 30 não é a melhor comédia que já vi e a diferença entre gerações poderia ter sido melhor explorada, mas, assim como seu elenco, é simpática e agradável. Os cinquentões vão identificar-se com o filme, claro, mas a garotada também vai curtir e vão logo sacar que, sim, os "tiozinhos" e "tiazinhas" de 50 anos também namoram, transam e amam como se, realmente tivessem 30 anos. Ou até menos...



FICHA TÉCNICA
  • Título Original: Marie-Francine
  • Direção: Valérie Lemercier
  • Elenco: Valérie Lemercier (Marie-Francine Doublet / Marie Noelle), Patrick Timsit (Miguel Marão), Hélène Vincent (Anick Legay), Phillippe Laudenbach (Pierric Legay), Denis Podalydès (Emmanuel Doublet)
  • RoteiroValérie Lemercier e Sabine Haudepin
  • Fotografia: Laurent Dailland
  • Duração: 95 minutos
  • Ano: 2017
  • Lançamento comercial no Brasil: 28/06/2018


RESUMO DO FILME
Após o fim de seu casamento e a demissão de seu emprego, Marie-Francine volta a morar com seus pai e tenta reconstruir sua vida, o que inclui um novo relacionamento.


          COTAÇÃO
           ✪✪✪

Veja aqui o trailer oficial de 50 são os novos 30 (legendado - HD):



Publicado no LinkedIn em 28/06/2018 e no AdoroCinema em 09/07/2018.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Série Especial | Filmes de Futebol Para Ver Durante a Copa do Mundo 6: Copa 78 - O Poder do Futebol (Brasil - 1979)


Se a Copa do Mundo de 1978 pudesse ser resumida em uma única palavra, seria: polêmica. A Argentina foi país escolhido para sediar a copa daquele ano, um período em que os argentinos viviam sob o jugo de uma feroz ditadura militar sob o comando do infame  general carniceiro Jorge Videla (1925-2013). Apesar de protestos de organizações de direitos humanos internacionais, o igualmente infame e truculento presidente da FIFA, João Havelange (1916-2016), confirmou o evento na nação platina.

A Copa do Mundo de 1978 tem fatos polêmicos do começo até o fim da competição, que vão desde uso da copa por Videla e seus cúmplices para desviar a atenção do povo argentino dos problemas do país, passando pelo gol anulado na partida Brasil x Suécia, na primeira fase; até a fase decisiva, com a partida mais lembrada dessa copa, superando até mesmo a final: Argentina 6 x 0 Peru

Para disputar a final contra a Holanda (vice-campeã da copa anterior), a Argentina precisava não só vencer o Peru, mas também ter um saldo de gols maior que o seu concorrente direto, o Brasil, que jogaria contra a Polônia. As partidas seriam disputadas no mesmo horário, mas, estranhamente, Argentina x Peru foi transferida para duas horas depois de Brasil x Polônia. 

O Brasil venceu os poloneses por 3 x 1 e, para passar à final, os argentinos precisavam vencer os peruanos com, pelo menos quatro gols de diferença. Fizeram seis e classificaram-se. Mal a partida acabou e começaram a aparecer várias histórias sobre um suposto suborno para facilitar a vitória da seleção anfitriã. Com ou sem "mala preta", a Argentina venceu a aplicada seleção da Holanda e conquistou seu primeiro título mundial.

Um ano depois, o triunfo dos Hermanos continuava a ser um assunto quente nas rodas de conversa brasileiras e esquentou ainda mais quando foi lançado nos cinemas de nosso país o documentário Copa 78 - O Poder do Futebol (que, no restante do mundo, ganhou o título em inglês, World Cup - The Power of Football).

Dirigido a quatro mãos por Maurício Sherman (mini-série A, E, I, O... Urca, também autor do roteiro) e Victor di Mello (Solidão, Uma Linda História de Amor) e com narração do jornalista Sérgio Chapelin (Globo Repórter), Copa 78 - O Poder do Futebol põe mais lenha na fogueira com imagens detalhadas e cutuca várias feridas ainda mal cicatrizadas, destacando a trégua negociada da ditadura com o grupo guerrilheiro esquerdista Montoneros, que lhe fazia oposição e a combatia; além das polêmicas citadas anteriormente, e complementa lembrando que o goleiro da seleção do Peru, Ramón Quiroga, era argentino naturalizado peruano...

