Após o final da
Segunda Guerra Mundial, houve uma espécie de “invasão” cultural do ocidente –
especialmente dos EUA – no Japão. Hábitos, costumes, moda, filmes e histórias
em quadrinhos (HQs), principalmente de super-heróis como Superman e Capitão
América, representantes de uma das duas superpotências que surgiram após o embate
(a outra era a União Soviética) e que jogou bombas atômicas sobre as cidades de
Hiroshima e Nagasaki, aportaram na nação do sol nascente.
Em plena reconstrução
da destruição causada pela guerra, as produtoras japonesas de filmes para o
cinema e a televisão decidiram criar seus próprios heróis que simbolizassem seu
país. Afinal, apesar da derrota sofrida no conflito, ainda eram muitos aqueles
que sentiam orgulho do Japão e de serem japoneses.
Foi a partir da
década de 1950 que surgiram os tokusatsu (特撮, no original em japonês) que é a abreviatura da
expressão tokushu satsuei (特殊撮影), que significa, “filme de efeitos especiais”. Esses
filmes se caracterizavam por serem produções baratas e espalhafatosas, mas que
faziam sucesso com o público e rendiam bem. Em 1954, surgiu o primeiro tokusatsu de sucesso: Godzilla, (ゴジラ - Gojira, que é o seu nome original na
pronúncia em japonês), um monstro surgido de radiação atômica (uma crítica,
ainda que indireta, aos EUA) que ora era vilão, ora era herói. Esses filmes
eram, em grande parte, produzidos pelos estúdios Toho (東宝) e/ou Toei (東映),
especializados no gênero.
Das telas grandes os tokusatsus passaram para as telas
pequenas. Devido ao boom da televisão ocorrido no Japão e no resto do mundo,
foi um período de grande expansão de programas e aumento de popularidade para
os tokusatsus, que cresceu ainda mais
com o surgimento da TV em cores. Foi nessa época que um ex-funcionário da Toho,
especialista em efeitos especiais (trabalhou, inclusive, nos filmes de
Godzilla), chamado Eiji Tsuburaya, decidiu
apostar nesse então novo mercado e fundou o seu próprio estúdio.
Seu primeiro trabalho
como produtor foi uma série, lançada em 1965, chamada Ultra Q. Inspirada na série estadunidense Além da Imaginação (The
Twilight Zone), Ultra Q exibia episódios com histórias fantásticas, seus
personagens envolvidos em fenômenos sobrenaturais e com grande presença de
monstros – bem ao gosto japonês. No ano seguinte, Tsuburaya, criou uma nova
série com um novo herói e nem imaginava o que estava por vir...
O primeiro episódio
de Ultraman (ウルトラマン - Urutoraman na pronúncia original em
japonês) foi ao ar em 17 de julho de 1966, sendo o segundo programa transmitido
em cores pela televisão japonesa. A série contava a história de Ultraman, um guerreiro alienígena
gigante do Planeta da Luz, localizado na Nebulosa M-78, a dois milhões de
anos-luz da Terra e que combatia o mal.
Ultraman
perseguia em sua
nave o cruel monstro Bemlar quando, acidentalmente, chocou-se com a nave de
Shin Hayata (vivido pelo ator Susumu
Kurobe, de O Que Há, Tigresa?), tenente da Patrulha Científica, uma
polícia aeroespacial que enfrentava extraterrestres hostis. Hayata não resistiu
aos graves ferimentos e morreu. Sentindo-se responsável pelo ocorrido, Ultraman fundiu a sua energia vital com
a de Hayata e o trouxe de volta à vida. Ultraman
presenteou Hayata com a Cápsula Beta, artefato que transformava o oficial
no guerreiro gigante e deu-lhe poderes para que pudesse combater os monstros
que tentavam destruir a Terra.
A figura de Ultraman era mesmo impressionante:
tinha 40 metros de altura (maior que King
Kong!), pesava 30.000 toneladas (mais pesado também!), podia voar a uma
velocidade Mach 5 (supersônica), correr a uma velocidade de 450 km/h, nadar a
uma velocidade de 370 km/h e saltar a uma distância de 800 metros. Além de ser
um exímio lutador, Ultraman também
tinha grandes poderes, sendo que o mais conhecido é o Spacium Ray, um raio de energia que é emitido quando o herói cruza
o braço esquerdo com o direito.
Embora fosse forte e poderoso
Ultraman tinha um ponto fraco: por
ser de outro planeta, seus poderes e força tinham uma duração limitada na
Terra. Quando estavam prestes a se esgotar, o marcador de energia em seu peito
começava a piscar e, se não derrotasse o seu inimigo em tempo hábil, cairia no
chão e não se levantaria mais. Para recarregar as suas energias, Ultraman voava até ficar bem próximo ao
sol.