Se formos dar ouvidos a todas as teorias da conspiração surgidas desde aquela época, a Argentina não comprou apenas a partida contra o Peru, mas a copa inteira e, ainda por cima, pagou adiantado. Até hoje, nada foi provado e, como qualquer estudante de Direito sabe, uma pessoa (neste caso, uma equipe) é inocente até que prove sua culpa. A não ser que surjam fatos novos e comprovados, todas essas histórias e acusações não passam de especulação. 

Porém, é preciso lembrar que, em uma festa, quem manda são os donos da casa, uma lição que o Brasil, apesar de já ter organizado duas Copas do Mundo (em 1950 e 2014, ambas com resultados traumáticos), ainda não aprendeu.


P. S. - Embora eu tenha feito uma pesquisa ampla, não consegui encontrar o  vídeo com o trailer oficial de Copa 78 - O Poder do Futebol (se alguém souber onde encontrar, não se acanhe e envie um e-mail para panoramadocinema@gmail.com). Por isso, postei abaixo dois vídeos, um com os gols da partida Argentina x Peru e outro da final, Argentina x Holanda.


Anterior: Todos os corações do Mundo 


Veja aqui os gols da partida Argentina 6 x 0 Peru na Copa do Mundo de 1978 (narração em inglês):




Veja aqui o vídeo dos gols e melhores momentos da partida Argentina 3 x 1 Holanda, a grande final da Copa do Mundo de 1978 (narração em português de Luciano do Valle):



Publicado no LinkedIn em 20/06/2018.

sábado, 16 de junho de 2018

Copa do Mundo de 2018 | Seleção da Islândia tem um goleiro de cinema!



Islândia é uma ilha-nação localizada no norte da Europa conhecida principalmente por seu clima muito frio, pela crise econômica-financeira ocorrida em 2008 causada pelos bancos que levou à prisão vários "graúdos" locais e pela forte influência feminina na política do país.

Nos últimos anos, a Islândia vem se destacando em outros campos a começar pelo cinema: o filme Rams (veja aqui) conquistou, em 2015, o prêmio Un Certain Regard no prestigioso Festival de Cannes. O outro campo, é justamente aquele feito de grama no qual duas equipes compostas de 11 jogadores praticam um esporte que consiste em correr atrás de uma bola. Em outras palavras, o futebol

Em 2016, a Islândia participou pela primeira vez em sua história do Campeonato Europeu de Futebol, mais conhecida como Eurocopa. Os islandeses fizeram bonito na competição. Na primeira fase, empataram em 1x1 contra os tradicionais times da Hungria e de Portugal (que seria o campeão), do megacraque Cristiano Ronaldo, e venceu a Áustria por 2x1. Nas oitavas-de-final, venceram a poderosa Inglaterra, também por 2x1. A equipe viking cairia nas quartas-de-final diante da anfitriã, a França, mas caiu em pé e fez história.

E os "Vikings do futebol" continuam a fazer história! Primeiro, conquistaram uma inédita vaga para disputar a Copa do Mundo de 2018, que tem lugar na Rússia. E já em sua partida inaugural na competição, fizeram a sua primeira "vítima", a Argentina, seleção de outro megacraque futebolista, Lione Messi.

A Argentina saiu na frente com um gol de Sergio "Kun" Aguero. A Islândia empatou com Alfred Finnbogason. Os islandeses endureciam a partida para os "Hermanos" até que, aos 19 minutos do segundo tempo, Messi sofre falta dentro da área. Pênalti indiscutível. O próprio Messi cobrou e o goleiro islandês, Hannes Thór Halldórsson defendeu! Resultado final: 1x1 e a história continua a ser feita!

Ao terminar a partida, todos, naturalmente, queriam saber mais sobre o goleiro de 34 anos que defendeu o pênalti daquele que é considerado o maior jogador do mundo ao lado de Cristiano Ronaldo. E ficaram de queixo caído quando souberam que, além de ser futebolista profissional, Hannes Thór Halldórsson é também... Cineasta!

Aos 14 anos, como todos os jovens de sua idade, Hannes Thór Halldórsson sonhava em ser jogador de futebol, mas um acidente de snowboarding deslocou seu ombro e, toda vez que treinava, sentia muitas dores, tendo que, mais tarde, fazer uma cirurgia. Nessa mesma época já fazia curta-metragens, outra paixão.

Incentivado pelo pai, Hannes Thór Halldórsson voltou a tentar a carreira de goleiro e, muitos altos e baixos depois, chegou à situação que conhecemos hoje. Porém, a paixão pela direção de filmes não foi abandonada. Em 2012, dirigiu um vídeo musical chamado Never Forget (literalmente "Nunca esqueça") da dupla Greta Salome & Jonsi, que foi o representante da Islândia no Festival Eurovisão da Canção daquele ano.

Hannes Thór Halldórson também dirigiu um vídeo da banda feminina Nylon, uma série de TV chamada Nossos Jogadores, na qual mostrava islandeses importantes que ganham a vida no mundo da bola; e, a pedido de uma companhia multinacional de refrigerantes, um comercial a ser exibido durante a Copa deste ano. 

Desde 2013, trabalha em um filme de longa-metragem. Ele não dá muitos detalhes, mas diz que é um "thriller sobrenatural que acontece em algum lugar da Islândia" e garante que "não é um filme de zumbis".

Hannes Thór Halldórsson ainda vai dar muito o que falar, dentro e fora dos campos de futebol. Panorama do Cinema faz uma sugestão ao goleiro-cineasta (ou cineasta-goleiro): Que tal fazer um filme sobre a saga da Islândia na Copa do Mundo de 2018, mostrando a sua defesa no pênalti batido por Lionel Messi?


Veja aqui os gols e melhores momentos da partida Argentina x Islândia, com destaque para a defesa de Hannes Thór Halldórsson no pênalti cobrado por Lionel Messi, no vídeo oficial da FIFA (em inglês - HD):



Veja aqui o vídeo da canção Never Forget, dirigido por Hannes Thór Halldórsson e interpretado pela dupla Greta Salome & Jonsi, que foram os candidatos do Festival Eurovisão da Canção (em inglês - HD):


Publicado no LinkedIn em 16/06/2018.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Série Especial | Filmes de Futebol Para Ver Durante a Copa do Mundo 5: Todos os Corações do Mundo (Brasil / EUA - 1995)


Na Copa do Mundo de 1994, depois de um jejum de 24 anos, o Brasilcom o craque baixinho e invocado Romário a frente, finalmente conquistou o tão sonhado tetracampeonato ao vencer a Itália - que também buscava o tetra - na disputa de pênaltis após um empate em 0x0  no tempo normal e na prorrogação.

Em 1995, foi lançado o filme Todos os Corações do Mundo, cujo título em inglês é Two Billion Hearts (literalmente Dois Bilhões de Corações), documentário oficial da FIFA sobre essa histórica competição. Além do tetracampeonato do Brasil, essa copa entrou para a história por ter tido, pela primeira vez, uma decisão de título na decisão por pênaltis e por ter sido realizado nos EUA, país onde o futebol nunca foi um esporte popular e que, ainda assim, levou multidões aos estádios.

Com produção conjunta de Brasil e EUA, dirigido pelo cineasta brasileiro Murilo Salles (Como Nascem os Anjos), com narração em português de Antônio Grassi (Gatão de Meia Idade) e, em inglês de Liev Schreiber (Spotlight - Segredos Revelados), Todos os Corações do Mundo mostra além de cenas bem filmadas das partidas realizadas, lembrando o antigo e saudoso noticiário Canal 100, entrevistas com os participantes e com o publico estadunidense.

Nestas entrevistas com o público não dá para não rir quando repórter pergunta "Você conhece [Diego] Maradona?" (o megacraque argentino que terá uma série biográfica produzida pela Amazon Prime Video. Veja aqui) e as pessoas respondem "[A cantora] Madonna? Claro!". Tudo isso fez com que Todos os Corações do Mundo fosse bem recebido por público e crítica.

Embora eu tenha feito uma pesquisa ampla, não consegui encontrar o trailer oficial de Todos os Corações do Mundo, a não ser trechos do filme (se alguém souber onde encontrar, não se acanhe em fazer contato pelo e-mail panoramadocinema@gmail.com) que não primam pela qualidade de imagem. Abaixo postei um desses vídeos com trechos e, para compensar, postei um vídeo oficial da FIFA em alta definição com os melhores momentos da grande final.