Ultraman,
com seus
cenários construídos em papelão, monstros feitos de borracha, os personagens notando que essas criaturas “estão indo para Tóquio”, onde se dava
o combate mortal entre herói e vilões, foi um sucesso absoluto e, no rastro
desse sucesso, Tsuburaya criou no ano seguinte uma nova série com uma premissa
semelhante: Ultraseven (ウルトラセブン - Urutorasebun na pronúncia japonesa), um guerreiro-irmão
de Ultraman.
Esq. para a dir.: Ultraseven, Ultraman Hayata, Ultraman Tiga
Em 1971, é lançada uma
nova série: O Regresso de Ultraman (帰ってきたウルトラマン - Kaettekita
Urutoraman). A
série criada pelo filho de Tsuburaya, Hajime (que assumiu os negócios após o
falecimento do pai no ano anterior), conta os eventos que ocorreram quatro anos
depois de Ultraseven deixar a Terra e cinco anos após Ultraman chegar ao nosso planeta. De modo misterioso, dois monstros
gigantes chegaram à Tóquio e começaram a lutar entre si. O jovem piloto de
carros de corrida, Hideki Go (interpretado pelo ator e modelo Jiro Dan), salvou um menino e seu
cachorro de serem mortos pelos destroços da luta dos monstros, mas isso
custou-lhe a própria vida.
Seu sacrifício foi
notado por todos: sua família, amigos; a nova polícia aeroespacial, o Grupo de
Ataque aos Monstros (mais conhecido como G.A.M.) e, principalmente, por um
misterioso personagem, que era ninguém menos que o novo Ultraman. O novo Ultraman ficou
comovido pelo ato de bravura de Go e, assim como seu antecessor fez com Hayata,
ele fundiu a sua energia vital com a do
jovem e o trouxe de volta à vida. Após a sua ressurreição, Go entrou para o
G.A.M. e, ao mesmo tempo, protegia a Terra transformando-se em Ultraman.
O
Regresso de Ultraman
manteve a premissa básica da série original, mas havia algumas novidades: o
uniforme tinha um desenho ligeiramente diferente e não havia mais a Cápsula
Beta. Para transformar-se em Ultraman, Go
utilizava-se apenas de sua vontade. E, além disso, o primeiro Ultraman e Ultraseven faziam aparições
ocasionais para orientar e ajudar o bravo, mas voluntarioso, novo herói. Esse
seriado tinha altas doses de ação e é considerado até hoje, pelos fãs e
críticos, como um dos melhores e mais eletrizantes da franquia iniciada em
1966.
O sucesso dessas
séries acabou por criar um novo gênero chamado Kyodai Hiro (巨大ヒーロー - Herói
Gigante).
No Brasil, a primeira
série de Ultraman começou a ser
exibida na década de 1970 com boa aceitação (principalmente em São Paulo, onde se concentra a maior parte da colônia japonesa do país) pela extinta Rede
Tupi e competia com National Kid
(ナショナルキッド, Nashônaru Kiddo), exibida pela Rede Globo. Depois ao longo dos anos 70
e 80, foi exibida pela Rede Record, TVS
(atual SBT), Rede Bandeirantes (atual Band)
e pela também extinta Rede Manchete.
Nessa mesma época, foram exibidas também as séries de Ultraseven e O Regresso de
Ultraman por, praticamente, todas essas emissoras. Em 2001, foi exibida
pelo canal CNT. As últimas emissoras
a transmitirem a série foram a Ulbra TV
e a Rede Brasil.
Quando do início das
transmissões no Brasil, havia uma grande confusão entre as séries Ultraman e O Regresso de Ultraman como, por exemplo, quem era quem em cada
seriado e se “esse Ultraman é o
mesmo que aquele outro”. Para terminar com essa confusão, os personagens foram
renomeados para Ultraman Hayata (o
primeiro) e Ultraman Jack (o
segundo).
No ano 2000, foi
exibida pela Rede Record a série Ultraman
Tiga (ウルトラマンティガ – Urutoraman
Tiga). Criada originalmente em 1996,
mantinha a premissa básica dos seriados anteriores: um Kyodai Hiro
que se unia aos humanos para defender a Terra de monstros que queriam
destruí-la. O humano que se transformava em Ultraman Tiga era Madoka Daigo
(vivido pelo ator Hiroshi Nagano).