A seguir: Copa 78 - O Poder do Futebol
Anterior: A Copa


Veja aqui um trecho de Todos os Corações do Mundo (em português com legendas em inglês):




Veja aqui os melhores momentos da grande final da Copa do Mundo de 1994 no vídeo oficial da FIFA (HD):


Publicado no LinkedIn em 14/06/2018.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Crítica: Safári | Matança para turistas


Sáfari é uma palavra com origem na língua africana Swahli que, por sua vez, vem do árabe سفر (pronuncia-se "safara"), e que significa viagem ou jornada. Na cultura ocidental, os safáris se tornaram sinônimos de caçada a animais selvagens da savana (tipo de vegetação rasteira) africana. É sob essa premissa que se baseia o documentário Safári

São dois os tipos de safáris mais conhecidos: o fotográfico, no qual turistas e amantes da natureza apenas fotografam ou filmam os animais selvagens em seu habitat natural; e o de caça, no qual é permitido atirar e matar nesses mesmos animais. 

O primeiro tipo é bastante comum em países como a África do Sul e o Quênia, que possui grandes projetos de preservação da fauna e flora. O segundo tipo é mais comum em países como a Namíbia, país africano que faz fronteira com Angola, Botswana, Zâmbia e África do Sul. A Namíbia, recentemente, veio às manchetes por ter sido o cenário de filmagens do grande sucesso vencedor de seis Oscars Mad Max: Estrada da Fúria (2015).

Safári passa-se em um resort de férias chamado "Leopard Lodge", localizado no interior da Namíbia. E é um típico resort onde os hóspedes descansam, tomam banho de sol, bebem uma cerveja gelada e, vão desfrutar a atração local, neste caso o safári.

Os turistas que aparecem no filme são austríacos e alemães, de idades variadas que vão desde um jovem casal em lua-de-mel até um casal de idosos. São os típicos turistas branquelos de países de primeiro mundo de clima frio que vão passar as férias em um país de terceiro mundo de clima quente, "onde tudo é exótico".

O cineasta e documentarista - embora diga que não se considera um - austríaco Ulrich Seidl (Import Export) ainda é pouco conhecido no Brasil, mas é um nome muito respeitado lá fora, tendo recebido, entre outros, o prêmio especial do júri do Festival de Veneza, além de indicações ao Urso de Ouro do Festival de Berlim e à Palma de Ouro do Festival de Cannes. É conhecido por seu estilo de direção naturalista e, não raro, perturbador, tanto em filmes de ficção quanto os de não-ficção.

Em Safári, seu estilo está bastante explícito seja nas cenas de caçadas, quanto nos diálogos dos turistas passando pelas de descarnação das caças abatidas - e aqui é preciso ter um estômago forte, pois mostram as peles e vísceras dos animais sendo arrancadas pelos funcionários do resort que, diga-se de passagem, o fazem com muita habilidade.

A expressão "macumba para turista", muito utilizada no Brasil, significa uma encenação de ritos dessa crença com objetivo de ganhar dinheiro. Em outras palavras, charlatanismo. Em Safári, nos vemos uma verdadeira "matança para turistas", mas não há nenhum charlatanismo, o negócio é para valer.

Os turistas - sempre com espingardas pesadas em punho - vem a caçada como uma diversão tal qual em um parque de diversões onde, ao invés de réplicas em papelão ou madeira, os alvos estão vivos, respirando e, ao serem atingidos pelas balas, sangrando. E fazem questão de posarem sorridentes junto com as caças abatidas em fotos nos seus telefones celulares.

Ao assistir Safári, podemos ver que atitude de colonizador do europeus com relação aos seus antigos colonizados ainda é, em pleno século XXI, bastante forte seja na justificativa de matar os animais - sobre o direito à caça ou com "filosofices" sobre vida e morte - ou no tratamento dados aos negros, vistos como pobres coitados a quem os brancos "ajudam". 

O que Safári consegue mostrar com muita propriedade é, além do cinismo dessas justificativas e no tratamento aos funcionários do resort, é o chamado lado negro que cada pessoa - neste caso, os turistas - possui em seu interior, que vê nessa caçada uma oportunidade de matar sem sentir remorso e nem ser punido por isso. Sadismo puro.

Safári é um eficiente documentário de denúncia sobre a crueldade da caça (principalmente de animais em risco de extinção). Mas também serve como reflexão. Se estivéssemos no lugar desses turistas, com armas à mão e permissão para matar sem nenhuma restrição, faríamos o mesmo?



FICHA TÉCNICA
  • Título Original: Safari
  • Direção: Ulrich Seidl
  • RoteiroUlrich Seidl, Veronica Franz
  • Duração: 90 minutos
  • Ano: 2016
  • Lançamento comercial no Brasil: 14/06/2018

RESUMO DO FILME
Ricos turista austríacos e alemães em férias participam de um safári na África em busca de caça, troféus e diversão sem nenhuma pena ou remorso.

          COTAÇÃO
           ✪✪✪✪


Veja aqui o trailer oficial de Safári (legendado - HD):



Publicado no LinkedIn e no AdoroCinema em 13/06/2018.

terça-feira, 5 de junho de 2018

Série Especial | Filmes de Futebol Para Ver Durante a Copa do Mundo 4: A Copa (Butão - 1999)


Em um mosteiro budista na Índia, onde vivem monges tibetanos refugiados, um pequeno noviço fanático por futebol convence seus colegas a alugarem uma televisão para assistirem a final da Copa do Mundo de 1998.
Por esta ninguém esperava: um filme vindo do Butão, pequeno país asiático que, até então, nunca havia produzido uma película sequer. E surpreendeu a todo o mundo do cinema com um filme original, de qualidade, muito bem dirigido por Khyentse Norbu (que também é um Lama, isto é, um guia espiritual do Budismo tibetano), com boas atuações de seu elenco e roteiro bem estruturado com humor, mas sem esquecer a crítica social e política (a invasão do Tibete pela China). A Copa foi, merecidamente, um grande sucesso e, como recompensa, foi indicado para o Prêmio do Cinema Europeu de Melhor Filme Estrangeiro.

A Seguir: Todos os Corações do Mundo
Anterior: O Milagre de Berna

Veja aqui o trailer de A Copa (narrado e legendado em inglês):



Publicado no LinkedIn em 05/06/2018.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Casal Obama assina com a Netflix!


A Netflix, canal streaming de filmes e séries, anunciou oficialmente que assinou contrato com a Higher Ground Productions, produtora de filmes de propriedade do ex-presidente dos EUA, Barak Obama, e de sua esposa, a ex-primeira-dama Michele Obama

Em nota oficial, a Netflix explicou o acordo:

"O presidente Barak Obama e Michele Obama entraram num acordo plurianual para produzir filmes e séries para a Netflix, incluindo potencialmente séries com argumentos, séries sem argumentos, séries documentais, documentários ou reportagens".

Barak Obama, por sua vez, disse:

"Uma das simples satisfações durante nosso tempo no serviço público passou pela possibilidade de conhecer muita gente fascinante de diversas áreas e poder ajudá-las a partilharas respectivas experiências com uma maior audiência. É por isso que eu e a Michele estamos tão entusiasmados com esta parceria com a Netflix".

Os termos do contrato entre o casal Obama e a Netflix não foram revelados, mas se levarmos em consideração que a editora Penguin Random House pagou a bagatela de U$ 65 milhões para publicar as memórias dos Obamas, pode-se imaginar o quanto irão faturar com a Netflix.

E vem a pergunta que não quer calar: Será que Barak e Michele Obama vão aparecer em uma dessas produções? Quem viver, verá...

Veja aqui a notícia do acordo entre Netflix, Barak Obama e Michele Obama no canal de notícia Fox News (legendas em inglês - HD):


Publicado no LinkedIn em 04/06/2018.

domingo, 3 de junho de 2018

Série Especial | Filmes de Futebol Para Ver Durante a Copa do Mundo 3: O Milagre de Berna (Alemanha - 2003)