Assim como nas séries
anteriores, esta apresentava algumas novidades: o retorno da Cápsula Beta para
a transformação de humano em herói e a presença da cor azul no uniforme ao lado
dos tradicionais prata e vermelho. Ultraman
Tiga podia trocar as cores do uniforme. Quando mudava para a cor vermelha, ele
ficava mais forte, mas também ficava mais lento. Quando mudava para a cor azul,
ocorria o oposto: ficava mais fraco, mas, em compensação, ficava muito mais
rápido. As cores eram alteradas de acordo com o andar de cada luta.
Poster do filme Urutoraman X: Kitazo! Warera
No Urutoraman
Durante muito tempo no
Brasil, achava-se que essas eram as únicas séries de Ultraman existentes. Porém, com o advento da internet e sua
popularização a partir da década de 1990, os fãs descobriram que havia muitas
outras séries que surgiram entre Ultraman
Jack e Ultraman Tiga. Entre séries, animes (desenhos animados) e filmes de
longa metragem tanto para a TV quanto para o cinema, temos:
·
Ultraman Ace;
·
Ultraman Taro;
·
Ultraman Leo;
·
The Ultraman (anime);
·
Ultraman 80;
·
Ultraman USA (filme e anime);
·
Ultraman Great (série feita em
co-produção com a Austrália);
·
Ultraman Powered (co-produção com
os EUA);
·
Ultraman Zearth.
E, depois de Ultraman Tiga, vieram as seguintes
séries e filmes, inclusive de Ultraseven e seu filho (!), Ultraman Zero:
·
Ultraman Dyna;
·
Ultraman Gaia;
·
Ultraman Nice;
·
Ultraman Neos (lançado somente em
vídeo);
·
Ultraman Cosmos;
·
Ultraman
Cosmos: The Blue Planet (filme);
·
Ultraman
Cosmos: The Blue Planet 2 (filme);
·
Ultraman
Nexus;
·
Ultraman
The Next (filme);
·
Ultraman Max;
·
Ultraman Mebius & Ultra
Brothers;
·
Ultraman Mebius;
·
Ultraseven X;
·
Ultra Galaxy;
·
Ultra
Galaxy Mega Monster Battle: Never Ending Odissey;
·
The
Super 8 Ultra Brothers (filme);
·
Ultra
Mebius Ghosth Rebirth
·
Mega
Monster Battle: Ultra Galaxy Legends, The Movie;
·
Ultraman
Zero, The Movie: Super Decisive Battle! Bellial’s Galatic
Empire (filme);
·
Ultraman Zero vs Darkclops;
·
Ultraman Saga;
·
Ultraman Ginga;
·
Ultraman Ginga S;
·
Ultraman
Fight Victory;
·
Ultraman
X.
UFA! Tá bom ou quer
mais?
No decorrer das
séries vamos conhecendo outros personagens, tais como o Pai Ultra e a Mãe
Ultra, respectivamente o rei e a rainha do Planeta da Luz, e até um “Ultraman do mal”, chamado Belial. E,
assim como nos seriados pioneiros, os heróis anteriores faziam aparições em
cada nova série que surgia.
A série mais recente
é Ultraman X, que foi exibida nas TVs
japonesas em 2015. E é nesta série na qual é baseado o próximo de filme da
franquia: Urutoraman X: Kitazo! Warera
No Urutoraman (劇場版 ウルトラマンX きたぞ! われらのウルトラマン - ainda sem título em português).
Dirigido por Kyotaka Taguchi, o filme conta a
história de um caçador de tesouros que, acidentalmente, liberta o terrível monstro
Zaigorg e somente Ultraman X poderá detê-lo!
Urutoraman
X: Kitazo! Warera No Urutoraman
é o filme comemorativo do cinquentenário do herói e tem lançamento previsto para
o dia 12 de março, no Japão. No Brasil, ainda não há uma data prevista para o
lançamento, mas os “ultra fãs” tupiniquins mal conseguem esperar para rever o
seu Kyodai Hero favorito.
Como pudemos ver, a
ideia de Eiji Tsuburaya deu mais do que certo. E o que nós podemos dizer ao maior
– em tamanho, fama e carinho dos fãs – super-herói do Japão é: feliz
aniversário, Ultraman! E que você
continue a proteger o nosso planeta de todos os monstros cruéis que desejam
destruí-lo.
Veja aqui um teaser
de Urutoraman X: Kitazo! Warera No Urutoraman
(com legendas em inglês - HD):
Veja aqui o trailer
oficial de Urutoraman X: Kitazo! Warera
No Urutoraman (original em japonês - HD):
Publicado no LinkedIn em 05/03/2016.
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