Alemanha, 1954. Nove anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, o país está dividido e em reconstrução. Esse também é o ano da Copa do Mundo de Futebol, a ser realizada na Suíça. O pequeno Matthias Lubanski (Louis Klamroth) vive com sua família na cidade industrial de Essen e, como todo menino de sua idade, ama o futebol. Ele é amigo do futebolista Helmut Rahn (Sacha Gopel, de Aceleração Máxima), que foi convocado pelo técnico da seleção alemã, Josef “Sepp” Herberger (Peter Franke, de Prisioneiro do Amor) para disputar o campeonato mundial. A grande favorita para conquistar o título é a seleção da Hungria. Nesse meio tempo, o pai de Matthias, Richard (Peter Lohmeyer, de A Jovem Rainha), um ex-soldado que ficou muitos anos como prisioneiro de guerra na URSS, retorna para casa, mas tem muitas dificuldades de readaptação à vida civil. Paralelamente, Paul Ackermann (Lucas Gregorowicz, da minissérie Os Filhos da Guerra), um jornalista esportivo recém-casado com Annete (Katharina Wackernagel, de O Grupo Baader Meinhoff), é forçado a adiar sua lua-de-mel para fazer a cobertura da Copa. Annete, que nunca foi entusiasta de futebol, decide ir com ele.
Após viver o pesadelo nazista, os alemães tinham que reconstruir mais do que uma nação arrasada pela guerra, tinham também que reconstruir seu orgulho e amor-próprio. Embora já estivessem em plena recuperação econômica, foi a épica vitória na Copa do Mundo sobre os Magiares Mágicos (alcunha da seleção húngara, uma equipe que, além de ter sido campeã olímpica em 1952, não perdia uma partida há quatro anos e meio e que, na primeira fase da Copa, havia vencido a mesma Alemanha por 8x3!) que trouxe de volta esses sentimentos ao país, mostrando que não havia nada de errado em ser alemão e amar a Alemanha - mesmo estando separada em um lado capitalista e outro comunista - e foi também o pontapé inicial ao período do país conhecido como “Milagre Econômico”.
O diretor Sönke Wortmann (de A Papisa Joana) reproduziu com precisão esse momento decisivo da história alemã mostrando tanto o reerguimento das cidades (que inclui o surgimento de usinas nucleares) quanto do povo com a aparição de líderes muito diferentes dos nazistas como o capitão da seleção, Fritz Walter (interpretado por Knut Hartwigem sua estreia no cinema), que comandava pelo exemplo ao invés da força. As cenas de jogo são muito bem filmadas e bastante emocionantes, provavelmente, as melhores do tipo já feitas pelo cinema.
O Milagre de Berna conquistou Deutscher Filmpreis (principal premiação de cinema da Alemanha) de Filme Alemão do Ano, entre outros prêmios, mostrou que o milagre do futebol também pode ser o milagre da vida.

O Milagre de Berna foi dedicado a Helmut Rahn, que faleceu dois meses antes da estréia.


A seguir: A Copa

Anterior: Mundialito



Veja aqui o trailer de O Milagre de Berna (original em alemão):



Publicado no LinkedIn em 04/06/2018.

sábado, 2 de junho de 2018

The Cleaners | Documentário alemão com produtores brasileiros reflete sobra a limpeza digital na internet


Vocês sabiam, caros amigos e amigas de Panorama do Cinema, que, a cada minuto são carregadas 500 horas de vídeo no YouTube,  450.000 tweets são escritos no Twitter e 2,5 milhões de posts são publicados no Facebook? E isso falando apenas dos gigantes da internet

Há informações de todos os tipos na rede mundial de computadores, o que inclui conteúdos violentos, racistas, de ódio r pornográficos, considerados anti-éticos. Quem faz a chamada limpeza digital desse tipo de dados na internet é o que mostra o documentário alemão de língua inglesa The Cleaners (literalmente, Os limpadores).

Dirigido a quatro mãos pelos estreantes Hans Block e Moritz Riesewieck, The Cleaners mostra o cotidiano dessas pessoas que trabalham nessa indústria oculta (a maioria dessas firmas tem sede nas Filipinas) em uma relação indireta com Facebook, Twitter e YouTube e que decidem, em questão de segundos, o que fica e o que não fica na internet.

Esta situação levanta vários questionamentos e reflexões sobre quais são os critérios utilizados nessa tarefa e quais são os possíveis impactos em nossa sociedade. Segundo Moritz Riesewieck:

"Este público virtual não está organizado de forma democrática - quem ou o que pode ter voz online não é decidido por uma maioria, não é decidido por um parlamento ou uma instituição como no mundo analógico e democrático. É decidido por um pequeno círculo de pessoas em Sillicon Valley que deixa nas mãos de jovens filipinos a responsabilidade de fazer esse controle".

The Cleaners teve sua Première mundial no prestigioso Festival de Sundance, dedicado ao cinema independente, recebeu boas críticas e ainda foi indicado ao prêmio do júri para documentários; e, no Festival de Tessalônica (Grécia), foi indicado ao prêmio Anistia Internacional, voltado aos direitos humanos.

Além da Alemanha, The Cleaners tem co-produção da Holanda, Itália, EUA e Brasil - por meio dos produtores Fernando Dias (Cantoras do Brasil) e Maurício Souza Dias (Doutores da Alegria). O documentário já está em exibição nos cinemas da Alemanha e Holanda e com previsão para estréia nos EUA e Canadá ainda este mês.

The Cleaners ainda não tem previsão para estréia no Brasil. 


Veja aqui o trailer oficial de The Cleaners (original em inglês com legendas em alemão - HD):


Publicado no LinkedIn em 02/06/2018.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Série Especial | Filmes de Futebol Para Ver Durante a Copa do Mundo 2: Mundialito (Uruguai - 2010)


Em 1980, o então presidente da FIFA, o brasileiro de ascendência belga João Havelange (1916-2016), decidiu criar um torneio oficial comemorativo dos 50 anos da Copa do Mundo. A sede escolhida foi o país onde se realizou o primeiro campeonato mundial de futebol, o Uruguai, que também foi o primeiro campeão mundial vencendo na final seu arquirival, a Argentina, por 4x2 e levando o público presente no Estádio Centenário (construído especialmente para essa competição) ao delírio.

A competição reuniu cinco dos seis países campeões mundiais até então: o anfitrião Uruguai, a Argentina, o Brasil, a Itália, e a Alemanha. A Inglaterra, também campeã mundial, declinou do convite e foi substituída pela Holanda, vice-campeã mundial nas Copas do Mundo de 1974 e 1978. 

A competição foi batizada de Copa de Ouro, mas passou para a história pelo nome criado pela população local: Mundialito. Com uma grande atuação, o Uruguai venceu o Brasil na final por 2x1, conquistou a taça e, mais uma vez, levou seu povo ao delírio.

Em 2010, como parte das comemorações dos 30 anos dessa grande conquista, foi lançado nas salas de cinemas uruguaias o documentário Mundialito, com direção de Sebastián Bednarik (Maracaná). 

Mundialito não se concentra apenas no aspecto esportivo, também trata dos aspectos sociais e políticos da época. Assim como os outros países sul-americanos (com exceção da Venezuela), o Uruguai era governado por uma ditadura militar que, como é de praxe nesse tipo de governo, prendia, torturava, matava e/ou fazia desaparecer opositores do regime.

Querendo dar um aspecto legal - ainda que com tom de farsa - à ditadura, os militares queriam usar o Mundialito para propaganda própria e para um plebiscito que seria realizado logo após a competição para eternizá-los no poder. 

A grande imprensa local, que apoiava os "milicos" (o affair da chamada "grande imprensa"com movimentos reacionários e/ou de extrema-direita não é de hoje...), incentivava a população a votar sim para dar continuidade ao governo fardado. Porém, o tiro saiu pela culatra. 

Nos estádios, os espectadores, que não caíram na conversa dos ditadores nem da mídia e estavam sedentos por um governo democrático, gritavam a plenos pulmões "Queremos votar", "Abaixo a ditadura" e outras palavras de ordem. No plebiscito o NÃO teve uma vitória esmagadora.

Mundialito mostra, além de imagens daquele tempo, entrevista com jogadores, historiadores e personalidades. Dentre as entrevistas, três se destacam: a do ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica, de Havelange (que demonstra a truculência que o tornou famoso), e a do ex-futebolista brasileiro Sócrates, que fala da alienação política dos futebolistas em geral.


A seguir: O Milagre de Berna
Anterior: Ruth


Veja aqui o trailer de Mundialito (original em espanhol com legendas em inglês):


Publicado no LinkedIn em 01/06/2018.